A velha raposinha agora solitária:

Data: 02.09.08. Horário: 10:30h. Estava entrando no Banco do Besc, agência central (Rua Tenente Silveira - centro de Florianópolis) e eis que avistei o Delegado Lourival Mattos descendo as escadas acompanhado de um cidadão desconhecido. Achei esquisito aquele encontro e a sua doçura comigo. Logo que Lourival percebeu a minha aproximação foi estendendo a mão para me cumprimentar o que me fez pensar: “No mínimo ele deve estar preocupado porque completa setenta anos e vai ter que sair na compulsória..”. Pude observar que Lourival apresentava cabelos brancos, mas apesar disso parecia muito bem... Enquanto nos cumprimentávamos pode notar que Lourival parecia alegre e fiquei pensando: “Bom, o tempo é a grande ferramenta para fazer com que se tenha a fiel certeza das verdades...”. Lourival era outra pessoa no trato comigo e acabei lembrando  da reunião do Conselho Superior da Polícia Civil, isso na época do segundo governo Esperidião Amin, quando a turma do Delegado-Geral Lipinski sentou de um lado e eu fui justamente sentar do lado de Lourival que estava meio que isolado numa cadeira do lado adverso da mesa. Inicialmente, todos os conselheiros pareciam me observar  para saber do lado de quem eu sentaria... Naquele episódio, logo que cheguei mirei o olhar no velho Lourival, a cor da sua pele, seu jeito meio acanhado, porém sem perder o velho “ego” de quem já foi majestade e não tive dúvidas, era justamente ali do seu lado que naquelas circunstâncias eu me sentira em casa, incrível essa sensação, especialmente, em se tratando de alguém que já foi o meu algoz... Do outro lado estava “Rachadel” e mais alguns fracos que ficaram me observando, enquanto que Lourival se sentido fortalecido  encheu-se de gás e passou a falar, defender suas ideias, dando a impressão que se sentia mais seguro, menos solitário..., e essa foi a impressão que ficou gravada, e se pudesse repetiria tudo de novo.

A morte do Comissário Aldo Luz (relatos do Investigador Fernando Luiz da Silva):

Data: 03.09.08. Horário: 16:15h. Estava viajando na companhia do Investigador Fernando Luiz da Silva da 2ª DP/Saco dos Limões de Florianópolis e com a minha secretária (Investigadora Patrícia Angélica) com destino à cidade de Mafra. Logo no início da viagem fui perguntando para Fernando como foi a morte do Comissário Aldo Rocha que havia se suicidado no último domingo. Fernando que era seu colega de trabalho foi fazendo o relato:

- “...Doutor, no domingo o Aldo almoçou com toda a família, com os filhos. Depois o Aldo começou a discutir com a mulher, com os filhos e disse que se mataria. Os filhos esconderam a arma dele debaixo de umas toalhas e ligaram para o Delegado Safanelli (Titular da 2ª DP/Saco dos Limões), pedindo que viessem até o Balneário Ingleses onde ele tinha um apartamento, para tentar conversar com ele.  Ele tinha bebido vinte e quatro cervejas.  Também tomava remédios para depressão, aí misturou tudo e no final da tarde ele conseguiu achar a arma, foi para o quarto e se trancou à chave. Ficou lá dentro. Os filhos, a mulher, todo mundo ficou batendo na porta e pedindo que ele abrisse que não fizesse nada, enquanto aguardavam os policiais chegar. Num determinado momento o Aldo abriu a porta do quarto e colocou a arma na fronte e foi perguntando: ‘É isso que vocês querem, é isso que vocês querem...? E deu um tiro que saiu do outro lado. Doutor, tinha bastante gente no enterro dele, umas trezentas pessoas. Eu apreendi muita coisa com o Aldo, nós trabalhávamos juntos na equipe de investigação lá da 2ª DP. Era ele, eu e o Nolasco. Eu aprendi muita, foram tantas em razão das coisas boas que ele fazia, como também das coisas ruins”.

Interrompi o relato de Fernando e comentei que já conhecia Aldo há muitos anos e que ele era da velha guarda, um policial cheio de vícios e que o seu maior problema foi não saber preservar o seu patrimônio emociona. Também, comentei que com trinta e sete anos de Polícia Civil ele nunca se preparou para deixar a Polícia Civil e ir para casa viver com seus familiares, buscar outras perspectivas em termos de trabalho ou lazer. Fernando fez outro comentário:

- “Doutor, o senhor tem razão, o Delegado-Geral estava lá no enterro e falou um pouco, elogiou o Aldo, também estava o Delegado Nivaldo (Claudino Rodrigues)”.

Relatei que Aldo era uma pessoa difícil no convívio com seus familiares, sempre acostumado com roupas de grife, boa bebida, nunca se preocupou em cursar uma faculdade, nunca investiu no seu futuro profissional e se acomodou no cargo. Fernando confidenciou que para Aldo não bastava uma garrafa de vinho chileno, tinha que ser duas. Agradeci a Patrícia Angélica por ter sugerido a indicação do Comissário Aldo para viajar conosco como motorista a serviço da Corregedoria, em cuja ocasião pude externar a ele os motivos que me levaram a opinar que fosse instaurado uma sindicância contra ele e o Comissário Nolasco em razão dos acontecimentos na residência do falecido Delegado Luciano Bottini, inclusive, que essa teria sido uma oportunidade de me despedir e poder colocar minhas convicções sobre a necessidade de se esclarecer os fatos, considerando as suspeitas que recaiam sobre a sua ex-namorada. Fernando comentou que antes dele realizar a primeira viagem comigo o Comissário Aldo conversou com ele para dar algumas informações sobre minha pessoa, ressaltando que podia viajar tranquilo, só que era para tomar cuidado porque eu gostava de analisar bastante a pessoa, era esperto e citou que quando estava comigo almoçando (Rio Negrinho) eu tinha pedido um copo de vinho e perguntei para ele se também queria beber, mas ele, ao invés, pediu água e que aquilo foi uma forma de testá-lo, pois estava na condição de motorista, portando não poderia beber... 

A morte trágica do Investigador Iunes: 

Por volta das dezessete horas e vinte e cinco minutos, estava na Delegacia Regional de Polícia de Mafra me preparando para ouvir algumas testemunhas numa sindicância quando a policial Patrícia Angélica foi se aproximando para dizer:

- “Doutor Felipe, tenho mais uma notícia ruim para lhe dar, lamento muito...”.

Fiquei estático e fiquei imaginando o que seria enquanto Patrícia Angélica foi se adiantando:

- “Não tem o ‘Iunes’, aquele policial lá da Barra do Sul, lembra dele? Pois é, ele se enforcou hoje em Barra Velha...”.

O Investigador Iunes estava lotado na Delegacia de Polícia de Araquari e ultimamente atuou com sua ex-esposa na cidade de Barra do Sul. O casal estava bastante atritado (Veleda também era Investigadora Policial e responsável pela DPMu de Barra do Sul). Já havia aquele prognóstico de que Iunes faria uma besteira, ou seja, mataria sua ex-mulher e se mataria em seguida, ou então se mataria por causa de ciúmes e ameaças de separação que ele não aceitava, e foi o que aconteceu.

A imperativa Marilisa em orações: 

Por volta das vinte e três horas estava no Hotel Susim (quarto 321), na cidade de Mafra e voltei meus pensamentos para lembrar de Marilisa, especialmente, porque nada vezes nada, nadíssima dela dar um sinal de vida, mas era a minha queridíssima “Barbarella-Guru” que me inspirava, porém, também honrava as iniciais do seu nome “Má”, a cruel que parecia às vezes tão insensível, fria, “insoave, insolente, impoluta, digressiva”...e ao mesmo tempo “imperativa”. Sim, entendia suas quedas, suas ondas depressivas, seu viés espiritual às vezes em baixa...  Aliás, dava para entender tanta coisa na distância sobre nossa relação, porém, no meu caso, esse seu distanciamento deixava marcas, não em razão das impossibilidades de nossos projetos institucionais, mas porque se fez importante, querida na minha vida... e assim entrou para a história. Acabei lembrando de quando ela me disse que já tinha seu fim todo detalhado, como faria isso nos mínimos detalhes, o que me fez pensar no desperdício de uma existência tão bela. Em silêncio orei para que essa tragédia anunciada nunca viesse a se concretizar, pois seria mais um acontecimento que no mudaria todo o nosso futuro”, pensei.