Imagens fantasmagóricas e ‘via-crúcis’: 

Dia 13.06.08, horário: onze horas da manhã, estava na Delegacia Regional de Polícia de Blumenau, quando percebi que havia algumas ligações no  meu celular. Fiquei curioso porque era da área “47” (Região Norte do Estado) e tratei de retornar a ligação. Logo que meu interlocutor atendeu a ligação  disse:

- “Aqui é o Carlos”.

Numa fração de segundos reconheci a voz do Delegado Carlos Heineberg que mais parecia um fantasma. Depois dos cumprimentos iniciais ele emendou:

- “Lembra de mim? Eu sou o Delegado Carlos, fui demitido em 2005”.

 Respondi:

- “Claro que lembro, sim, lembro de ti Carlos, lembro sim!”.

Carlos parecendo mais aliviado disse:

- “Eu estava querendo fazer alguma coisa no meu caso e me mandaram falar contigo, disseram que você é a pessoa certa...”.

Imediatamente lembrei do caso “Marcucci”, seu choro na Câmara de Vereadores com a Bíblia nas mãos numa sessão (mês de maio/2008), em cujo momento  discursou e chorou compulsivamente perante seus pares, tudo devidamente filmado, em razão de sua absolvição criminal num recurso que apresentou junto ao Tribunal de Justiça. Lembrei que numa audiência que tive no dia 02.06.08, na Delegacia Regional de Joinville, com a presença do advogado de defesa (Dr. Alexandre), que também atuou na sua defesa,  o Delegado Marcucci confidenciou que a sua absolvição   no “TJ-SC”  foi decorrente  do meu relatório no processo disciplinar contra o mesmo, cujos membros da comissão processante  propuseram a sua  absolvição. Naquele momento, pensei: “Nossa, as notícias correm rápido demais...”. Acabei aconselhando Carlos Heineberg a me ligar na semana seguinte para a agendarmos um encontro, sendo que antes perguntei:

- “Sim, alguém  indicou para que tu ligasses para mim...?”

Carlos me surpreendeu ao responder:

- “Sim, foi o Delegado Toninho”.

Perguntei:

- “O Delegado Regional lá de Joaçaba?”

Carlos confirmou e assim combinamos de conversar na semana seguinte.

“Zonas de conforto” e  “vias cordatas”: Um encontro com discreto e atencioso  Delegado Francisco dos Anjos:

Data: 16.06.08, horário: 10:30h. Estava  na Delegacia de Polícia da Comarca de Piçarras e fui direto para o gabinete do Delegado Francisco dos Anjos. Imediatamente fui lembrando que estava em dívida com ele porque  fiquei de mandar cópia do projeto que tratava da “PEC” que criava a Procuradoria-Geral de Polícia e também da “indenização aposentatória” (Deputado Darci de Matos). Depois de repassar cópia das matérias lembrei da importância de nos organizar com vistas a buscar a aprovação de algum projeto  no momento em que o Vice-Governador Leonel Pavan viesse assumir o governo do Estado, considerando que haveria um alinhamento dos astros, isso em termos políticos, considerando que ele era do   PSDB. Sendo assim, argumentei que tudo levava a crer que o Delegado Maurício Eskudlark seria candidatíssimo a ocupar a cadeira de  Secretário da Segurança e, talvez, Ademir Serafim viesse a ser o futuro Delegado-Geral... Pedi que o Delegado Francisco dos Anjos divulgasse as propostas, inclusive, dando ciência que o projeto de indenização aposentatória já se encontrava tramitando na Assembléia Legislativa. Também, aproveitei para fazer alguns comentários sobre as  “três vias” de poder de fato na Polícia Civil e da necessidade de todos se engajarem na luta direcionadas a se cobrar ações com vistas a alavancar  projetos na área de segurança pública, inclusive, no plano de reposições de perdas salariais e se  buscar novas conquistas. Depois que deixei a repartição policial fiquei pensando: “Puxa, que pessoa educada, atenciosa..., mas será que deixará a ‘zona de conforto’ ou seria adepto também a outros tipos de ‘vias’...? Sinceramente, só o tempo...”.

Delegado Carlos Heinemberg: 

Por volta das dezesseis horas, já estava na Corregedoria da Polícia Civil  (Florianópolis) e chamei a policial Patrícia Angélica para lhe repassar  o relatório pertinente ao  Inquérito n. 18/2006, de interesse da  7ª Promotoria de Justiça, por meio da autoridade judicial competente, de Chapecó que havia requisitado a realização de  diligências investigatórias a respeito do caso  “Delegado Carlos Heineberg”. Estava feliz porque havia encontrado o documento em meus arquivos eletrônicos, e certamente poderiam ajudar muito numa futura revisão da pena disciplinar (ato de demissão) ou até mesmo criminal.

Propostas e relatos: :

Por volta das dezessete horas o Delegado Gentil João Ramos veio até minha sala e iniciou a conversa sobre o projeto do “Iprev”  que deveria ser aprovado até o final daquele  mês. Fiz alguns esclarecimentos, em especial, com relação a nossa situação e,  também, aproveitei para abordar  o nosso projeto que tratava sobre a “indenização aposentatória”. Comentei que na semana seguinte  deveria requerer minha aposentadoria. Gentil me recomendou pressa, pois até o final do mês a lei deveria estar publicada. No final da conversa Gentil revelou o real motivo porque veio  até minha sala:

- “Felipe, na sexta-feira o pessoal aqui da Corregedoria vai fazer uma peixada lá no meu prédio e como você é uma das pessoas que sempre falta, ôôôh Felipe...”.

Interrompi:

- “Espera aí Gentil, na sexta-feira eu vou estar viajando...”.

Gentil ironizou e já em ritmo de  gozação foi registrando:

- “Ah, não Felipe, você nunca foi uma festa do pessoal...”.

Interrompi:

- “Que é isso Gentil, eu estou cansado de ir a festas, meu Deus, fui todas até agora...”.

Gentil  voltou à carga e completou:

- “Felipe é que o Hilton se aposentou e a gente queria entregar uma placa para ele de agradecimento pelos anos todos dedicados à instituição. Tu concordas?  O que é que tu achas?”

Respondi:

- “Da minha parte ta tudo bem, o Hilton é amigo, não tem problema”.

Gentil concordou e foi saindo meio que de mansinho e eu completei:

- “É, ninguém é perfeito, quando a pessoa passa a deter poder muda, mas tudo bem, da minha parte...”.

Enquanto Gentil se preparava para se retirar fiquei pensando: “Puxa, o Hilton quando estava no poder respirava fogo, saia a campo, estava pronto para ir aos extremos, como foi no caso Marcucci, Heinemberg, Gross..., mas agora estava mais para um “velhinho bonzinho”, especialmente depois do seu problema na próstata que parece que mexeu com sua autoestima..”. .

O triângulo Heitor Sché, Gentil João Ramos e Renato Hendges: 

Gentil comentou que concordava que o poder realmente era algo que muda a personalidade das pessoas e acabava impondo dores, sofrimentos... Eu quase que  falei da mulher de Hilton (Cibeli) e dos tempos que eles eram os “todos poderosos” na Corregedoria..., respiravam poder sob o guarda-chuvas da Delegacia-Geral... Gentil concordou que foi um momento difícil, mas era hora de tolerância,  hora de esquecer o passado... e  acabou relatando um acontecimento que ocorreu no ano de 1974, quando foi auxiliar Heitor Sché na Superintendência da Polícia Civil e recebeu uma ordem expressa que no seu gabinete era só para receber políticos e autoridades. Num determinado dia chegou o “Comissário Renato Hendges” que veio de uma missão e estava com uma bota suja de barro, casacão, barbudo... Quando Heitor Sché foi até a salinha de Gentil e viu aquela “figura”, depois que “Renatão” saiu, perguntou para Gentil:

- “Quem era essa pessoa que estava aí contigo?”

Gentil respondeu...  e Heitor Sché lhe deu uma “lavada”, ou melhor um “puxão de orelha”, dizendo que só tinha autorizado a presença de pessoas ilustres naquele local... Concordamos que o poder era muito perigoso porque poderia deformar  o caráter das pessoas, mas que no caso do Hilton Vieira a placa procedia, especialmente, em razão de tantos anos de serviço, claro que apesar das “cagadas” dele.... Antes que Gentil deixasse o local, argumentei que no meu caso o “poder” era  algo que me tornava mais humilde, pelo menos era assim que me via: quanto mais poder, mais humildade para servir...”.