Desconexão ‘assintomática’ ou guinada de rumo?

Dia 16.10.07, horário: dezesseis horas e trinta minutos (aproximadamente), liguei para a Delegacia da Mulher de Joinville e (sem me identificar) fui atendido por uma policial que me avisou que o ramal estava ocupado. Fiquei aguardando na linha por uns cinco minutos e como percebi que a conversa poderia demorar, resolvi desligar o telefone. Não passados mais do que dez minutos resolvi ligar novamente e a mesma policial (reconhecendo que eu havia ligado anteriormente) comunicou que o ramal continuava ocupado. Avisei que ligaria mais tarde. Logo que desliguei o telefone liguei para o celular de Marilisa que deu uma mensagem no visor que não estava programado para receber mensagens. Resolvi aguardar mais uns dez minutos e tentei novamente o celular de Marilisa e ela me atendeu falando baixo, como se estivesse noutra linha e querendo me dispensar rapidamente:

- “Doutor eu estou numa audiência, posso ligar mais tarde?”

Respondi que sim, abreviando a conversa e mandando um beijo como de costume.  Por volta das dezoito horas Marilisa me ligou e eu finalmente pensei: “    Puxa, que telefonema demorado, estou curioso para saber com quem ela ficou conversando durante horas...”. Logo no início da conversa Marilisa foi dizendo:

- “Desculpa, doutor, eu estava numa audiência e quando o tu me ligasses os dois policiais que estavam no meu gabinete ficaram me olhando, viu?”

Interrompi para dizer:

- “Olha só, Marilisa, eu liguei duas vezes aí para a Delegacia e a policial que atendeu o telefone tentou repassar a ligação, mas o teu ramal estava ocupado direto, então estavas no telefone...”.

Marilisa me interrompeu e meio que sem jeito, deixando escapar um sorriso, foi dizendo:

- “Ah, sim, eu atendi vários telefonemas hoje à tarde, é verdade...”. 

Fiquei sem o que dizer, esperava que ela fosse aberta, sincera e dissesse algo tipo: “Ah,  falei mesmo, conversei, me ligaram liguei, tudo bem, estava tratando de campanha eleitoral, ligou um amigo, alguém da família, estava resolvendo coisas de policiais, estava com minha cabelereira...”.

Marilisa deu a impressão que procurou usar de subterfúgios, numa clara demonstração de que aquilo não me interessava, era censurado, ou se tratava de conversa reservada, logo concluí que não se tratava de doença e lembrei do nosso sonho em que ela veio até mim trajando “neopreme” cinza, sem externar quaisquer sinais de debilidade, recaídas... De qualquer maneira aquele seu procedimento veio a mostrar um tanto o nosso distanciamento e que ela estaria noutra “vibe” e que um abismo  estava nos separando, apesar da aparente normalidade suavizada muito provavelmente e bem talvez em razão da minha condição de ‘Corregedor’ e ‘Delegado Especial’.  Tanto é que a certa altura da conversa ela invocou a minha condição, dizendo:

- “Sim, como não atender o ‘Corregedor’...?”

Eu interrompi:

- “Bom, uma coisa é o ‘Corregedor’, outra coisa é o...”.

 Marilisa prosseguiu:

- ”Ah, sim, o  ‘corregedor’ a gente atende, já o ‘amigo’ a gente atende melhor...”.

Em seguida Marilisa argumentou:

- “Ah, eu tenho pensado muito no que tu me dizes. Ontem pensei naquilo que tu me dissestes...”. 

Interrompi:

- “Puxa, que bom Marilisa que tu tens pensado no que eu tenho dito, como é bom ser lembrado, afinal a gente conta com tão poucas pessoas nesta vida...”.

Marilisa interrompeu:

- “Lembro sim, lembro de tudo o que tu me dizes...”.

Procurei não aprofundar e lembrei daquelas máximas “Shakespearianas”, “Volterianas”, Ermersonianas, “Elisianas” (minha mãe)... e cheguei a pensar em lhe perguntar se ela lembrava de algumas  daquela máximas, mas achei melhor focar o assunto do momento. Meu objetivo em querer conversar com ela e fazer um breve relato sobre  a conversa que tive com a Delegada Sonêa e Marilisa foi logo aos trancos:

- “Sim, então será que eu agora vou ser perseguida?”

Marilisa em momento algum fez aquela consideração externando temor, porém, havia uma forte dose de ironia o que me fez argumentar:

- “Não é nada disso, Marilisa. É que amanhã a Sonêa pode te ligar ou conversar contigo e dizer que eu... Então, eu quero que você saiba pela minha boca que eu repassei as informações para ela a respeito da entrega do nosso projeto. Eu quero que você saiba que eu disse a ela que nós entregamos os documentos para  o Deputado Darci de Matos. O Maurício ou alguém da cúpula pode chegar ai em Joinville e conversar contigo porque tomou conhecimento desse fato e de repente você não está sabendo de nada, imagina, era um assunto reservado, só nosso, e eles podem citar só o meu nome...”.

Marilisa:

- “Não, quanto a isso podes ficar tranqüilo. Não precisas me dar satisfação de nada, por favor...”.

Insisti:

- “Claro que devo! Marilisa, te quero muito bem, não aceitaria nada que comprometesse nossa ligação..., tô o dia todo tentando conversar contigo, preocupado...”.

Marilisa interrompeu:

- “Não tem problema, podes ficar tranqüilo...”.

Insisti:

- “Marilisa, claro que tem, imagina se chega alguém aí fazendo cobranças e tu não sabes de nada, eu não me sentiria bem, assim...”.

No final da conversa Marillisa disse que já estava atrasada para pegar seu filho no curso de inglês razão porque procuramos  encerrar a ligação. No meu caso, havia um senso de dever cumprido, e depois de desligar o telefone fiquei pensando: “‘Those Eyes’ teria   algo  realmente a haver com Marilisa...? E quanto a seus olhos? Eram comuns, às vezes sem expressão, talvez não pudessem falar... Mas, a melodia sim,  ela tinha um quê de desafio ao pretender estabelecer um diálogo sem ressonância, um monólogo sem eco..., que acabava desaguando num recorrente misto de inquietude, nostalgia, melancolia..., verdadeiras fontes para se manter  com nuances tênues os nossos contatos, como uma luz de vela, uma lamparina que se exaure paulatinamente, vista na noite e ao longe, de través,  ao sabor da brisa do mar.  

Novos contatos e os Delegados Quevedo e José Antonio Peixoto:

Horário: dez horas e cinqüenta minutos, me ligou o Delegado Quevedo para dizer que não havia recebido meus arquivos por modo eletrônico.  Durante o curso da conversa Quevedo relatou  que havia conversado com o Delegado José Antonio Peixoto (Peixoto) sobre a proposta de se criar um órgão independente, vinculado diretamente ao Governador do Estado, sem citar o meu nome. Segundo Quevedo, o Delegado Peixoto teria argumentado que no ano de 2001 já haviam apresentado uma proposta nesse sentido, mas que o pessoal da PM foi contra e acabaram sabotando o projeto. Interrompi para dizer:

- “Mas Quevedo, a nossa proposta é que se crie uma ‘Procuradoria-Geral de Polícia’ por meio de ‘Emenda Constitucional’, então isso só depende dos deputados, não tem nada haver com os Oficiais da PM...”.

Quevedo deu a impressão que viu cair suas fichas e comentou:

- “Ah, é mesmo, tens razão...”.

Continuei:

- “O pessoal fica inventando essas coisas, fica opinando, só que não conhecem o assunto, não sabe como fazer, e daí fica essa enrolação...”.

No final da conversa, pedi novamente os endereços eletrônicos de Quevedo ([email protected][email protected]) e mandei não só a proposta de emenda constitucional, mas outros arquivos contendo o anteprojeto com o “fundo de garantia” e o parecer que trata de termos circunstanciados.