No ar a sua graça:

Data: 02.07.08. Horário: 16:00h. Estava em audiência na Delegacia Regional de Balneário Camboriú e  recebi uma ligação de Marilisa que foi dizendo:

- “Oi, tudo bem?”

Logo veio a sensação  de prazer por ouvi-la::

- “Nossa, por onde é que tu andas criatura? Desaparecesse, não soube mais nada de ti, não sei mais nada da tua vida, o que tu andas fazendo?”

Marilisa achou graça e respondeu:

- “Ah, tu nem imaginas, qualquer hora eu te conto um pouco da minha vida. Tu não imaginas o sufoco que eu tenho passado. Cruzes, ando direto naquele diretório lá, é só político na minha frente, não tenho tido tempo para mais nada...”.

Interrompi:

- “Puxa, ontem à noite precisei de ti, liguei, mas tu não atendesses...”.

Marilisa interrompeu:

- “Tu ligou?”

Sim, óbvio que ela viu a minha ligação, tanto é que estava me retornando naquele momento para me relatar que andou conversando com o Deputado Darci e pediu que “tocasse” o nosso projeto, que fizesse contatos com o Deputado Gelson Merísio, inclusive, leu o documento que a policial Patrícia Angélica havia lhe repassado. Era engraçado, mas nesses momentos Marilisa parecia um ser frágil, ingênuo, tolinho..., muito embora quisesse demonstrar a todo instante vivacidade e raça para lidar com políticos, dava a impressão que gostava daquela peleia,  se acendia e, depois, acabava que nem uma barata, exaurida, pelo menos era isso que eu achava. De certa forma esse universo urdido parecia lhe cobrar um preço pois na arte de lidar com raposas e se achar esperta se fazendo de tonta além de se deixar consumir isso lhe trazia reveses... De certa forma, também me deixando consumir por energias circundantes, aproveitei para fazer um relato a respeito dos contatos que fiz com os Delegados Regionais no interior do Estado no sentido de pedir apoio ao nosso “projeto”. Reiterei que era importante insistir com o Deputado Darci de Matos para que fizesse contatos com parlamentares e, ao final, frisei que estava me “mexendo” e que ela não pensasse diferente. Marilisa argumentou que sabia que eu estava trabalhando e que ela também estaria comprometida em fazer os seus contatos políticos.

A metamorfose do Delegado Luiz Guimarãres: 

Por volta das dezessete horas e cinquenta minutos, tinha acabado de ouvir o Delegado Luiz Guimarães Junior (filho do Delegado Luiz Guimarães falecido recentemente). A imagem que tinha desse Delegado remontava à cidade de Canoinhas quando em uma reunião na “DRP”  (segundo semestre do ano de 1986) ele se fez presente e meu amigo Comissário Acy Evaldo Coelho ficou pasmo quando olhou para ele pensando que fosse uma mulher. Era que Luiz Guimarães parecia um “gurizão delicado”, com a pele do rosto dando a impressão que estava cheia de creme para rejuvenescimento, embelezamento..., além dos cabelos dourados rigorosamente brilhantes e penteados, as roupas coladas no corpo de maneira a destacar a sua silhueta magra e esguia, além de seus trejeitos... Depois, os anos vieram e agora estava ele ali na minha frente e dava para perceber nitidamente as marcas no seu rosto, as rugas profundas... Durante a audiência percebi que Luiz Guimarães era outra pessoa, seu rosto parecia marcado, envelhecido e lamentei que Acy não estivesse ali comigo e pensei: “O que o tempo não faz? Ah, puxa se o Acy estivesse aqui, certamente que não acreditaria, ele que algumas vezes lembrava daquele episódio e do seu desassombro quando tomou conhecimento pelo Inspetor Levi Rosa Peres e outros que aquela ‘boneca’ na verdade era o Delegado Luiz Guimarães...”. Conversei com Luiz Guimarães sobre o nosso momento policial e ele parecia ser uma outra pessoa bem diferente, vindo a desabafar:

- “Eu, ainda ontem a noite estava na cama pensando: ‘como estamos mal, a Assembleia Legislativa aprovou ontem o aumento do efetivo em mais sete mil homens, e nós?’ Fiquei pensando também: ‘O Judiciário aprovou projeto deles, o Ministério Público também, é nós?’ Não vi nada nosso, como estamos perdendo espaços. Não vê os nossos salários, a gente chega a ficar com vergonha”.

Interrompi:

- “É verdade. Mas quem é que tem que nos representar? Quem é que tem que apresentar projetos de nosso interesse? Eu tenho dito por aí que nós temos três vias de poder: A primeira é a cúpula da instituição, a segunda os Delegados Regionais e, por último, as nossas lideranças classistas. Mas olha como é que nós estamos, cadê os nossos projetos? Eles não apresentam nada, é uma vergonha! Não vê a Sonêa, ela está direto em Brasília, blindou o governo, o Secretário da Segurança e tudo por causa do marido que está lá em cima...”.

Luiz Guimarães fez uma cara que externava um misto de ironia e frustração, vindo arrematar:

- “Sim, imagina, todo mundo sabe disso. Olha, eu penso que nem você, a gente pensa igual...”.

Antes me despedir argumentei:

- “Olha, apesar disso tudo nós não podemos perder a fé. Nós precisamos nos unir, criticar, cobrar, participar, formar opinião...”.

Eu sabia que era difícil para Luiz Guimarães passar da indignação, dos discursos e passar para a proatividade e isso me entristecia por que de nada  adiantava se ficar falando a quatro paredes e esse era o lugar comum.

Presságios da Delegada Sandra Andreatta: 

Data: 07.07.08. Horário: 10:00h. Durante a viagem à cidade de Chapecó (havíamos deixado a Capital), juntamente com o motorista Dilson Pacheco e mais a Delegada Sandra Andreatta, acabei lembrando de Marilisa e da junção dos “07.07.07”, isto é, meus pensamentos estavam voltados a um ano atrás, em cuja ocasião me encontrava na DRP de Balneário Camboriú na sua companhia...: “E, lá  se foram doze meses!” Durante o trajeto pela BR 282, acabei fazendo vários relatos do passado na Polícia Civil. Sandra Andreatta relatou que na época que o Delegado Sérgio Maus respondia pela Corregedoria da Polícia Civil lhe convidou para trabalhar como Corregedora... Depois, Sandra Andreatta recontou o episódio das plantas que seu “namorado” havia arrancado numa certa madrugada fatídica e que acabou na sua “prisão”. A seguir, relatou que estava muito indignada com o Delegado Nilton Andrade (Corregedor da Polícia Civil) porque havia recebido um telefonema do Delegado-Geral  Maurício Eskudlark alertando que era para tomar cuidado porque Nilton Andrade feito contato e desabafado que estava de saco-cheio com ela porque estaria tumultuando a apuração dos fatos no inquérito policial que estava sob a sua presidência.

Recomendei que Sandra Andreatta tomasse cuidado e deixasse o Corregedor Nilton Andrade apurar os fatos com total isenção e ela revelou que temia que seu “namorado” viesse a ser indiciado por furto de duas plantas grandes quando na verdade eram pequenas e que os objetos haviam sido trocados depois da ocorrência. Sandra Andreatta se revelou um pouco resistente, dizendo que queria provar a verdade. Concordei com seus argumentos, muito embora achasse que ela não devesse fazer pressões sobre o Corregedor da Polícia Civil. Sandra Andreatta argumentou que era seu objetivo trabalhar na Corregedoria e acabei recomendando que esperasse os resultados da apuração do inquérito policial e o processo judicial, além de aguardar a sua promoção para a quarta entrância...