O "convocado" Delegado Rogério Zattar convocado: 

Dia 09.10.07, horário: nove horas da manhã, estava chegando na Delegacia Regional de Joinville, e quando subia  a rampa que dava acesso ao andar superior encontrei o Delegado Rogério Zattar (aposentado e ex-Prefeito de São Francisco do Sul). Começamos uma conversa amigável e Rogério comentou que que havia retornado  à ativa por conta da “lei convocatória”. Perguntei se o ato já havia sido publicado e ele confirmou que sim, dizendo que o Delegado-Geral Maurício Eskudlark já tinha acertado  tudo. Rogério relatou  que havia uma dúvida se o salário dos convocados seria calculado sobre o vencimento base ou se pela remuneração. Respondi que era pela remuneração e ele ficou mais aliviado. Aproveitei para fazer uma crítica  à maneira de  uma quase cobrança:

- “Olha, Zattar, conseguiram arranjar dois venenos para os Delegados”.

Rogério apresentando visualmente  sinais dos seus sessenta e sete anos, exclamou:

- “É mesmo?”

Continuei:

- ”Sim, um deles é esta hora extra, uma vergonha para os Delegados. Imagina, os Delegados acabam se desdobrando, se arrebentando para ganhar horas extras, sem contar que os aposentados não recebem nada e o salário vai ficando cada vez mais defasado. O outro veneno é essa convocatória agora. Por exemplo, no teu caso você exerce uma função de confiança e passa a dever favor político para quem te apadrinhou. Então, quem é que vai resistir a esse processo? Ninguém! Os Delegados novos estão recebendo horas extras e já contabilizam isso aos salários e como têm medo de perder as horas extras acabam se acovardando, não reagem a nada, silenciam, eles têm medo. Já os Delegados convocados, também tiram vagas de outros, pois não há concurso, além de dizerem amém, pois contam com aquela ‘merreca’ e também não vão se contrapor ao governo. Então, Rogério, a nossa situação é muito complicada...”.

Rogério concordou externando um olhar triste ao mesmo tempo que fez o seguinte comentário:

- “É verdade, mas com esse salário da convocatória dá para pagar uma prestação de um carro...”.

Lamentei essa observação e devolvi:

- “Eu estive agora em Videira, na semana passada, e três Delegados novos de lá passaram no concurso para Delegado no Paraná, sabes quanto é o salário inicial lá?”

Rogério deu a entender que não sabia e eu respondi na lata:

- “Nove mil e quinhentos reais. Então, olha só que vergonha. O pior governo na história dos Delegados, na história da Polícia Civil, sem dúvida está sendo este do Luiz Henrique, ninguém se equiparou a ele...”.

Rogério interrompeu para concordar e lembrou a época que ganhávamos igual ao Ministério Público o que me fez argumentar:

- “Pois é, naquela época trabalhamos muito para conseguir a isonomia, mas depois veio o Kleinubing...”.

Rogério perguntou:

- “Mas como é que a gente perdeu isso?”

Respondi:

- “Foi por conta dos Oficiais da PM, e qual era o sonho deles? Sim, ganhar igual aos Delegados. Quando o Kleinubing assumiu o governo e colocou o Pacheco na Secretaria da Segurança não deu outra. O Pacheco foi no Kleinubing e exigiu isonomia entre Oficiais e Delegados. Só que em razão da repercussão financeira tiveram que derrubar primeiro a isonomia dos Delegados com os Promotores, aí meu amigo o nosso futuro estava selado, o MP trabalhando nos bastidores e nossa isonomia  não estava ainda cem por cento garantida, só os Delegados é que não sabiam disso...”. 

Enquanto Rogério lamentava o ocorrido no passado aproveitei para completar:

- “Mas com a lei complementar dois, cinco, quatro, o Maurício Noronha que estava na presidência da Adpesc cometeu um erro imperdoável, muito grave. Imagina, além de defender  estas horas extras para os Delegados ativos e a convocatória ele concordou com tudo isso, na época só falava em ‘cristalização’ da folha, lembra, só se falava nisso? Pois é, por conta disso é que os Oficiais conseguiram novamente equiparar os salários deles aos nossos. Só que a gente sabe que fizeram isso no atacado, porque no varejo possuíam gratificações, vantagens que nós não tínhamos, mas isso é outra história, deixa prá lá”.

Rogério interrompeu:

- “Ah, sim, por isso que tem Coronel aí ganhando dezesseis mil reais por mês...”.

Comentei que nós só tínhamos  uma saída que era deixamos a pasta  da Segurança Pública. Fiz um breve relato da proposta de “emenda constitucional” que tratava sobre a criação da Procuradoria-Geral de Polícia, do segundo grau na carreira de Delegados e na subordinação direta ao governador do Estado, dando ênfase que o projeto pretendia ter um alcance muito maior, isto é, trazer os Oficiais da PM para o projeto de “unificação dos comandos das duas Polícias”. Rogério interrompeu para dizer que um Delegado que segundo constava se chamava “André” andou escrevendo uma nota num jornal de circulação estadual dizendo que não dá cinco anos para que a carreira de Delegado de Polícia seja extinta. Logo lembrei que poderia ser o novato Delegado André Mendes da Silveira e, também, voltei meus pensamentos para o Delegado “Senna” e de suas “notinhas” na coluna do leitor, aproveitando para fazer o seguinte comentário:

- “Ah, sei, deve ser o ‘Senna’, ele sempre escreve na ‘coluna do leitor no DC’, deve ser ‘Eduardo André Senna’, não é?”

Rogério balançou a cabeça em sinal de dúvida e eu continuei:

- “Bom, o ‘Senna’ é da diretoria da Adpesc...”.

Rogério fez uma cara de espanto e disse:

- “É mesmo, como é que pode um Delegado escrever uma coisa dessas?”

Respondi:

- “Bom, ele não tem espaço e acha melhor fazer um trabalho independente do que batalhar pelas vias internas, mas se não foi ele pode ter sido o Delegado André Mendes”.

O dever de casa:

Aproveitei para relatar que nós tínhamos  três vias de poder político na Polícia Civil para fazer as coisas acontecerem, começando pela  cúpula, depois os Delegados Regionais e, a seguir, passando pelas lideranças classistas. Lamentei que os Delegados Regionais eram   omissos politicamente falando,  só se preocupavam em administrar as questões regionais, esquecendo o “resto do mundo”. Mencionei, também, que os Delegados não estavam vislumbrando ou valorizando o momento em que o vice-governador Leonel Pavan iria ainda assumir o governo e que deveriam (leia-se: Delegados Maurício Eskudlark, Ademir Serafim, André Mendes...) estar mantendo conversações, apresentando propostas... Rogério concordou, perguntando se eu já tinha levado aquelas propostas e que isso era um erro gravíssimo, com reflexos futuros. Reiterei  que já deveriam  estar mantendo contatos com o Vice-Governador “Pavan” no sentido de criarem vínculos com nossas idéias, aspirações, pelo menos era o que eu pensava. Rogério perguntou se eu já conversei com Maurícìo Eskudlark, com a Delegada Sonéa da Adpesc. Respondi que ainda não, pois tinha  optado por um trabalho de base, conversando com os Delegados pessoalmente para que a coisa viesse de baixo para cima, como uma aspiração das bases e não uma pessoa  que articulava  sozinha. Rogério entendeu e concordou haja vista que as pessoas eram movidas por seus “egos”, “vaidades”... e que havia  muitos interesses por trás dessas lutas. Rogério concordou que a saída era realmente cair fora da Segurança Pública, livrar-se do peso que carregávamos... Argumentei que ficava fácil aprovar uma emenda constitucional, pois não queríamos  aumento nenhum do futuro governo “Pavan” e que somente queríamos  plantar no último ano de governo, para que no próximo, aí sim, passássemos  para o resgate  da isonomia com o Ministério Público. Prometi para Rogério que mandarei uma cópia de melhorias  institucionais e salariais. Perguntei para Rogério se ele havia lido a mensagem da Delegada Sonéa no “site” da Adpesc, em cujo texto  fez um relato sobre a audiência que tiveram com o Governador Luiz Henrique. Rogério, surpreso, disse que não sabia de nada. Pedi que ele desse uma olhada e que aquela mensagem mais parecia piada, pois foram conversar com o governador para dizer que noutros Estados os Delegados ganham mais, como ocorre no caso do Paraná e ele disse que achava que os Delegados de Santa Catarina estavam  ganhando muito bem porque outras carreiras estavam pedindo isonomia conosco, que todo mundo queria ganhar igual a Delegado no Estado. Argumentei que isso era uma mensagem sutil bem típica de uma raposa política como Luiz Henrique da Silveira, ex-Escrivão da nossa Polícia Civil para dizer que deveríamos trabalhar mais e sem reclamar porque o salário estaria muito bom. Rogério se mostrou meio que desanimado, sem ver perspectivas.