Projetos salariais: E quem seriam os pais das crianças?

Data: 01.09.08, por volta das nove horas,  estava em minha sala na Corregedoria da Polícia  Civil e o Delegado Alber veio me relatar que o Deputado Herneus de Nadal no mês de outubro estaria apresentando  um projeto contemplando todos os policiais civis (inclusive os Delegados de Polícia) com um reajuste salarial variando entre trinta e quarenta por cento. Além disso, no caso dos Delegados  o governo  concederia um abono que deveria variar entre dois e três mil reais. Contendo minha incredulidade momentânea, fixei  meu olhar na amável visita e, após uma pausa  tensional recolhido no silêncio, postas as armas verborrágicas em contrário, me pus a conter  qualquer reação que pudesse denotar ceticismo ou ufanismo. Alber aproveitou a deixa para fazer relatos  que era a Delegada Sonêa (Presidente da Adpesc) que estava à frente desse projeto do Executivo, entretanto, comentou que havia  uma briga por causa do “DNA”, ou seja, sobre quem seria  o pai da criança, já que a Delegacia-Geral também pretendia  faturar politicamente e o Secretário de Segurança (Deputado Ronaldo Benedet) se colocava como “comandante da tropa”. Procurei ser receptivo a “boa nova” e argumentei:

- “Bom, não há dúvida que o Secretário é o Secretário, ele é o homem do partido do governador...”.

Enquanto Alber fazia o seu relato relembrei do que a Delegada Sonêa andava profetizando  nas “Assembleias itinerantes da Adpesc”, ou seja,  que no mês de outubro os Delegados iriam sorrir. Aproveite para lembrar que o Delegado Rodrigo Carriço no nosso encontro em Itapoá havia me indagado se eu sabia de alguma novidade em termos salariais, inclusive, porque a Presidente da entidade representativa da classe, durante a Assembleia-Geral dos Delegados em Joinville,  havia noticiado publicamente em outubro... Interrompi meus pensamentos e argumentei:

- “Pois é, Alber, o pessoal aí pelo interior está bastante otimista, o clima é de festa. Onde eu vou eles me perguntam se eu sei de alguma coisa, relatam que a Sonêa prometeu...”.

Na verdade a história não era bem assim, o pessoal falava, mas ninguém parecia burro o suficiente para acreditar em “papai-noel”, muito menos o novato Delegado Carriço. Aproveitei para pedir que Alber – como membro da Diretoria da Adpesc e ligado diretamente à Delegada Sonêa – que fizesse contato com a presidente da entidade e pedisse a ela que permanecesse engajada no projeto que pretendia criar a “indenização aposentatória”, cujos pais dessa criança era eu e Marilisa. Como não poderia ser diferente, Alber foi econômico em suas considerações e parecia apenas ter olhos para aquelas “boas novas” “adepolianas” e governamentais, porém, trouxe algumas informações  como o fato do Delegado Adriano Luz (designado para atuar  na Consultoria Jurídica da Secretaria da Segurança Pública) ter-lhe confidenciado numa conversa que o nosso projeto de criação do “Fundo de Aposentadoria dos Policiais” já havia passado por lá (Consultoria Jurídica) e havia recebido parecer favorável... No entanto, a última informação era que a Procuradoria-Geral do Estado teria dado um parecer pela inconstitucionalidade. Em razão disso, arrematei:

- “Meu Deus, só faltava essa. Como é que não deram parecer contrário no caso da PM?”

Era difícil de aceitar essas informações, a razão maior era que o projeto havia sido apresentado em nível de Assembleia Legislativa, então, como se explicaria que ele estivesse tramitando pelo Executivo? Bom, só se o Secretário Gavazzoni (da Administração – SEA), a pedido do Deputado Darci de Matos, tivesse solicitado uma análise no âmbito do Poder Executivo.

Mortes trágicas: “Policiais que foram para outro lado do mundo”: 

Por volta das 09:30h. O Delegado Alber retornou até meu gabinete para perguntar se eu já sabia o que tinha ocorrido no domingo com o Comissário Aldo Luz. Entrei em estado de ansiedade enquanto Alber relatou:

- “Ontem ele discutiu com a mulher, pegou a arma e se matou com um tiro na boca. Eu vim aqui falar porque estou presidindo um processo contra ele e foi o senhor que fez a sindicância, lembra?”

Ainda sem me refazer completamente da notícia de mais essa tragédia, lembrei que nessas mesmas circunstâncias, tempos atrás o Investigador Jaci havia posto fim a sua vida..., também estava respondendo a um processo disciplinar sob minha presidência. Desta vez foi a vez do policial Aldo Luz, Comissário de Polícia que também chegou a ser meu motorista em duas ou três viagens pelo interior do Estado, a serviço da Corregedoria da Polícia Civil. Aldo Luz era um policial antigo, com tempo para se aposentar, mas teimava em permanecer no serviço ativo, talvez, porque não tivesse outra opção de vida ou se acostumou a respirar os ares sedutores do universo tão policial. Aldo havia me relatado nessas viagens que já era avô, também chegou a tecer comentários sobre acontecimentos durante os seus anos dedicados à instituição policial... Lembrei que foi justamente eu que pedi a instauração de processo disciplinar contra ele e mais o Comissário Nolasco, porque na companhia da ex-namorada do Delegado Bottini (assassinado tragicamente num barzinho por volta do início de uma madrugada, por marginais contratados ou não...), ato contínuo ao evento, teriam invadido a sua residência, de cujo local desapareceram armas, munições, joias, moeda em espécie... Acabei lembrando também do Investigador Emerson, cujo processo disciplinar encontrava-se sob minha direção, sendo que recentemente pedi o seu afastamento preventivo e esperava que esse também não visse a cometer suicídio..., apesar de haver indícios de ser dependente químico, estava em estágio probatório, e muito provavelmente teria que pedir o seu desligamento da instituição, mas a esperança era que não cometesse um ato extremo.

A morte do Delegado Acioni Souza Filho: 

Por volta das dezesseis horas e trinta minutos quando a Escrivã Ariane veio até minha sala me convidar para o bolo de aniversário dela e da policial Eleonora (telefonista da Corregedoria).  Era um dia triste e eu nem consegui almoçar direito, a comida simplesmente não descia, estava me controlando ao máximo e acabei lembrando da foto da filha do Delegado Acioni publicada naquele mesmo dia na coluna do Cacau Menezes, o que me levou a pensar:

- “Puxa, que coincidência, logo hoje, dia do enterro do Aldo, amigo do Acioni...”.

“A belíssima Kelly Souza, que se formou sábado, no curso de Direito na Univali. Kelly era filha do saudoso delegado Acioni Souza Filho, o "Presença" (DC, Cacau Menezes, 01.09.08). Acabei lembrando que no mês passado fui no Jardim da Paz colocar flores no túmulo da minha mãe e na sequência também aproveitei para visitar o jazigo do velho amigo (Acioni). No ano de 1977 cursamos a Academia da Polícia Civil e, em março de 1978 fomos JUNTOS nomeados,  e que surpresa boa encontrar sua filha tão esplendorosa figurando a coluna do “Dom Cacau Menezes”, de certa forma isso fez com que meu austral entrasse numa ascendente, encapsulado pelas miragens do paraíso, ao vê-los chegar...