Os sinais e a Delegada Jurema: 

Dia 21.08.07, por volta das dez horas e trinta minutos, estava em viajem pela Rodovia do Arroz, entre Joinville e Guaramirim, com o Agente “Zico” ao volante, mais a Escrivã Ariane, rumo à Jaraguá do Sul para mais uma audiência, quando percebi que havia uma ligação de Marilisa no meu celular, registrada às nove e quarenta e oito. 

Quando cheguei na Delegacia Regional a primeira coisa que observei foi que a Delegada Jurema mais uma vez não se encontrava no prédio, onde deveria, de forma regular e permanente, permanecer administrando  os serviços e seus subordinados, sem contar o atendimento ao público. Fiquei pensando: “Meu Deus, será que a Delegacia Regional não precisa mesmo existir?  Será que a Dra. Jurema é mais importante na Delegacia da Comarca de Guaramirim? Por que será que ela não permanece despachando na Delegacia Regional que parece fica em estado de ‘abandono’, nas mãos de  policiais subalternos? Será que não existe serviço de Inteligência nesta instituição? Cadê o serviço de informações da Corregedoria?”  Acabei lembrando que outro dia o Delegado/Corregedor Nilton Andrade falava ao telefone  furioso (ouvia da minha sala ao lado, pois ambos trabalhávamos com nossas portas abertas) por que Jurema Wulf  não havia respondido um expediente da Corregedoria, inclusive que já havia reiterado  várias vezes. Como a Escrivã Cleide (Corregedoria) já tinha me confidenciado  que  o Delegado Nilton estava pronto para instaurar uma sindicância contra a Delegada Regional, considerando que  já tinha que tratar de um outro assunto com ela naquela mesma semana, rapidamente entrei  em contato e depois das preliminares repassei a informação, solicitando que  ela ligasse urgente para o Delegado Nilton, que  desse um retorno, pedisse desculpas e cumprisse todas as requisições pendentes... (inclusive requisições  da Justiça local que também foram  simplesmente ignoradas).

Durante essa viagem pensei que estava novamente  me dirigindo para aquela mesma Delegacia Regional para conversar com a Delegada Jurema. Já estava prevenido que não iria encontrá-la na “DRP” e sim na Delegacia da Comarca de Guaramirim, cuja unidade policial ela fazia questão de acumular. Já tinha dito para ela designar um outro Delegado.  Não tinha dúvida que a Delegada Jurema era uma  valorosa, trabalhava muito, dedicada, porém, havia alguma coisa errada que precisaria ser corrigida. Sabia que a sua nomeação para o comando da Polícia Civil de Jaraguá do Sul era resultado de indicações políticas e de pessoas muito influentes economicamente, como os proprietários do Grupo “WEG”, tudo por conta da falta de hierarquia, uma lei orgânica... Resolvi dar todos os devidos descontos e me recolhi no meu silêncio, até porque em matéria de trabalho Dra. Jurema gozava de um alto conceito na sociedade, só que estava se tornando vulnerável, especialmente, com os membros da Justiça local (leia-se: autoridades judiciais e membros do Ministério Público, por conta de coisas simples, como responder requisições...).

O espírito presente de “Barbarella”:

Nesse trajeto lembrei também da vulnerabilidade da Delegada Marilisa à frente da Delegacia Regional de Joinville, em seguida, resolvi  retornar a sua ligação e ela atendeu dando a impressão que estava muito bem, o que me surpreendeu para um dia após o plantão “terrorífico”:

- “...Querido, estou aqui na minha cabeleireira, tenho que me cuidar, né...”.

Logo pensei, acho que na verdade é também fazer terapia. Depois, procurando  controlar minha surpresa, argumentei:

- “Mas ué, não saísses daquele teu plantão que te mata, não tinhas que estar dormindo?”

Marilisa pareceu surpresa  com minha provocação, mas com toda a sua arte e habilidade contornou a situação dando uma resposta ligeira:

- “Ah, sim, mas ainda não dormi,  vou pintar os cabelos primeiro...”. 

Aproveitei aquela sua boa energia e comentei:

- “Opa, então vais ficar bonita para gente?”

Marilisa fez uma pausa milimétrica e emendou com  voz emoldurada, um riso  caprichado e medido:

- “Claro que sim, quero ficar bem bonita...”.

Continuei meio que sem jeito:

- “Pois é, na quinta-feira a gente sai da Regional aí de Jonville e nos encontramos com eles lá no Posto Santa Rosa, em Itajaí, lembra né...!”

 Marilisa interrompeu:

- “Mas tu sabes qual é o horário? Bom, se tu não me ligares mais eu sei que vamos sair entre oito horas e oito e trinta, então eu te aguardo...”.

Pensei: “Puxa, com ela é assim, sabe dispensar na cara, querendo dar a impressão que não tem a mínima vontade de voltar a conversar, rever..., puxa,  que figura incrível, ela realmente sabe ser uma barato a ser compartilhado...”. Em seguida falamos mais alguma coisa e eu procurei abreviar a conversa porque já tinha chegado na Delegacia Regional e a nossa audiência já iria começar. 

No horário do almoço o policial “Zico” comentou   que havia conversado com  Marilisa” sobre a viagem de quinta-feira, quando ela disse que já tinha conversado comigo e que só faltava acertar o horário de saída.  “Zico” pediu para dormir na Delegacia de Videira, pois precisava muito  economizar a diária... Aproveitei para:

- “Tudo bem ‘Zico’,  mas acho que da nossa janta tu deverias participar, pois só vai estar eu, a Ariane e a Marilisa...”.

“Zico”  pensou um pouco e não disse coisa com coisa, enquanto eu pensava:

- “Báh, tudo bem que estar próximo de Marilisa é respirar a história viva,  registrar acontecimentos, perceber o “eu” e os “outros”, ouvir e registrar contos, relatos, impressões..., mas a minha vontade era fugir, ter um momento de introspecção, precisava sair um pouco de cena... Além disso, não sentia  consistência nos contatos, especialmente, com Marilisa. Sabia que minha doce amiga era uma pessoa maravilhosa, dotada de uma energia incrível, era um elo, uma porta para se conhecer melhor o universo policial, as pessoas, as coisas..., mas nossa amizade nunca iria mais passar da superfície, estávamos reféns do mundo convencional e isso nos colocava à beira da vala-comum e o que é pior, talvez nunca mais teríamos  tempo para aprofundar nossas afinidades, trocas, conhecimentos, experiências, valores, ideais, falar de poesia, música, arte, carinho, buscar uma proximidade no plano interior, encurtar distâncias nos planos astral e convencional, gerar nossa irmandade... Certamente, o principal da sua vida estaria sempre calcado na atenção aos  filhos, aos pais, à irmã, aos sobrinhos, à empregada, aos policiais mais próximos no seu ambiente de trabalho, à sua cabeleireira, na amiga advogada, no psiquiatra... e, depois, as pessoas mais distantes. Nessa escala hierárquica, os amigos pareciam nivelados, uns próximos, outros intermediários e assim por diante. Fiquei imaginando e naquele momento me senti já no ponto intermediário, já era uma grande coisa, porém, isso pertencia ao plano convencional, até porque no mundo quântico isso não existe, nada além, tampouco aquém: tudo é alma, espírito e essência, sentimentos possíveis e impossíveis. Imaginei que no dia seguinte  talvez a gente conversasse mais algumas coisas a respeito da nossa próxima viagem,  do nosso trabalho... ou que na quinta  viéssemos a nos encontrar  de manhã na Delegacia Regional de Joinville e que durante o trajeto tivéssemos tempo para conversar  sobre previsão do tempo, ouvir músicas, dar risadas, falar da vida alheia, fazer desabafos, agrados, falar sobre comida... Lembrei que nessa próxima viagem também estarão conosco as policiais  Ariane e Daniela, com isso não faltaria assunto e eu procurarei me refugiar no silêncio, torcendo para que a viagem passasse bem rápido e que tudo desse muito certo para todos nós”. 

O bom do espírito presente de Marilisa era sentir que sempre estava pronta para se fazer presente, era uma pessoa integral e dedicada, disposta a fazer o bem, jamais ferir e isso a iluminava, transformava numa estrela, talvez só faltasse seus super poderes para mudar as coisas, acabar com as maldades das pessoas no reino de “Haporema” e, num piscar de olhos, conduzir todos ao jardim do “Éden”.