DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE CIX):  “A ‘BALADA’ DO  DELEGADO MOACIR BERNARDINO.  DESÍGNIOS DO DELEGADO-GERAL MAURÍCIO ESKUDLARK” OU SERIAM  EFEITOS COLATERAIS OU ‘TALHADOS’?”

Por Felipe Genovez | 25/04/2019 | História

A ‘balada’ do Delegado Moacir Bernardino:

Dia 17.10.07, horário: dez horas da manhã, estava no meu gabinete na Corregedoria da Polícia Civil, quando recebi a visita do  Delegado aposentado Moacir Bernardino (convocado para prestar serviços na Delegacia-Geral). Fazia tempo que a gente não conversava e aproveitei para trocar algumas amenidades. Moacir disse que havia retornado porque realmente precisava de uma ocupação considerando que se aposentou como Delegado ainda em início de carreira, com vencimentos na faixa de sete mil reais, inclusive, estava no segundo casamento, tinha filhas novas... Moacir, deixando escapar um sorriso meio maroto, comentou:

- “Eu tenho dito e repetido lá em cima (na Delegacia-Geral) que o senhor tinha que estar lá. O seu lugar é lá em cima, não aqui, o senhor sabe que é!  Mas disseram que já conversaram com o senhor e parece que está bem aqui na Corregedoria, não quer sair daqui, é verdade?”

Respondi:

- “É verdade Moacir, é aqui que eu quero ficar permanecer até me aposentar, tenho que cumprir minha missão...”.

Moacir interrompeu:

- “Mas o seu lugar é lá, com esse conhecimento jurídico, essa experiência... “.

Interrompi:

- “Bom, eu já estive lá, mas quiseram que eu saísse...”.

Moacir interrompeu:

- “Ah, mas então, doutor, o senhor tinha que retornar, tinha que retornar até para mostrar a sua capacidade, voltar por cima...”.

Interrompi:

- “Olha só, Moacir, em noventa e cinco, quando a Lúcia Stefanovich (Delegada) assumiu a Secretaria da Segurança Pública uma das suas metas  foi  me tirar da ‘Assistência Jurídica’. Imagina, nós trabalhamos no governo do Kleinubing, formos responsáveis por  vários projetos e algumas vezes a Lúcia me encontrou ‘puta da cara’ porque eu estava ajudando àquele governo fazendo projetos. Lembra, Moacir, eu trabalhei na lei complementar cinqüenta e cinco, na noventa e oito, no Decreto quatro mil cento e noventa e seis... e isso desagradou muito o pessoal do PMDB que era oposição, estavam naquela ‘balada’ do quanto pior melhor. Então, quando a Lúcia assumiu o poder uma das primeiras coisas que ela fez foi começar a me perseguir, ela e o Lourival. Eu sei disso porque  fui nomeado Diretor da Penitenciária de Florianópolis para fugir deles. Num determinado dia estavam reunidos no gabinete da Lúcia, na Secretaria da Segurança Pública e ela recebeu um telefonema de alguém da Delegacia-Geral comunicando que eu havia sido nomeado Diretor. Imagina, segundo relato de um amigo que estava no gabinete da Lúcia ela teria olhado  para o pessoal  e disse: ‘O Genovez nos escapou! Ele foi nomeado Diretor da Penitenciária de Florianópolis’. Quem me fez esse relato foi um Delegado que era meu amigo e que foi nomeado Delegado Regional de Campos Novos e disse que ficou intrigado, não sabia de nada e ficou se perguntando por que ela estava querendo me perseguir. Depois, eu retornei para a ‘Assistência Jurídica’, na época do Moretto e num determinado dia dei um parecer lá que contrariou os interesses do Delegado ‘T.’, foi por causa de um livro que ele queria que fosse levado em conta para sua promoção para ‘Especial’. Quando o ‘T.’ assumiu a Delegacia-Geral em 2004 uma das suas  medidas  foi acabar com a minha atuação na ‘Assistência Jurídica’ e me mandar aqui para a Corregedoria. Então, Moacir, não dá para entrar nessa onda que tenho que voltar, não há segurança administrativa...”.

Moacir concordou  lamentando que esse tipo de tratamento ainda existisse  entre  Delegados. Relatei  que naquele governo do PMDB os Delegados tiveram perdas históricas e que a única saída era emplacarmos uma ‘Emenda Constitucional’ para sairmos da Segurança Pública. Expliquei a proposta de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” e Moacir solicitou que  mandasse por e-mail uma cópia do material para que ele pudesse articular, inclusive, fez questão de registrar que a idéia era muito boa. Citei que a ex-Inspetora “Jô Guedes”, depois “Escrivã da Polícia Federal” estava percebendo  salários quase que iguais ao que eu ganhava  como Delegado Especial, apesar de contabilizar  mais de trinta anos de serviço, o que era uma vergonha. Moacir me surpreendeu com seu comentário:

- “Ela é boazinha, ela merece, que bom!”

Na verdade o que eu esperava escutar era um grito de indignação, um brado retumbante, tipo: “Isso é uma vergonha, temos que combater, precisamos fazer algo...”. Mas não era nada disso, Moacir ainda elogiou Maurício Eskudlark, sem tecer maiores comentários, apenas querendo dizer que gostava muito dele, muito provavelmente responsável pelo seu retorno à atividade. Acabamos falando sobre a administração do Delegado “T.” e concordamos que foi um momento caótica na história da instituição, um dos piores momentos nas nossa história.

Efeito colateral ou seria apenas uma busca de  aproximação?

Por volta das quatorze horas estava retornando à  Corregedoria da Polícia Civil, quando recebi uma chamada no celular e para minha surpresa era o Delegado Moacir Bernardino.  Foi dizendo que recebeu uma determinação do Delegado-Geral Maurício Eskudlark para analisar documentos produzidos pelo Delegado Sergio Maus, a respeito do aumento de efetivo. Moacir comentou  que estava mandando o policial Adílio (motorista da DGPC) para me trazer o material na Corregedoria. Fiquei meio em dúvida, sem saber o que realmente estavam querendo, ou seja, se era para fazer um parecer, um anteprojeto... Moacir disse que o Delegado-Geral Maurício tinha um despacho com o Governador Luiz Henrique naquela manhã e que foi cancelado, podendo ser chamado a qualquer momento. Perguntei para quando que precisaria da minha análise e Moacir informou  que era “para ontem” e que qualquer coisa era para entrar em contato com Maurício Eskudlark. Depois de encerrar a ligação fiquei pensando que talvez aquilo tudo fosse uma forma de buscar uma aproximação comigo em razão do “barulho” que estava causando com as articulações do projeto do “Fundo de Aposentadoria para Policiais” sob os auspícios do Deputado Darci de Matos, o que pode ter trazido efeito colateral.

Moacir Bernardino estaria assumindo a “Assistência Jurídica”?

Por volta das  quinze horas o policial Adílio (motorista do Delegado-Geral) me procurou na  Corregedoria e veio direto ao meu gabinete trazendo consigo um envelope saco amarelo. Em tom de brincadeira perguntei para Adílio o que era aquilo, se estava trazendo “pepino” para eu descascar. O Comissário Adílio respondeu  também em tom de brincadeira, ao mesmo tempo que me repassava o material:

- “Doutor, quem sabe, sabe, o senhor sabe”.

Olhei para ele e pensei em fazer uma outra brincadeira, só que me contive, na verdade  pensei em ter dito: “É, esse tipo de ‘prestigiamento’ pode deixar para o pessoal lá da ‘Assistência Jurídica’”. Depois que Adílio se foi fiquei imaginando que Moacir Bernardino deveria estar assumindo a “Assistência Jurídica”, tinha perfil para ocupar essa oposição e, assim, cumprir os desígnios do “DGPC”. Lembrei a época que um assessor especial do  Delegado-Geral Lipinski e que algumas vezes esteve me visitando na “Assistência Jurídica”, se bem que na verdade era para conversar com minha eletrizante secretária “Jô Guedes” que depois, no modo reservado, reclamava dos trabalhos de universidade que tinha que fazer para a jovem esposa desse cordato quase intruso... Pensando em Eskudlark poderia talvez estar diante de um efeito colateral? Mas, tinha que levar em conta o efeito talhado para  fazer outras "vezes"...?