Um "torpedinho":

Dia 09.10.2007, no horário: quatorze e trinta, chegamos na Corregedoria para a audiência da tarde no cartório da Escrivã Ariane para dar prosseguimento processo disciplinar envolvendo o Investigador “Valdir Mechailo” (policial de Videira). Antes, fomos até meu gabinete e achei formidável que Marilisa tivesse solicitado  para usar o meu banheiro, sem demonstrar qualquer inibição, como se já fosse de casa.

Por volta das dezesseis horas, Marilisa retornou ao meu gabinete para se despedir já que teria que seguir viagem para Joinville.

Às dezoito horas mandei um torpedo para Marilisa agradecendo os bons momentos que passamos juntos, recomendando que chegasse bem ao seu destino (a mensagem: “Foi bom te rever, melhor falar de coisas urgentes p. o coração. Ah, mente ardente é bom sinal de mantra. B.”). Não criei expectativas quanto a receber respostas porque já lhe conhecia o suficiente, a começar por seu  grau  espiritual (no caso da dualidade: “sensibilidade” e “resposta” e “resposta” e “sensibilidade”) era um passo muito difícil de se atingir, pois suas “redes neurais” talvez não estivessem acostumadas  (ou comprometidas), entendendo melhor a linguagem baseada nas emoções, ocupações, experiências... com respostas fáceis, previsíveis, tipo “fast track”, ou seja, tudo na velocidade da luz, do pensamento, num piscar de olhos... Qualquer coisa que exija engenharia mental no sentido de trama, obtenção de compensações sistêmicas mais complexas envolvidas em processos de conquista, reconhecimento, valorização, merecimento... é descartado, ignorado, intuitivamente desfavorecido. O rápido as pessoas aceitavam facilmente e saiam com aquela sensação de satisfação, tipo bate-leva, entra e sai, para e corre, chega e vai embora, come e bebe... 

A chegada na Delegacia Regional de Balneário Camboriú:

Dia 11.10.07, horário: quatorze horas, chegamos na Delegacia Regional de Balneário Camboriu (juntamente com a Escrivã Ariane, o Delegado Gentil e o Investigador Zico). Marilisa já me aguardava no local. Logo que a percebi fui aos cumprimentamos sem muitas delongas e intimidade. Era que o nosso encontro foi formal demais, bem diferente do dia de ontem e aquilo era lastimável, pois não poderíamos dar continuidade a nossa conversa, as nossas idéias, trocas... A audiência fluiu normalmente com a ouvida dos Delegados André e Quevedo. Depois de concluídas as oitivas fiquei conversando com Quevedo, Gilberto Cervi, Marilisa e Gentil sobre o encontro da Associação dos Delegados e o governador na semana passada.

Seria um sonho quântico de "Oz"?

Dia 15.10.07, por volta das sete horas e quarenta minutos, estava me dirigindo para a Corregedoria e lembrei do sonho que tive de madrugada, era inconfessável, nunca tinha ocorrido antes,  foi a primeira vez que  senti como mulher meio “robótica”, no plano  virtual que parecia gente “ginoide” que se entregou cativa e apaixonadamente, com seu corpo jovem, atlético e selvagem..., exalando volúpias. No correr da fantasia o ser passou a adquirir as feições de Marilisa, dentro de um padrão aceitável, sem perder suas características andrógenas. Foi apenas um sonho, mas que surpreendeu porque nunca antes tinha imaginado que Marilisa pudesse retroceder na idade e vir a servir de inspiração  para aquele cenário, também, que viesse a  povoar meu imaginário  daquela forma tão sorrateira. “Imunizado estou”, pensei. Mais parecia um feitiço, um encantamento..., talvez motivado por nossa intensiva proximidade, o que deve ter contribuído como  gatilho para desencadear reações e premonições no campo metafísico. Sim, nos últimos tempos ela tinha estado intensa em meus pensamentos, o que resultou naqueles desejos ardentes  embalados por  um surto misto “testoronal” e de “visões espaciais remotas”, tudo isso envolvendo “desejos tão profusos da carne”.

Os "cartãozinhos" de um Delegado Regional e um momento de tortura existencial:

Por vota das oito horas e dez minutos estava na Corregedoria com um gosto amargo na boca ao mesmo tempo que me lançava mais um pensamento: “Vou ter que fazer uma ginástica medonha para agüentar trabalhar neste dia, nesta semana, a meta é sobreviver até dois mil e dez”. Na verdade o clima estava bom, mas o problema era que eu sentia que tudo estava “dominado” (não existiam projetos, novas idéias, discussões de peso institucional, inovações..., apenas eu com meus contos, minhas histórias, memórias, registros...). Lembrei que na última quinta-feira estava na Delegacia Regional de Balneário Camboriú e avistei em cima da mesa do Delegado Gilberto Cervi e Silva, dentro de uma caixinha que ficava à mostra, cartões de visita do Delegado Maurício Eskudlark com sua foto, onde constava seu nome, seguido pela designação “Deputado Estadual”. Depois da surpresa, fiquei pensando: “Por que será que  Gilberto mantém aqueles cartões visíveis em cima da sua mesa? Provavelmente era para entregar para as pessoas que procuravam a repartição e precisam resolver alguma coisa, ou então uma forma de fazer média e se manter no cargo... Também, tinha que considerar que Maurício Eskudlark –  freqüentador assíduo da Delegacia Regional – era imperativo passar a impressão para o Delegado-Geral da Polícia Civil (candidato a Deputado Estadual) que havia deixado no seu lugar  um preposto seu, um fiel escudeiro, um representante insuspeito e que era ele que mandava naquele “curral”. Pensei: “Pobre Gilberto (?!?!), pobre Polícia Civil, alguém disse que enquanto um se preocupa com migalhas, outro se preocupa com milhões, isso pra ficar na superfície...”.  Peguei dois cartõezinhos escondidos e fui até a lanchonete da Delegacia Regional, em cujo local encontrei o Investigador “Zico”  conversando com o motorista que trouxe a Delegada Marilisa. Meu objetivo era fazer uma brincadeira e em razão disso quis entregar um daqueles “cartãozinhos”  para “Zico”  recomendando que repassasse para a “doutora Marilisa” logo que ela chegasse no local. “Zico” ao perceber a foto do Delegado-Geral e candidato Maurício no cartão, não vez nenhum gesto para pegar o material, apenas esbravejou: “Não pego não, doutor, que é isso? Eu não pego essa coisa não...”. Sob o olhar atento do motorista da Delegada Marilisa procurei me controlar e simplesmente saí de fininho olhando “Zico” afundado na cadeira, estático após destilar todo o seu veneno não só contra o Dr. Maurício, mas contra mim, provavelmente porque levou a sério a minha empreitada, se revelando atingível, tangível, reacionário..., sendo incapaz de perceber, dentro de suas limitações, que aquilo foi mais  uma brincadeira,  um teste... “Zico” quando estava sozinho comigo se mostrava sensato, solícito, educado, companheiro, “amigão”, agradecido de tudo, subordinado..., porém, noutros momentos, quando estava na frente de colegas se transformava,  se revelava irascível, valente, revoltado, indignado com tudo, a começar por sua condição e,  frustrado, se tornava vítima e merecedor de misericórdia, denotava que queria apenas sobreviver e usufruir “pasto gordo”. Fiquei pensando no feriadão do último final de semana (dia da criança) e da quilometragem da viatura Renault Cénic que marcava duzentos e quarenta e três quilômetros quando chegamos na Capital. Quando deixei o prédio da Corregedoria, isso por volta da vinte horas,  nem “Zico” e nem a viatura se encontravam na garagem... Sim, era mais um final de semana que “Zico” ficava com a viatura em sua casa..., uma concessão tipo “cala-boca” e troca de informações..., com direito aquele discurso de “revolta”.  Lembrei de muitos finais de semana em que estive no prédio da Corregedoria, e a garagem estava vazia, e me perguntava: “onde estariam as viaturas?” Sim, policiais  privilegiados levavam as viaturas para casa sob diversos pretextos... Lembrei também dos policiais “S.”, “D.”, dos Corregedores “F.” e do próprio “N.” que toleravam ou faziam de conta que  não enxergavam, claro que tudo sob justificativa da necessidade dos serviços e, acima de tudo, uma troca, uma forma de controle velado dentro do caos ou da casa da "Mãe Joana".  Acabei lembrando de minha secretária “P.”, pois no mês de setembro resolvi fazer um controle das suas horas extras, anotando que nos dias três, quatro e cinco, somente trabalhou à tarde. Observei que até o dia dez de setembro ela tinha apenas trabalhado três horas extras, só que no seu relatório fez constar dezoito horas extras, quando na verdade não realizou...  Não controlei o resto do mês.  Também, lembrei que no dia vinte e seis de setembro “P.” informou que ficaria fora duas semanas de férias para viajar a Minas Gerais (ganhou passagem de ida e volta do seu namorado). Só que deixou de trabalhar dia vinte sete de setembro e fui informado que retornaria somente dia dezoito de outubro, ou seja, foram vinte dias de afastamento (seis a mais). Lembrei que no dia vinte e seis de setembro, quando ela me entregou seu relatório de horas extras, eu propositalmente, pedi que ela fizesse o meu relatório. “P.” parecia estar fora de órbita, só pensava nela, e era o momento propício para ver se ela se preocuparia um pouquinho comigo. Quando me dei por conta, já era final do expediente e “P.” já tinha ido embora, e meu relatório não deu em nada, pois tive que fazê-lo sozinho, como fazia todos os meses.  “Sim, vou ter que engolir tudo isso até terminar meu tempo e ir embora...” pensei.  “Zico” lembrou aquela máxima Bonapartista: “Quem serve para bajular serve para caluniar”. Já “P.” era um caso à parte, tinha um instinto  típico libanês e talvez precisasse de  um homem para chamar de seu “protetor”. Tanto “Zico” como “P.”  possuíam  qualidades, mas como dizia a máxima (em linhas gerais): “o homem é um produto do meio”.