...Areia ao vento: 

No dia 26.11.07, por volta das dez horas e trinta minutos, estava na Delegacia Regional de Joinville e como já era costume fui conversar com o Delegado Dirceu Silveira que me perguntou se eu tinha lido o artigo publicado no sítio do “Sintrasp” (Sindicato dos Servidores da Segurança Pública). Perguntei se era “Chernobyl” e ele disse que não era e que havia sido postado no dia anterior (dia 27.11.07). Dirceu Silveira revelou que o presidente daquela entidade deu um “pau” na Assembleia-Geral dos Delegados realizada em Chapecó, denunciando que Diretores estariam viajando com passagens pagas pelo governo, com direito a diárias... Dirceu Silveira ainda comentou que o presidente daquela entidade havia falado mal de todo mundo e que os “Delegados foram na verdade a uma festa de arromba”. Acabamos lamentando que havia errado a direção da Polícia Civil ao marcar uma reunião administrativa para tratar das promoções dos Delegados juntamente com a Assembleia-Geral da “Adpesc”. Concordamos que iria ser um grande engodo, o que era pior, a reunião da cúpula serviria para se jogar um balde de água fria nos Delegados, neutralizar qualquer reação contra o governo do Estado. Argumentei que há anos não era mais sócio da antiga “Federação Catarinense dos Policiais Civis” (posteriormente transformada em “Sintrasp”) e que o presidente estaria no cargo há quinze anos... um verdadeiro ato de “b.”, no entanto, o grande culpado por isso não era ele nem a sua diretoria, mas sim os próprios policiais que permitiram que criassem (em cima do meu trabalho) uma empresa para que eles se perpetuassem, cuidassem de seus interesses pessoais... Desabafei que sentia uma certa mágoa (não com a diretoria da entidade, já que se revelaram uns “m.”...), mas com os sócios que permitiram que essas pessoas se “adonassem” da entidade e que permaneceriam “m.”, “m.”... nas suas tetas até quando quisessem, coisa que não fiz, dando o exemplo, e convocando eleições depois de quatro anos de realizações e mandato, quando a maioria esmagadora queria a minha continuidade..., mas isso era contra as disposições estatutárias e justamente eu que fui responsável, na condição de Delegado antes rejeitado e depois respeitado e amado, teria que dar o exemplo. Porém, como cobrar condutas e reações de policiais que pareciam “desmemorizados”, imediatistas, fáceis de serem dobrados, aspirar vantagens e poder..., tratavam a instituição como areia ao vento?

Uma aura boa, o fator “Bíblia” e, afinal, tudo valeu a pena! 

Horário: dez horas e cinquenta minutos, me dirigi a “salinha” da “Corregedoria” na DRP de Joinville e encontrei Marilisa sentada, com a testemunha já qualificada pela querida Patrícia

Angélica. Marilisa trajava um vestido preto já conhecido que lhe caía muito bem deixando seu corpo delineado, além desse aspecto, parecia tranquila e procurava transmitir carinho e uma boa aura.

Por volta das dezesseis horas, durante um intervalo de audiência, enquanto aguardávamos a chegada da Escrivã Cássia, convidei Marilisa para tomarmos um cafezinho. No caminho da “salinha” da Corregedoria até a copa caminhamos bem próximos e pude notar seu jeito provocante e dava para sentir que nesses momentos ela se soltava, transpirava uma sensualidade penetrante capaz de provocar um discreto furor, deixando exalar uma energia vibrante, mas que se quedava aos meus filtros correcionais e a minha própria blindagem construída durante nossa relação, cada vez mais resistente e consistente. De qualquer maneira a energia de Marilisa nesses momentos fluía de maneira interessante, era muito bom poder sorver seus ares, compartilhar sua energia, como se fosse um diamante bruto.

Durante o nosso breve café falamos do “anteprojeto” (aquele que lhe entreguei dias antes e que previa o aumento do efetivo policial...). Marilisa me perguntou:

- “Tu sabes onde é que eu botei aquele teu projeto?”

Fiquei curioso, mas sem tempo para pensar em absolutamente em nada, enquanto ela insistia e argumentava com sinceridade:

- “Vê se advinha onde ele foi parar?”

Continuei sem resposta, mas curioso e ela, enfim, respondeu:

- “Eu coloquei dentro da Bíblia. Está dentro da Bíblia. Eu coloquei lá para ver se...”.

Antes que ela completasse acabei interrompendo:

- “Puxa vida, mas sinceramente, Marilisa, eu acho muito difícil ele ser aprovado. Quando eu trabalhei na lei complementar cinquenta e cinco, no ano de 1992, foi diferente...”.

Marilisa interrompeu:

- “Diferente?”

Continuei:

- “Sim, porque naquela época eu tinha força política. O Delegado-Geral tinha visão, era um administrador e todos os projetos que eu apresentava ele imediatamente dava respaldo”.

Marilisa interrompeu:

- “Sim, mas e agora?”

Continuei:

- “Naquela época o Delegado-Geral era um administrador que pensava grande, agora...”.

Antes que eu concluísse, Marilisa completou:

- “Sei, sei, este é político!”

Interrompi:

- “Então, este quer ser o pai de tudo, ele não quer que ninguém apareça, só ele. Quer ser candidato, tem um projeto político e ninguém pode fazer sombra. Então, se ele realmente quisesse fazer a coisa acontecer, então ele deveria procurar o Leonel Pavan que é o Vice-Governador e fazer ver a ele a importância em convencer o Governador Luiz Henrique a mandar uma mensagem para a Assembleia legislativa, entende?”

Marilisa interrompeu:

- “E tu achas que ele não vai fazer isso?”

Argumentei que só um milagre..., a seguir recomendei que não falássemos muito de nossa viagem na próxima semana para Foz do Iguaçu... Marilisa fez uma solicitação:

- “Quero que tu me ajudes a fazer as compras lá, heim?”

Concordei, reiterando:

- Bom, eu estou dizendo isso porque somos Delegados e muito visados. Imagina, depois dessa do Vereador Mussi lá de São Francisco passeando em Buenos Aires, imagina nós fazendo compras no Paraguai, dá licença, eu sei que não tem nada a ver, vamos a noite lá e no sábado de manhá, mas todo cuidado é pouco, viu?”

Marilisa concordou e eu completei:

- “Bom, se eu pudesse achar um substituto para ir no meu lugar, nem iria. Sabe como é, não estou com muita vontade...”.

Marilisa me interrompeu:

- “Ah, não, tu vais! Se tu não fores não vai ter graça...”.

Em silêncio, levando em conta a nobreza das suas palavras e do seu gesto, concordei.

Por volta das dezesseis horas e quarenta minutos, após o encerramento da audiência de ouvida da Escrivã Cássia, Marilisa comentou que no dia seguinte à tarde não poderia participar da audiência de ouvida do Delegado Marcucci, pois teria que ir se arrumar para a festa de formatura de seu filho (segundo grau). Brinquei:

- “Puxa, então vai ter vestido novo?”

Marilisa sorriu dizendo que teria que se preparar...

Por volta das dezessete horas e trinta minutos, mandei um torpedo para Marilisa com uma única palavra: “Bonita.”. Era uma forma de agradecer seu carinho quando disse que colocou meu “projeto” dentro da sua Bíblia e, também, quando comentou que se eu não fosse viajar na semana que vem para Foz do Iguaçu a viagem não teria graça... (foram frases muito significativas, e com um peso muito real que dava o tom da nossa balada: tudo valeu a pena ser vivido...!). 

Às dezessete e trinta e seis minutos recebi o retorno, com a seguinte mensagem: “Obrigada meu querido bjs”. Pensei: “Bom, parece que além dela dar retornos poéticos, agora consegue lembrar de agradecer meu carinho, acho que agora já está chegando mesmo a hora de me afastar e deixá-la voar sozinha..., “mas isso seria possível?”, pensei.