O Senhor Álvaro (recepcionista do Hotel Windsor):

Data: 18.09.08. Horário: 11:40h. Era uma quinta-feira ensolarada, já havia descansado não mais do que duas horas enquanto que Marilisa e Dilson saíram desde cedo às compras na Rua Vinte e Cinco de Março. E como nada deles, retornei para meu quarto (Hotel Windsor – SP), arrumei minhas coisas e, antes de fechar a conta do hotel a qual havia recém ingressado, passei na recepção pedi ao Senhor Álvaro um envelope onde coloquei a nota fiscal comprovando as minhas despesas antecipadamente, mais cem reais em moeda corrente e um bilhete com os seguintes dizeres: “Dílson, tive que antecipar meu retorno, pois na sexta tenho que estar em Joinville. R$ 100,00 para combustível. Deixei no interior do carro chaves e meu MP4. Divirtam-se”.

Lágrimas 'de bordo': 

A seguir chamei um táxi na esquina do próprio hotel e fui direto para o terminal de ônibus do “Tietê” onde peguei o primeiro carro com destino à Curitiba (Itapemirim/quinze horas). Durante a viagem me sentia liberto e com a certeza de que havia feito a coisa certa. Aproveitei para refletir enquanto na televisão de bordo passava uma película triste que no final me fez derramar algumas lágrimas... Sim, todas elas represadas em razão de muitos quês, porquês, minhas frustrações, buscas altruístas díspares, ideais incompreendidos que permeavam territórios tórridos e caóticos dentro e fora de mim, a necessidade de me recolher para rever crenças, valores e princípios existenciais, tudo bem guardado numa "valize"... O filme era sobre a história de um rapaz rebelde cheio de amigos que se apaixonou por uma jovem mulher doutra tribo (religiosa/filha de pastor) que desconhecia estar com leucemia... Ela morreu, mas antes disso conseguiu mudar a vida do rapaz para sempre, entretanto, após o casamento dos dois, ainda de se sua passagem, viu operar um milagre: a do amor capaz de construir e mudar a vida das pessoas. Achei que dessa experiência cinematográfica eu também mudei, e para melhor. Percebi que deveria valorizar mais a vida interior e as pessoas que verdadeiramente tinham importância em minha vida, fossem próximas ou distantes, mas que de certa forma faziam parte da minha existência. De fato, resgatei em meus pensamentos pessoas que passaram pela minha vida e que estavam bem guardadas, como brilhantes que reluziam com a força  e a pureza do sentimento mais nobre. Com isso eu conseguia fortalecer minha fé e me aproximar bem mais do nosso criador (sim, porque ele existiu desde o primeiro momento que o homem civilizado se descobriu, seja como “Javé”, seja como “El”, “Zeus”..., sedimentou-se em meu espírito e sempre existiria para iluminar a todos nós em nossas jornadas, sem importar o espaço e o tempo, apenas tendo que se considerar o grau de discernimentos, a cultura, o conhecimento de cada um de nós a bordo de nossos corpos, espíritos e almas. 

Reencontro “Dirsiano”: 

Data: 22.09.08. Horário: 08:30h. Logo que cheguei na Corregedoria da Polícia Civil encontrei Dilson que parecia estar meio “ressabiado”, “desconfiado”... Procurei apenas cumprimenta-lo no elevador, porém, logo em seguida ele veio até minha sala e parecendo meio sem jeito foi dizendo:

- “Ué, o que aconteceu? Eu só soube do seu bilhete na manhã seguinte (sexta-feira) quando fui fechar a conta. Podia ter me telefonado, podia ter me ligado...”.

Olhei para Dilson e fui economizando as palavras, emoções, apenas argumentei:

- “Foi melhor assim, vocês puderam ficar à vontade. Mas que bom que entregaram o  meu bilhete só no dia seguinte, assim vocês não precisaram se preocupar comigo, apenas não quis incomodar vocês. Também, porque achei melhor eu antecipar meu retorno porque tinha compromissos na sexta...”.

Dilson relatou que chegaram na sexta-feira à tarde, antes deixou Marilisa em Joinville, entregou meus pertences para a policial Patrícia Angélica... e, no final de nossa  breve conversa, agradeci o seu empenho e disposição durante a viagem, especialmente, por ter feito companhia para Marilisa o tempo todo.

Uma questão ética: 

Por volta das quatorze horas e trinta minutos chamei Patrícia Angélica até meu gabinete e pedi que a mesma redigisse uma comunicação interna dirigida ao Corregedor Nilton Andrade. Meu intento foi repassar a sindicância relacionada a apurar fatos envolvendo o Investigador Ronaldo Klug de Joinville, na época que atuava na extinta 4ª DP, sob direção do Delegado Zulmar Valverde, quando  Marilisa era Delegada Regional de Joinville. Pela inicial dava para perceber que tanto Zulmar como Marilisa na época não instauraram sindicância e não comunicaram o fato. A questão de fundo era que eu tinha conversado com Marilisa e dito que prosseguiria na presidência do feito, entretanto, diante das circunstâncias achei melhor pedir a minha suspeição, especialmente, porque ela tinha participado comigo de três comissões de processos disciplinares. Claro que tinha plena confiança que Nilton Andrade daria um bom encaminhamento ao mencionado feito, talvez concluísse antecipadamente pelo seu arquivamento, isso considerando se tratar de um caso simples e de fácil justificação, só que não competiria a mim propor esse deslinde.

O Delegado Alber e a ira da Presidenta Delegada Sônea?

Por volta das nove horas e trinta minutos estava na Corregedoria da Polícia Civil e o Delegado Alber veio até meu gabinete para conversar. Logo de início o visitante relatou que a Delegada Sonêa anda indignada com o que fizeram com ela na “Casa Civil do Governo”, isso porque o Secretário Ivo Carminatti lhe devolveu seus projetos... Alber, membro da diretoria da “Adpesc” (Associação dos Delegados – SC) parecendo solidário com a Delegada Sonêa, dava a impressão que queria me convencer que a “pobre” presidenta havia sido enganada e que nossos projetos salariais foram todos para o ralo. Depois do relato de Alber fiz minha observação:

- “Mas Alber, quantos anos este governo está no poder? Meu Deus, será que esse pessoal não vê que projetos a gente apresenta logo no início de governo, a pressão tem que ser desde o início...?”

Acabei relatando como foi a luta para conseguirmos isonomia salarial entre Delegados e Promotores de Justiça no governo Pedro Ivo Campos e, depois, já no governo Kleinubimg como conseguimos aprovar  projetos de leis importantes, como a de promoção (LC 98/93) e reclassificação de carreiras policiais (LC 55/92). Procurei demonstrar que logo no início do governo a luta começou, mas no Governo Luiz Henrique da Silveira que seria de oito anos estava se deixando tudo para o final. Relembrei, também, que o marido da Delegada Sonêa havia assumido a direção da Pasta da Segurança Pública já que o Deputado Ronaldo Benedet havia se desincompatibilizado para fazer campanha eleitoral no sul do Estado. Alber me interrompeu para dizer que a relação entre o Delegado Paulo Neves e o Secretário Ronaldo Benedet não era muito boa, não sabendo até quando isso iria durar. Olhei para Alber e fiquei pensando: “Ou ele é muito ingênuo ou só se faz, acho que prefiro a primeira hipótese...”.

Depois que Alber deixou minha sala fiquei pensando na assembleia geral dos Delegados de Polícia que iria ocorrer no final do mês de outubro na cidade de Balneário Camboriú, cujo evento era de responsabilidade da Delegada Sonêa, sendo que meses antes a mesma havia anunciado no site da “Adpesc” que seria um encontro “histórico” e que era para todos comparecerem. Como poderia definir a Delegada Sonêa na condição de líder classista: “ Seria uma esperta, oportunista, vivaldina, aproveitadora, habilidosa, enganadora...? Talvez, a exemplo de Alber, poderia ser uma bem intencionada, ingênua, sonhadora, iludida...ou, ainda, alguém realmente interessada em lutar por uma instituição, a defender os interesses dos policiais...? Não saberia responder, porém, tinha a convicção que nessas questões o fator tempo seria um grande aliado, só ele seria capaz de revelar segredos, descobrir  faces..., e daí sabermos qual o seu verdadeiro lugar na história, assim como ocorreu com outros presidentes...