O encontro com o Delegado Rodrigo Coronha:

Data: 08.09.08. Horário: 12:45h. Tinha terminado a ouvida do Delegado Rodrigo Coronha e resolvi fazer uma provocação questionando-o sobre a situação salarial dos policiais. Coronha, com segurança e parecendo auto suficiente ao externar suas posições argumentou:

- “Eu estava ali na reunião dos Delegados e o Luiz Felipe (Delegado) deu um banho de água fria no pessoal. O Luiz Felipe disse que na reunião itinerante da Associação dos Delegados de Polícia lá no sul do Estado a Sonêa avisou que aquela novidade, aquela grande notícia não era bem assim porque não existe nada de proposta para melhoria salarial...”.

Interrompi:

- “Ah, mas ela andou dizendo aí pelos quatro cantos que em outubro os Delegados vão rir à toa. Pelo menos o Akira esteve na reunião lá em Itajaí e voltou relatando ‘só alegria’, foi o que a Marilisa me disse. Eu também estive outro dia lá em Itapoá e o Rodrigo Carriço me indagou se sabia de alguma novidade porque estava todo mundo comentando o assunto... “.

Coronha me interrompeu:

- “Bom, o Luiz Felipe falou ali na reunião que não tem nada. O doutor Dirceu para mim é uma pessoa que o que ele diz é lei, não existe outra pessoa em que eu acredite tanto como no doutor Dirceu. Ele disse na reunião, depois que o Luiz Felipe fez o relato dele que é para nós não fazermos dívida, não criar expectativas nenhuma porque não tem nada mesmo, nada de concreto...”.

“DRP” Dirceu Silveira seria o pupilo-mor?

Com aquele relato de Coronha meus pensamentos se voltaram para o Delegado Regional Dirceu Silveira,  o Delegado mais próximo do Governador, como era cômodo a sua situação, como se sentia confortável ao discursar para seus subordinados novinhos, passando uma visão crítica, assumindo uma postura de conciliador e orientador, revelando sua condição de líder formal enrustido..., justamente ele que era governo e com ligação ao Governador Luiz Henrique da Silveira, seu padrinho de casamento... E o pior era que seu discurso empolgava e impressiona seus “súditos” leais. Pensei: “Será que a Marilisa estava nessa reunião? Claro que os Delegados veteranos não se sujeitariam...”

As três vias: 

Na sequência voltei minha atenções ao Delegado Coronha e relatei que havia três vias de poder na Polícia Civil, a começar pela cúpula (a quem deveria nos representar, defender, apresentar projetos...), depois os Delegados Regionais (muitos para mais e para menos parecendo isolados, desunidos, fisiologistas, demagogos, puxa-sacos, egoístas...). Coronha me interrompeu para dizer:

- “Ah, mas os Delegados Regionais são colocados politicamente, então eles ficam numa situação difícil, não podem fazer nada...”.

Interrompi:

- “É isso mesmo, os Delegados Regionais procuram políticos para serem nomeados para esses cargos, depois passam os anos administrando com o olhar para baixo, ou seja, só têm olhos para seus subordinados e para suas regiões, enquanto que ignoram o que está acimadeles, desenvolvem o sentido das habilidades, não entram confrontam com superiores, políticos, governantes, aí fica fácil, não é?”

Coronha deu a impressão que sentiu o peso de minhas palavras e a alfinetada, já que era um simpatizante fiel do Delegado Regional Dirceu Silveira, responsável pela Polícia da maior cidade do Estado e dentre seus pares a pessoa mais próxima do governador. Aproveitei para ir mais além:

- “Imagina Coronha, Joinville a maior cidade do Estado, o Delegado Regional aqui já foi Delegado-Geral, possui uma história e para que serve isso? Por trás de cada Delegado Regional existe um político que lhe dá suporte, então para que também serve isso?”

Coronha passou a externar que compreendia melhor minhas posições, em razão disso procurei avançar mais:

- “Ah, e a terceira via são as nossas lideranças classistas, mas imagina onde andam? A presidenta da Adpesc, Delegada Sonêa, é esposa do Secretário Adjunto da Segurança Pública, então todo mundo sabe que é ele quem dá as cartas...”. 

Haveria uma “Idade das Trevas” para os Delegados?

Coronha, mas com os pés no chão fez um relato sobre a situação dos Delegados de Polícia em Santa Catarina, diferente de outros Estados, como São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, porque lá eles se impõem e aqui em Santa Catarina há um medo generalizado do Ministério Público, do Judiciário...  e ninguém defendia a instituição, a começar pela categoria. A seguir, Coronha argumentou que os Delegados da sua turma, na sua grande maioria, estavam estudando para fazer concurso e sair porque não conseguiam vislumbrar um futuro melhor, chegando a citar colegas que ingressaram na magistratura, em cargos federais...  Argumentei que era daqueles Delegados que sempre lutou e quis permanecer na instituição buscando o melhor. No final da conversa Coronha parecia mais receptivo, crédulo, entusiasmado, confiando que ainda havia esperança e que deveríamos lutar por melhores dias.  Aproveitei para perguntar meu dileto interlocutor sabia como havia ficado conhecida a “Idade Média”. Coronha pensou um pouco e respondeu negativamente, depois, quando eu estava pronto com a resposta na ponta da língua percebi que ele pretendia arriscar dizer articular alguma coisa, mas eu fui mais rápido:

- “Sim, a ‘Idade das Trevas’, pois é, este governo Luiz Henrique também, para nós Delegados será sempre lembrado como o governo da ‘Idade das Trevas’, nunca em um governo os Delegados foram tão humilhados, tão ignorados, a instituição sofreu tantos retrocessos. Nunca a instituição regrediu tanto num governo e são oito anos, dá para se comparar a ‘Idade Média’”.

A seguir lembrei que por meio de pesquisas e entrevistas soube que o Governador Luiz Henrique da Silveira havia ingressado na Polícia Civil como Escrivão de Polícia na década de cinquenta e se exonerou do cargo no ano de 1966, quando foi advogar em Joinville e iniciou sua vitoriosa carreira política. Recordei a entrevista que fiz com o antigo Delegado do DOPS (Delegado “Mirandão”) que foi o superior hierárquico de Luiz Henrique, também, dos conflitos que teve com seu impetuoso subordinado ainda estudante de Direito. Pelos relatos colhidos, no final, depois de muitas perseguições e frustrações, Luiz Henrique percebeu que não teria condições de ingressar na carreira de Delegado de Polícia porque na época havia rumores de que era “comunista”, isso em pleno regime militar de exceção, o que acabou resultando na sua prisão. Certamente que a Polícia Civil perdeu um Delegado, mas Estado ganhou um político que fazia história. E me perguntei: “Afinal, Luiz Henrique guardaria mágoas do passado policial?” Soube que ele nunca quis falar sobre seu tempo como Escrivão de Polícia (quase dez anos), especialmente, atuando junto ao ‘DOPS’, depois na Delegacia Especializada de Segurança Pessoal e, por último, na Furtos e Roubos, sob direção do Capitão/PM Sidney Pacheco.