Absolutamente nada!

No dia 12.11.07, por volta das dezenove horas e trinta minutos, estava no Hotel Planalto localizado no centro da cidade de Canoinhas, em cujo meu quarto realizava pesquisas, digitava textos quando lembrei de olhar o celular para ver se havia alguma mensagem da dileta Marilisa. Para a minha não surpresa não havia nada, nem um retorno sequer, um agradecimento, um aceno, um “docinho”, um “oi” ou “alô”, uma “conversa fiada”, um “diz-que-à-toa”... nada, absolutamente nada! Marilisa nessas circunstâncias fazia jus às primeiras sílabas de seu nome “Má”. Era verdade que na linguagem vulgar estava dando “mole” para a “amigaça” ao me revelar um Corregedor  receptivo demais, um amigo “fácil” de acessar, um ser comum de conviver... Naquela minha vida de “talento” o jeito era transitar no seu “mundinho” com a mesma simplicidade, até porque sempre a tive minha “escolhida” em muito boa conta, sem contar a energia forte que me passava, coisa que poucos conseguiam... Não sei se por conta da dimensão que conquistou como protagonista de uma epopeia histórica ou se pela carga de sentimentos que permiti que despertasse em mim como profissional e, principalmente, seu amigo fiel. O fato era que depois dos “setes”, o momento se revelava como numa fase derradeira que parecia mostrar a chegada de seu desate, a começar pelo meu distanciamento e morte prenunciada de forma unilateral, porque assim impunham-se os fatos, assim se cumpriam os desígnios dos “setes” e dos “deuses”.   

Um jantar com Patrícia Angélica:

Já por volta das vinte e uma horas, juntamente com Patrícia Angélica, fui jantar no Restaurante do Hotel Planalto (“Zico” optou em ficar hospedado no Hotel Guarani/Canoinhas. Durante o curso do jantar disse algumas verdades para Patrícia Angélica. Tudo começou quando Patrícia Angélica relatou que na inauguração do Shopping Center de Balneário Camboriú, quando ela foi acompanhar seu namorado (Renato),  encontraram o Vice-Governador Leonel Pavan acompanhado do Delegado-Geral Maurício Eskudlark e do Delegado Regional Ademir Serafim. Patrícia comentou que a certa altura teve um rápido desentendimento com seu namorado que ficou com ciúmes porque Leonel Pavan teria conversado com ela...  Nesse momento interrompi sua narrativa  e argumentei que algumas vezes o Investigador “Zico” conversou comigo dizendo que ela tinha mania de dizer que todos os Delegados estavam a fim dela... Patrícia Angélica pareceu que ficou sentida com minhas palavras e chegou a comentar:

- “Cruzes, doutor, então ele acha que eu sou... Outro dia eu liguei para casa dele e conversei com a esposa dele, olha, como ela me atendeu mal, bateu o telefone na minha cara...”.

Argumentei:

- “Patrícia, eu estou te contando isso porque na verdade a tua maneira de ser às vezes pode ser mal interpretada. Então, talvez, por isso que o ‘Renato’ pode ter ficado chateado, entende?”

Patrícia Angélica acabou relatando que as mulheres de Minas Gerais eram diferentes das do sul do Brasil, porque lá elas eram mais dadas, pareciam mais ‘frescas’...  No curso da conversa fiz outras revelações bombásticas para Patrícia Angélica, isto é, comentei que “Zico” chegou a dizer que ficou muito mal aquela sua viagem para Minas, tendo retornado uma semana depois de ter concluído suas férias e que a história de ter contraído “dengue” não teria passado de uma mentirinha e que em razão disso, “Zico” afirmou que ela estava queimando seu filme na “Corregedoria” e que a qualquer hora corria o risco de ser mandada embora...  Depois, relatei que algumas vezes “Zico” havia comentado que não queria mais saber de fazer refeições na sua companhia porque ela falava muito alto, dando a impressão que queria chamar a atenção dos “homens” que estavam sentados próximos e que por esse seu comportamento era uma escandalosa, chegando a passar vergonha...  Patrícia Angélica pareceu ter ficado bastante sentida com “Zico” a ponto de dizer que ele também havia feito esse comentários com a Inspetora “Daniela” e Ariane... Concordei que “Daniela” parecia ser uma pessoa geniosa e difícil de se lidar... No final da nossa conversa, pedi para Patrícia tomar cuidado e evitar de colocar “Zico” nas viagens porque, conforme já dizia Napoleão Bonaparte, “quem serve para bajular também serve para caluniar...”.  Aproveitei para comentar que “Zico” já aprontou algumas comigo e citei alguns exemplos: numa viagem a Chapecó, pedi que “Zico” fosse até o Hotel Cometa verificar quanto era a diária, sendo que o mesmo queria que fôssemos dormir no Hotel Soprana. “Zico” foi até a recepção do Hotel Cometa e nós ficamos aguardando no carro. Quando ele retornou disse que não tinha vaga no Hotel... Desconfiei e fui pessoalmente até a recepção e verifiquei que tinha vaga sim, e que ele tinha mentido...; numa outra viagem a Joaçaba repedi a dose e pedi que “Zico” fosse até a recepção do Hotel Jaraguá e verificasse quanto era a diária. “Zico” retornou dizendo que era cem reais por pessoa e acabamos indo para o Hotel Linck, porque a diária era bem mais barata. Na semana anterior me hospedei no Hotel Jaraguá e a diária que paguei foi de setenta e três reais...  Argumentei que se duvidasse do que eu estava lhe dizendo que eu chamaria “Zico” a nossa presença e que relataria tudo que tinha acabado de lhe dizer, que faria ele confirmar tudo, entretanto, não poderia mantê-la mais como minha secretária... Conclui, dizendo para ela fazer uma autocrítica porque sendo minha secretária..., recomendando que daquele momento em diante que deixasse “Zico” de fora das nossas viagens, porém, que procurasse ter classe para que ele achasse tudo normal e que não se sentisse melindrado porque no final das contas tinha pena dele em razão daquela sua maneira de ser e viver, especialmente, porque vivia acusando os Delegados de serem culpados pelas suas frustrações e, também, por atacar seus próprios colegas...  Patrícia Angélica chegou a mencionar que “Zico” outro dia estava criticando o Delegado Gentil João Ramos e a Escrivã Margarete Jansen porque muitas vezes viajavam mesmo tendo conhecimento que a ouvida de testemunhas foram canceladas na última hora, só não precisarem... Comentei com Patrícia Angélica que aquilo não nos dizia respeito e que daqui para frente a ordem era a gente se afastar de “Zico”.

Marlíssima e um encontro com a Corregedora-Geral da Polícia do Paraná (Delegada Shânia): 

Por volta da meia-noite percebi que não havia recebido qualquer sinal de Marilisa, apesar da saudade, da vontade de receber um retorno, um sinal amigo... e ficou aquela sensação de afastamento, algo que teria que aprender a conviver, em especial com pessoas que me eram muito especiais, especialíssimas..., tais como a “Nadíssima da  Marilíssima Santíssima”.

Dia 13.11.07, horário: por volta das dezesseis horas e trinta minutos, estava chegando na Corregedoria-Geral da Polícia Civil, na cidade de Curitiba – PR, e recebi uma ligação de Marilisa avisando que tinha recebido um fax da Escrivã Ariane sobre a viagem da última semana, a fim de que fossem assinados os documentos relativos à viagem da comissão processante. Estava junto com o Advogado Jonathan de Canoinhas (amigo do Juiz João Marcos Buch de Joinville), em cujas circunstâncias estava atrasado para uma audiência, no meio de um engarrafamento, razão porque não pude lhe dar muita atenção, mas fiquei feliz com a sua ligação. Marilisa foi doce, relatou que tinha recebido os documentos e queria saber como faria para nos entregar. Argumentei que estava em Curitiba... e que depois a gente conversaria. Ela pediu então que passássemos na sua residência à noite. Concordei.

Por volta das dezenove horas fui apresentado à Corregedora-Geral da Polícia Civil do Paraná (depois da audiência) e para o Corregedor-Geral Adjunto (Delegados Shânia e Luciano). O advogado Jonathan me acompanhou e fiquei alguns instantes conversando com os dois “Corregedores-Gerais”. “Shania (acho que era assim que se pronunciava...) estava com o pé fraturado devido a um acidente e fez algumas perguntas sobre a nossa Polícia Civil de Santa Catarina. Como resumo da ópera, fiz duas recomendações:

- “...Bom, gente, se algum dia algum governo ou político propuser a vocês extinguir a ‘Corregedoria-Geral da Polícia Civil’ para criar uma ‘Corregedoria-Geral Unificada’ na Segurança Pública, não aceitem, pelo amor de Deus, resistam, mas resistam mesmo, sem tréguas... Ah, outra coisa, também se um dia propuserem aos Delegados receberem horas extras, por favor, rejeitem, mas rejeitem mesmo com todas as forças porque é veneno, olha só como é que está a nossa situação salarial em Santa Catarina? Aqui um Delegado inicial de carreira ganha igual a um Delegado como eu com trinta anos de serviço... Os ‘iluminados’ lá em Santa Catarina que ‘boloram’ esse esquema de pagamento de horas extras para Delegados hoje se escondem... A nossa luta lá agora é criar um órgão independente. O nosso grande desafio hoje é criarmos um órgão como uma ‘Procuradoria-Geral de Polícia’, subordinado diretamente ao Governador do Estado. Também, outra luta é criarmos o segundo grau na carreira de Delegado de Polícia, imaginem, os Promotores acabam Procuradores, os Juízes, Desembargadores, e nós? Então, a proposta é essa, se tivermos êxito, então levaremos isso para outros Estados e aí, quem sabe, num futuro, uma ‘Pec’ Federal para alterar a Constituição e participarmos do ‘quinto constitucional’ nos Tribunais...”. 

Depois dessas minhas considerações a Corregedora Shânia quis saber quem eu era, que cargo eu ocupava na Polícia Civil em Santa Catarina... Fiquei meio sem o que dizer, pego de surpresa com a aquela curiosidade, talvez, motivada pelo tamanho da minha aparente “ambição” institucional. Respondi que hoje era apenas uma ‘luz se apagando’, uma vela fraquinha no seu final...