O estilo reverencial do Delegado Regional Silvio Gomes:

Ainda, no dia 01.07.2008, por volta das 12:30 horas, iniciamos viajem em direção à Itajaí, pois tinha deixado meu carro no “Posto Santa Rosa” (Dalçoquio), no trevo da BR 101 e acesso principal à cidade. Durante o trajeto o Investigador Fernando foi fazendo algumas considerações sobre “rochas” e como se formaram os contrafortes de granito na região do Vale. Acabei adquirindo algum conhecimento sobre dureza de pedras preciosas... Aproveitei para solicitar para a Investigadora Patrícia Angélica que quando chegassem em Joinville no meio da tarde fossem diretamente na Delegacia Regional e entregassem uma cópia do projeto da “Indenização Aposentatória dos Policiais” para o Delegado Dirceu Silveira e, depois, se dirigissem para a Delegacia da Mulher e entregassem uma outra cópia para a Delegada Marilisa.

Horário: quatorze horas, estávamos no  “Posto Santa Rosa” e apanhei meu carro e fui para a Delegacia Regional me encontrar com o Delegado Sílvio Gomes. Não demorei mais do que vinte minutos para estar no gabinete do Delegado Regional  que me recebeu com muita receptividade e cortesia. Logo de início percebi que  Silvio Gomes agia de forma reverencial, entretanto, certamente que não tinha nada de tolo, ou seja, não dava para subestimar principalmente sua experiência.  Sílvio Gomes foi me perguntando que assuntos me traziam e eu respondi que ele já sabia o porquê da minha presença e, a seguir, veio a pergunta  que nas aparências não tinha o  mínimo de insolidez para a ocasião:

- Doutor, a sua visita é ‘correcional’ ou ‘institucional’?”

Não me surpreendi com aquela indagação, mas sim da  forma como ele  questionou e respondi com sem “papas” ou “amarras”:

- “Tu sabes que só pode ser instituciona, né Silviol”

Meu anfitrião  parece que adivinhou meus pensamentos e prosseguiu:

- “Não só os Delegados, mas todos os policiais aqui sabem da sua luta, o pessoal fala muito bem do senhor aqui, doutor. Eu peguei na Internet aquele seu projeto do ‘fundo’, peguei no ‘site’ do ‘Sintrasp’...”.

Interrompi:

- “Puxa, é sobre isso mesmo que eu vim falar...”.

Sílvio me interrompeu:

- “Pois é, o ‘Sintrasp’ publicou esse projeto por meio do Deputado Darci de Matos...”.

Interrompi:

- “É verdade. No ano passado nós entregamos o projeto para o Deputado Darci lá em Joinville. Fizemos uma mobilização e escolhemos o Darci. Eu achei melhor que fosse um Deputado lá de Joinville já que a Delegada Marilisa tem muita amizade com ele e daí ficou fácil fazer os contatos...”.

Sílvio Gomes deu a impressão que estava tudo certo, mas conteve  sua surpresa com nossas articulações  e me interrompeu:

- “Mas doutor, o ‘Sintrasp’ publicou o projeto e deu a impressão que são eles...”.

Interrompi:

- “Claro que não. Eles entraram de carona. Foi o Zulmar. Tu conheces o Zulmar? ...Então, no ano passado nós entregamos o projeto para o Darci, só que ficou parado durante meses. Então, eu e a Marilisa... Bom, tu conheces a Marilisa? ...Pois é, nós procuramos o Zulmar que é vereador e muito ligado ao Deputado Darci e pedimos que intercedesse. Também, pedimos para que ele conversasse com o irmão, presidente do Sintrasp, e pedisse que ajudassem...”.

Sílvio interrompeu dando a impressão que tinha entendido tudo o que havia ocorrido e comentou:

- “Mas isso não está certo, todo mundo sabe que foi o senhor e eles querem levar a fama...”.

Interrompi:

- “Sílvio, isso não faz a menor  diferença. O importante é reunirmos forças para aprovar o  projeto. Assim foi com a ‘vintenária’,  com o ‘anuênio permanência’..., até hoje ninguém sabe quem foi o responsável, de onde e como surgiram  e eu nunca fiz publicidade, a não ser para os amigos mais chegados...”.

Silvio Gomes pareceu entender meus argumentos e acabei entrando no assunto da lei complementar cinqüenta e cinco que instituiu o sistema de entrâncias para Delegados e como foi preciso tirar os policiais militares das Delegacias das Comarcas. Fiz um relato da tramitação da lei complementar cinqüenta e cinco e como a “vintenária” foi vetada pelo Governa Kleinubing, a pedido do  Secretário de Segurança Sidney Pacheco. Relatei que a matéria acabou tendo que ser reapresentada na lei complementar noventa e oito de mil novecentos e noventa e três que tratava sobre as promoções dos policiais civis. Tudo isso para demonstrar que nosso projeto que tratava sobre a “indenização aposentatória dos policiais”, que tinha  vício de origem, teria  tudo para ser votado, aprovado e sancionado pelo governador, assim como ocorreu com a gratificação ‘vintenária’ que também tinha visto de origem, pois foi de iniciativa parlamentar, só que naquele caso houve uma  negociação...

Delegado Gentil João Ramos: a visão do ser e do não ser!

No momento que estava relatando para Sílvio Gomes como foi suprimida a possibilidade de policiais militares serem designados para responder por Delegacias de Comarca e Municipais, isso por meio de uma emenda na lei complementar cinqüenta e cinco apresentada na Assembléia Legislativa, sem conhecimento do Secretário Sidney Pacheco, apareceu no Gabinete de Sílvio o Delegado-Corregedor Gentil Ramos. Foi engraçado, Gentil chegou na porta e com aquele seu sorriso jovial, seu trejeito amistoso, cordato, habilidoso... e assim se incluiu no nosso rol.. Sílvio Gomes, sem perder o caráter reverencial, levantou-se e foi ao encontro de Gentil, dizendo:

- “Doutor, o senhor aqui, mas que grande prazer, vamos entrar, vamos sentar...”.

Em seguida Gentil se sentou do meu lado e Sílvio Gomes foi para trás da sua mesa e ficou de frente para nós dois.  Aproveitei o gancho e fui dizendo:

- “Ah, foi bom que tu chegasses, Gentil. Eu estava aqui conversando com o Silvio e perguntando para ele se sabia como os policiais militares deixaram  as Delegacias de Polícia de Comarca, tu sabes?”

Gentil não teve dúvidas e foi respondendo:

- “Sim, claro que sim, isso foi uma briga entre o Heitor Sché e o Pacheco. Foi uma briga deles, o Heitor era o Secretário e o Pacheco o Comandante-Geral, tu lembras, né?”

Olhei para o Sílvio Gomes, balancei a cabeça, fazendo sinal  negativo e de indignação frente a ignorância de Gentil, e repliquei:

- “Não, Gentil. Isso foi na época em que o Pacheco foi Secretário de Segurança, não foi na época do Heitor”.

Gentil, de maneira contundente, insistiu:

- “Não, foi o Heitor. Foi aquela briga do Heitor com o Pacheco. O Heitor mandou tirar todos os ‘PMs’ das Delegacias...”.

Interrompi, tentando explicar:

- “Não, Gentil. Não foi...”.

Nisso chegou o veterano Delegado Renato Ribas, ainda na ativa, apesar de próximo dos setenta anos. Renato Ribas nos cumprimentou e veio se sentar ao meu lado (fiquei no meio) e aquele assunto dos militares acabou ficando  suspenso, pois Renato monopolizou a palavra, haja vista que estava atendendo um caso envolvendo um inquérito policial presidido pelo Delegado Sérgio Maus, cujo caminhão do proprietário apresentava problemas e juntamente com o ‘container’ encima havia sido  apreendido. Achei engraçado que Renato Ribas estava tentando resolver o problema e logo ‘caiu minhas fichas’, pois  ele era  candidato a vereador e certamente aquela pessoa veio ali... No final, entendemos que como o inquérito já havia sido encaminhado para a Justiça, então somente a autoridade judicial era  quem poderia liberar o referido bem. De qualquer maneira o Delegado Sílvio chamou o proprietário do caminhão na nossa frente e tentou orientar o mesmo sobre como fazer pelo menos para liberar o ‘cavalinho’.

Logo em seguida Renato Ribas deixou o gabinete, juntamente com o proprietário do caminhão e retomei a palavra tentando defender o projeto da “indenização aposentatória” e a necessidade de mobilizarmos todos os policiais civis. Na medida em que fui lembrando Gentil do “projeto” ocorreu um fato inusitado, ou seja, Gentil me interrompeu de forma enérgica e começou a quase que fazer um discurso na frente de Sílvio:

- “Isso não vai dar em nada, é pura perda de tempo. Felipe, esse projeto, como é que é mesmo? ...Ele é ‘natimorto’. Na hora que um projeto desses chegar lá no Palácio tem um tal de Coronal Botelho, ele veta tudo que é da Polícia Civil. Isso pura perda de tempo, Felipe. Não adianta insistir nisso. Tudo bem, o governador assinou lá o da ‘PM’ no ano passado sem saber o que estava assinando. O Estado não vai pagar, podes crer. O culpado foi aquele ‘Coronel’ lá, como é mesmo o nome dele? Ele caiu, imagina, o governador disse que assinou aquele projeto e que foi traído. Mandaram o ‘Coronal’ embora...”.

Interrompi:

- “O Blasi levou o ‘Coronel’ para trabalhar no Gabinete dele lá na Assembléia, não é aquele...?”

Ninguém respondeu e Gentil, fazendo gestos cênicos, falando de forma peremptória, tipo juízo final,  continuou seu quase monólogo bem articulado:

- “É uma vergonha, nós  temos coisas mais importante para nos preocupar, vamos perder tempo com um projeto desses? Eu tenho visto coisas neste governo...  A nossa situação está cada vez pior, a cada dia nós ficamos cada vez mais para trás. Sílvio, sabe o que o Delegado Regional de Lages fez? Ele criou lá na Delegacia Regional uma Delegacia de Polícia para atender abusos praticados por policiais militares, tu acreditas nisso? Bom, ele botou uma placa lá no prédio e começou a atender as denúncias contra os ‘PMs’. Num primeiro momento os ‘PMs’ eram chamados e compareciam. Depois, os ‘PMs’ eram intimados e começaram a não vir mais, no final ninguém vinha, ninguém cumpria nada, uma vergonha. Imagina, onde nós estamos? Então, Felipe, Sílvio, nós temos projetos muito mais importantes, temos muitas outras coisas para fazer do que ficar perdendo tempo com esse tipo de projeto aí que não vai dar em nada...”.

Interrompi Gentil:

- “Bom, Gentil, eu não concordo com esses teus argumentos. Todos nós sabemos que temos muitos problemas, mas o importante agora é focar esse projeto que está tramitando, nós temos que acreditar, temos que ir a luta para aprovar isso...”.

O resgate “salomônico”:

Naquele  momento ocorreu outro fato digno de registro, pois Silvio intercedeu tentando aplicar princípios que mais parecia o resgate “salomônico” aplicado ao momento”, e foi dizendo:

- “Bom, eu acho que os dois doutores tem razão em parte. Eu acho que os dois doutores...”.

Fixei o olhar sobre  Sílvio Gomes e me restringi apenas a mirar seus olhos demoradamente, como se lhe dissesse que sabia onde ele queria chegar. Sílvio Gomes pareceu pressentir  meus movimentos e assim  se conteve procurando  não expor muito seus pensamentos. Nesse momento Gentil se levantou e bateu no meu ombro esquerdo e antes de se retirar me disse:

- “Tudo bem, Felipe. Vá em frente. Vá em frente. Continua essa tua luta, eu sei, eu sei, continua, é boa, eu sei que tu gostas disso, sim, vai em frente porque eu sei  que tu gostas...”.

A forma como Gentil me disse aquilo, externando um misto de ironia com um sorriso de pouco caso, fez com que eu permanecesse em silêncio e apenas observasse a sua saída. Quanto Gentil alcançou a porta para deixar o recinto o chamei pelo nome e externei uma última frase:

- “Gentil, Gentil...você é muito gentil!”

Ele se deteve e me olhou ainda com aquele sorriso com um quê de certa ironia e me escutou completar:

- “Gentil, lembra que tão importante quanto nossos sonhos são as nossas ações para realizá-los, lembra disso, Gentil”.

Ele continuou a sorrir e se foi definitivamente enquanto  Sílvio Gomes também deixava escapar um ar de satisfação  dando a entender que entendeu meu recado. Aproveitei para fazer algumas considerações:

- “Bom, entre esse discurso derrotista do Gentil e a ‘teoria da convicção’, eu entendo que nós temos que lutar, temos que acreditar, temos que buscar novas conquistas... Isso que o Gentil disse aqui é muito perigoso, imagina, um discurso derrotista desses? Isso  acaba com qualquer um, tu imaginas se estivesse um  desses incautos Delegados novos aqui ouvindo o que ele  disse, meu Deus! Bom, Sílvio, em primeiro lugar eu quero esclarecer que aquela história que o Gentil nos contou, sobre as brigas entre o Heitor Sché e o Pacheco,  realmente elas existiram. Mas o que ocorreu foi que naquela  época  o Heitor foi Secretário de Segurança, isso no Governo Amin e  começou um processo de retirar  ‘PMs’ das Delegacias de Comarca, e isso acabou gerando conflitos com o Pacheco que  era Comandante da PM. Mas isso foi apenas uma briga política, ninguém revogou lei alguma, o que houve foi uma portaria que não tem força alguma. A briga entre eles, segundo eu sei, foi por outros motivos bem maiores, como nos casos das licitações para aquisição de viaturas que o Pacheco fez sem o conhecimento do Heitor... Tanto isso é verdade que na época que o Pacheco foi Secretário da Segurança, isso  no Governo Kleinubing, quem era o Delegado da Comarca de Pouso Redondo?”

Sílvio respondeu prontamente:

- “Era o Sargento Mantelli”.

Continuei:

- “Então, além do Mantelli mais de uma centena de outros em Delegacias Municipais e até comarcas. Então tu vê, foi no governo Kleinubing que nós conseguimos revogar isso por meio de uma lei complementar, não de portaria que não tem força alguma, muda o Secretário volta tudo igual...”.

Sílvio Gomes imediatamente confirmou que havia entendido e que tinha conhecimento que aquele minha informação era verdadeira. Aproveitei para dizer:

- “Bom, o Gentil solto por aí se torna um perigo andante. Tu sabes que a palavra vale..., e uma vez repetida...”.

Sílvio Gomes acabou completando:

- “Sim, a palavra, doutor, vale ‘prata’, o senhor tem toda razão, e o silêncio vale ‘ouro’”.

Interrompi:

- “Não é bem assim, segundo o Rei Salomão é a palavra que vale ouro... Então, no caso do Gentil, já que ele tem essa visão derrotista das coisas, que fique quieto”.

Silvio Gomes comentou que  concordava com meu entendimento:

- “Doutor, o senhor está certíssimo”.

Diante disso, pedi para que Sílvio Gomes reunisse principalmente os Delegados de Polícia da sua região e discutisse algumas metas que passei a colocar, da mesma forma que tinha feito na parte da manhã para a Delegada Regional Patrícia Ávila de Rio do Sul. No final das anotações dos tópicos, pedi que Sílvio Gomes fizesse uma observação:

- “Coloca aí Sílvio, ‘Teoria da Convicção’, tu sabes, vais entender”. 

Sílvio sorriu:

- “Doutor, o senhor é um intelectual. É uma pena que o senhor não foi aproveitado, nossa, que pena...!”

Acabei falando que a ‘Teoria da Convicção’ era um legado daquele imperador romano e que tinha plena aplicabilidade para o nosso caso e que jamais poderemos admitir aquele discurso derrotista. Sílvio Gomes repetiu:

- “Doutor, eu quero dizer que o senhor está certo, certíssimo”.

Sim, a "Teoria da Convicção", segundo o Imperador Tibérius:

Diante daquele observação, pedi licença e me despedi com a "teoria da convicção" na mente, lembrando como o Imperador "Tiberius Claudius Nero Caesar" mandava matar aqueles que não demonstrassem convicção durante certas orgias impostas a seus súditos..., aí daqueles que não demonstrassem higidez com suas parceiras ou que fraquejassem durante o tempo que eram observados...