O combativo e atuante Delegado Zulmar Valverde faria “contatos”?

No dia 25.10.2007, por volta das dezesseis horas, após concluir uma audiência de oitiva do  Delegado Zulmar Valverde na “DRP”  de Joinville, passamos a conversar descontraidamente e fiz um relato sobre  a conversa que eu e Marilisa tivemos com o Deputado Darci de Matos. Perguntei para Zulmar, na presença do Delegado José Alves (próximo a ser ouvido) se o Deputado era “crível”. Zulmar deu a impressão que hesitou um pouco antes de responder a minha indagação e me lançou uma pergunta:

- “Eu não sei o que é ‘crível’, podes me explicar?”

Respondi:

- “Crível é se ele digno de credibilidade”.

Zulmar respondeu que sim e fez um breve relato sobre a  história do parlamentar. A começar disse que Darci nasceu na região de Laranjeiras, no Paraná. Depois veio para Santa Catarina e estudou na Escola Agrícola de Araquari, em cuja cidade iniciou sua carreira política, vindo a se eleger  vereador pela primeira vez. Na sequência, veio residir na cidade de Joinville onde também se elegeu vereador e depois Deputado Estadual. Zulmar contou que Darci seria o próximo Prefeito de Joinville e que iria abrir espaços para a sua candidatura à Assembléia Legislativa pelos “Democratas”. Aproveitei para pedir a ajuda de Zulmar que se disse muito ligado ao parlamentar  para apoiar o nosso anteprojeto de criação do “Fundo de Aposentadoria dos Policiais Civis”. Zulmar comentou não sabia nada sobre nosso projeto, muito menos que a “PM” já tinha uma legislação complementar dispondo sobre o assunto. Fiz uma impressão do nosso anteprojeto e o repassei para Zulmar que se comprometeu a fazer os contatos com o deputado  para que cuidasse da tramitação da matéria na Assembléia Legislativa. Senti que Zulmar havia ficado impactado quando soube  dos nossos contatos com o Deputado Darci, especialmente, no que dizia respeito a atuação de Marilisa, demonstrando que queria saber algo mais, o que conversamos... Procurei apenas me restringir a questão do anteprojeto sobre o nosso “Fundo”. Zulmar acabou tendo que se conformar com minha resposta, mas se comprometeu a fazer os contatos.

Reencontros com os Delegados Rogério Zattar e Dirceu Silveira:

Por volta das dezoito horas, após encerrar às audiências correcionais encontrei o Delegado aposentado Rogério Zattar (residente na cidade de São Francisco do Sul), justamente no momento que se preparava para adentrar o gabinete do Delegado Dirceu Silveira. Acabamos nos encontrando e demos um tempo para conversar um pouco. Rogerinho relatou  que tinha acabado de chegar da 5ª DP/Sul de Joinville, cuja repartição estava sob direção de um Delegado novo de nome de Izaias, que veio de Curitiba. A seguir, comentou que Izaias estava contente porque teria visto uma nota na Internet (sítio da Adpesc) informando que a “Pec 549” havia sido aprovada em mais uma comissão e que seguiria para plenário. Aproveitei para externar minha opinião que o discurso da “Pec 549” apregoado pela Delegada Sonéia estava tendo o “mérito” de acender o fogo da esperança de muitos Delegados, em especial, os  incautos e mais novos, os sedentos por ouvir um canto da sereia... Lamentamos a nossa situação salarial e concluímos que naquele governo só teríamos que sobreviver. Rogério confidenciou que estava percebendo três mil reais de aposentadoria e que isso era deprimente. Nisso surgiu Dirceu Silveira que de longe percebeu nossa presença e que deveríamos estar conversando sobre algum assunto, vindo a se juntar a nós fazendo uma brincadeira: 

- “É tudo mentira! É tudo mentira do Felipe!” 

Fiz de conta que ignorei e que aquela frase carreada de ironia tivesse me surpreendido, afinal, estava ali um Dirceu Silveira “integral”. Claro que fiquei  impressionado  com aquela que seria uma momentânea “palhaçada” do amigo e Delegado Regional dentro do prédio, mas possivelmente à vista do público e do pessoal interno, já que ocorreu  em  local aberto (hall da “DRP”).  Quando Dirceu Silveira já havia se juntado a nós  procurei o inteirar sobre que estávamos conversando, ou seja, que o Delegado Izaias estava acreditando em ‘papai-noel’, “cantos líricos”..., na história da ‘Pec 549’”. Dirceu Silveira apenas sorriu e comentou:

- “O pessoal tem acreditado nisso. Puxa, e como o pessoal tem acreditado nesse discurso dessa ‘Pec’...”.

Dirceu convidou eu e Rogério para irmos para seu gabinete para tomar um cafezinho e ficarmos mais à vontade, o que veio a ocorrer. Conversamos um pouco mais e Rogério fez um relato sobre as reformas na 5ª DP/Sul de Joinville já que havia sido responsabilizado pela pintura e construção do muro.

Às dezoito horas e quinze minutos fui ao encontro do policial “Zico” e de Patrícia Angélica para pedir que dessem uma chegada até a residência da Delegada Marilisa a fim de colher sua assinatura no relatório de instrução do processo disciplinar do Delegado Gilberto Cervi e Silva. Recomendei que “Zico” entregasse o material para Marilisa e pedisse que ela lesse o documento, com atenção especial à parte conclusiva. “Zico”.

A seguir retornei ao gabinete de Dirceu Silveira para acompanhar o restante da conversa e aguardar a efetivação da diligência que havia acabado de determinar. Conversamos sobre meu pai que havia sido Delegado de São Francisco do Sul no final da década de sessenta, também, sobre bens, propriedades...

Às  dezoito horas e quarenta minutos Rogério pediu licença porque tinha dentista às vinte horas. Logo que saiu comentei com Dirceu Silveira que era lastimável ver o velho Delegado Rogerinho ter que retornar ao trabalho porque não estaria conseguindo sobreviver dignamente com sua minguada aposentadoria. Argumentei que ele havia me dito que ficou com uma aposentadoria de três mil reais por mês, o que era muito pouco para manter seu padrão de vida, ainda mais na sua velhice e de sua esposa. Dirceu duvidou, calculando que ele tenha se aposentado no mínimo com cinco mil reais. Argumentei que sim, mas que com os descontos e talvez com algum empréstimo estivesse num patamar de três mil reais líquidos. No final comentei  que a convocação dos Delegados velhinhos para retornarem ao serviço ativo e a concessão de horas extras se constituíram dois venenos poderosos para os Delegados e para engessar a própria Polícia Civil. Dirceu Silveira concordou, porém nada quis comentar, até porque as horas extras foram implantadas na sua gestão como Delegado-Geral da Polícia Civil no ano de 2003 (com o Delegado Maurício Noronha à frente da Associação dos Delegados). Fiquei pensando: “É a mais pura verdade, se doeu nele ouvir isso? Não sei, mas era tudo verdade, a mais pura verdade!”

Um ser desfigurado?

Às dezoito horas e quarenta minutos deixei o gabinete de Dirceu Silveira e fui ao encontro do policial “Zico” que já tinha retornado e o encontrei  conversando com dois novos policiais civis. Depois nos dirigimos para a viatura para irmos embora e  “Zico” e Patrícia Angélica relataram que estiveram na residência de Marilisa e ficaram impressionados com o estado em que a encontraram. “Zico” comentou:

- “Doutor, o senhor não acredita, eu nem acreditei que era ela. Estava acabada. Sinceramente, o senhor precisava ver, não parecia ela, não parecia a doutora Marilisa que a gente estava acostumado. Bom, eu entreguei o documento que o senhor me deu para que ela assinasse, mas ela não conseguiu ler nada, os olhos dela estavam de um jeito estranho... Eu deixei o documento lá e ela disse  que amanhã iria  ler com calma e entregar. Doutor, o senhor precisava ver, coitada, ela saiu do plantão lá na ‘CPP’, não tem condições, estava acabada, irreconhecível...”.

Patrícia Angélica reforçou:

- “Não parecia ela, meu Deus, parecia outra pessoa, não dava nem para reconhecer...”.

Depois de ouvir essas considerações dos policiais consternados desejei em silêncio uma melodia suave para que Marilisa pudesse se refazer, se distanciar de seus calmantes “tarja-preta”..., para que voltasse a sua normalidade, afinal, para que conseguisse quanticamente falando, sobreviver ilesa na “selva”.

“ZOO”:

Às vinte e duas horas, estava assistindo o DVD “ZOO” do U2 em minha residência em São Francisco do Sul e ao ouvir a música “In the name of love” não pude deixar de pensar em Marilisa. Era como seu eu fosse uma espécie de “stigmata”, sentindo suas dores, angústias..., uma forma capaz de prenunciar  seus passos, suas incertezas, dúvidas... E o que era pior, sentindo-me impotente para  estender a mão e a segurar próxima do um abismo, numa trajetória quase impossível de salvação... Afinal, estava ali imóvel sem poder fazer absolutamente nada, apenas orar! Lembrei das músicas que ouvi em seu nome, estabeleci um diálogo  com a “escuridão”, sem eco, sem vozes, sem poesia...,  apenas seu espírito povoando meu ideário vagante e desarmado.  Ouvindo a introdução de Mather Luter King no vídeo, acabei me sentindo pequeno, mas contava com contingências, como  no caso de “Bono” repetindo “in the name of love”, mas as orações  não conseguiam serem repassadas adiante, permaneciam presas numa espécie de “firewall” e Marilisa não seria capaz de senti-la, tampouco, transcender ao comum, muito forte e acima dos nossos mundos permeados de selvagerias.