Estórinhas de “Gibis”:

Era dia  19.06.08 e por volta das dezenove horas (aproximadamente) estava chegando no hotel onde estava hospedado em Balneário Camboriú (Hotel Vieiras), quando recebi uma ligação de Marilisa que tinha a capacidade de reaparecer do nada, como se fosse uma figurinha tirada dos “gibis” de época. Logo que passamos a conversar percebi que ela falava de  mansinho e demonstrando uma certa  habilidade a conduzir nosso diálogo. Marilisa da a impressão que estava meio perdida e foi me questionando  sobre como entrar em contato com o tal do Secretário Gavazzoni para tratar do “projeto” do “fundo de aposentadoria dos policiais”. A seguir ela quis saber detalhes sobre a tramitação da matéria na “Alesc”...  Marilisa disse que lembrou de mim naquela  semana quando foi votada a lei do “Iprev” e que realmente nós não tínhamos como nos  contrapor a algo muito superior... Fiquei feliz porque agora ela tinha compreendido minhas palavras e a forma como havia me conduzido naquele nosso encontro com o Secretário Gavazzoni e seu amigo Deputado Darci de Matos. Recomendei que ela entrasse em contato com o seu amigo parlamentar  e pedisse ao mesmo que  conversasse com o Deputado Gelson Merísio (cunhado de Gavazzoni) para que mesmo assumisse a condução do nosso projeto. Recomendei que Marilisa esquecesse Gavazzoni e argumentei:

- “O Secretário é político. Naquele dia lá na audiência ele só ficou marcando grau na nossa frente e do próprio  Darci de Matos. Na verdade eles são políticos, hoje  se você for procurar o Gavazzoni vai ser difícil encontrá-lo, naquele momento ele estava junto com o Darci que tem interesse político em ti e no Zulmar por causa das eleições em Joinville. Bom, agora o Darci está noutra e dificilmente  vai ter tempo para o nosso projeto e assim vai empurrando com a barriga...”.

Depois, resolvi saber um pouco de Marilisa e ela confidenciou disse que estava bem melhor, sem depressões, sem tomar remédios... Manifestei meu contentamento e resolvi provocá-la e, também, brincar um pouco convidando-a para vir até Balneário Camboriú. Marilisa soltou aquele sorriso (já esperado) com um quê sutil de  “soberbice”. “maneirice”, “bobice”, “tolice”...de estórias de “gibis”,  a ponto de  mudar o tom de voz e foi dizendo:

- “Ah, sim, eu até iria até aí. Um dia eu vou...”.

Procurei dar conotação de seriedade, argumentando:

- “Marlisa, imagina que você ainda vai viver cinco mil dias, então se você tirar um dia para vir até aqui é um dia a menos nesses cinco mil...”.

Marilisa me interrompeu:

- “Ah, vou pegar o carro e vou até aí para a gente ficar até tarde da madrugada conversando, bebendo...”.

Interrompi:

- “Então, vem mesmo! Bom, eu disse cinco mil dias, mas acho que dez mil, dez milhões...”.

Marilisa do outro lado soltou um riso mais carreado com resquícios de tensão contida e pedalou:

- “Então ta, eu vou aí de táxi. Só se for de táxi...”.

Interrompi:

- “Não, de táxi não, vem de carro”.

Marilisa sorriu e argumentou:

- “Um dia eu vou, domingo estou de plantão. Agora estou bem melhor, apesar do plantão. Mas é uma vez por mês...”.

Pude notar que depois dessa guinada Marilisa já estava querendo abordar a ligação e eu deixei correr solto só para ver como ela se sairia daquela nó que lhe dei para provocá-la e animar nosso contato. Marilisa ainda relatou que recebeu uma determinação do DRP Dirceu Silveira para presidir uma sindicância requisitada pela Justiça direcionada  a apurar delito de prevaricação na sua Delegacia de Polícia, muito embora eu tivesse recomendado que ela se julgasse suspeita e indicasse a Delegada Viviam Selig, isso porque meu entendimento era pela sua suspeição... Marilisa comentou  que Dirceu Silveira não quis nem saber e devolveu os documentos para que ela apurasse os fatos.

Casos  de despedida e de "auras": 

Dia 23.06.08, por volta das  dezesseis horas, estava na Corregedoria da Polícia Civil (Florianópolis) e a policial Patrícia Angélica veio me avisar que havia sido solicitada a minha presença na cozinha da Corregedoria da Polícia Civil isso porque o  Delegado Hilton Vieira estava fazendo sua despedida do serviço ativo com um “bolo”. Imediatamente pensei: “Puxa, mas essa despedida do Hilton não foi na sexta com o jantar no prédio do Delegado Gentil João Ramos? Mas tudo bem, vou descer, até por respeito e amizade, ainda mais que esse parece que foi um convite  especial...”. Imediatamente me dirigi  ao andar térreo do prédio a cozinha (andar térreo) e lá estavam, além do próprio Hilton Vieira,  outros policiais, dentre os quais: Nilton Andrade, Alber Rosa, a Escrivã Salete Kruger (aposentada/recovoncada), Patrícia Angélica, Grazziela, Nora, Marisete, Ariane.... Logo que me acessei o interior da cozinha fui  direto conversar com Alber mais ao canto, próximo da janela. Perguntei como é que estavam as votações em Brasília e Alber acabou fazendo um relato  sobre a Adin que estava no STF e que tratava sobre a LC 254/03 (vinculação salarial). Em seguida falamos sobre a Constituinte Estadual de 1989, como a questão do escalonamento vertical figurou em dispositivo constitucional, a questão do Detran, isonomia salarial... No final, já de saída, quando quase todos já haviam deixado o local, me despedi de Hilton assim:

- “Bom, a gente se encontra por aqui, mas só não vai fazer que nem o ‘Vieira’ (Delegado aposentado e que alguns anos trabalhava como voluntário na Corregedoria)”.

Hilton e Nilton acabaram dando risadas e eu emendei:

- “Também não vai fazer que nem o Garcez, heim?”

Observei que Hilton ficou mais sério, como se não entendesse e Nilton também se calou assumindo um ar sério. Aproveitei  para completar:

- “Eu acho que ele está lá na Assistência Jurídica, não é?”

Na verdade o que eu queria dizer é que era para se aposentar mesmo, coisa que sei que era muito difícil para os “antigos” que dentro da instituição pareciam se transformar em figuras “caricatas” de uma realidade surreal se comparada a vida normal das pessoas normais. Na  saída, fui me despedindo e ao mesmo tempo lembrando:

- “Olha pessoal, o importante é a saúde, faltou saúde faltou tudo...!”

Hilton, ainda  mais sério e pensativo, até porque passou por sérias provações quanto a sua saúde (tumor na próstata) concordou dentro do  estilo  meio tosco e reverencial:

- “É verdade, sem saúde não somos nada...”.

Depois que voltei para minha sala fiquei pensando na história de vida das pessoas, como o tempo passava e consumia tudo... ,  rápido demais e que de qualquer maneira Hilton foi um sobrevivente, em que pese todos os seus erros,  reveses nos planos pessoal e profissional, depois de tantos desafios, tantos imprevistos, mazelas... aliás, éramos  todos sobreviventes na mesma condição, proporção... Lembrei que Alber (casado com a
Delegada Ivete) também havia comentado  sobre os seus problemas de saúde  (e de seus familiares), em cujas circunstâncias  pude constatar que ele  não era aquela pessoa que imaginava, isto é, comecei a mudar meus conceitos a partir desse contato, da sua  humildade e simplicidade, sua “aura” era alva, seu espírito  desarmado..., evidente que tinha suas opiniões, seus interesses..., e  seus atributos  foram sorvidos como um “flash”  naqueles instantes. 

Deixei a cozinha trazendo comigo aquelas visões de "auras" frágeis, despedidas previstas, imprevistas... , e do tempo: o grande consumidor de tudo.