Marilisa e a força da atração: 

Dia 05.10.07, às dezenove horas, estava em meu quarto num hotel da cidade de Caçador quando recebi um telefonema do Investigador “Zico” que me avisou que a Delegada Marilisa e a Escrivã Ariane estavam querendo sair para fazer um lanche. Como tinha coisas párea digitar e estudar pedi para que “Zico”  as duas e fiquei pensando: “Será que vai ser um lanche como aquele do dia anterior ou seria apenas um café?” Na verdade não senti  aquela vibração nas palavras de “Zico”, tipo: “Puxa, doutor, vamos juntos. Faz companhia para a gente. O pessoal quer muito que o senhor nos acompanhe. Doutor vamos se divertir conosco, o pessoal está pedindo a sua companhia, o senhor vai fazer falta...”. Não havia  emoção, tampouco um telefonema especialmente de Marilisa como reforço, não havia nada,  era como “vezes nada” que nada  significava nada para mim, ou melhor, seria melhor eu permanecer recolhido  em meus aposentos, ficar restrito a minha reclusão, ao meu silêncio e não incomodá-los com minhas idéias, com meus desabafos, minhas contestações de cunho institucional, como fazia durante nossas viagens, nas “paradas”, nas “saídas” e pensei mais ainda: “Bom, se não sou uma boa companhia é melhor eu ficar recolhido ao meu universo, deixá-los bem a vontade para olhar vitrine de lojas, jogar conversa fora, falar de coisas espontâneas, divertidas..., enquanto eu ficaria recluso, permaneceria focado nos meus trabalhos junto ao computador, aliás, como havia feito na noite anterior. Depois fiquei pensando: “Nesses momentos Marilisa deveria saber como aquele seu comportamento desconectado era capaz de me ferir profundamente. Nessas circunstâncias ela se revelava tirânica, pois sabia a falta que  fazia a sua companhia, mesmo que fosse para falar de coisas do nosso mundo institucional... Mas era melhor que fosse assim, pois além de ter tempo para fazer meus registros, também, poderia ser mal interpretado, ou seja,  talvez desse margem  para se confundir amizade com obsessão, desejo, perturbação, encantamento, redenção, tolice, “abobalhamento”...  Além do mais, nessas condições uma mulher  poderia se achar poderosa, suficiente, super valorizada...”.

Uma questão de afinidade ou magnetismo?

Por volta das vinte e uma horas resolvi dar uma caminhada e pude constatar  que “Zico” e suas companhias  ainda não haviam retornado o que me levou a fazer as contas: “Esse ‘lanche’ acabou demorado, como ontem, que era para ser um lanchinho, um cafezinho, será que seria vergonha de ‘Zico’ que não quer comer nada, apenas um pão com manteiga para não gastar, e na minha presença não se sentia muito a vontade?” Até parecia uma dor de cotovelo uma sensação de “descarte”, mas não era isso que  sentia, apenas queria ver uma expressão de carinho, amizade, sinceridade por parte deles. Sei que no caso de Ariane era  mais difícil em razão da nossa falta de afinidades, do nosso contato formal, apesar de ter a convicção que dos três seria a pessoa mais provável a adotar uma atitude dessa magnitude, porém, lhe faltava o tal “magnetismo”. Sai caminhando pela cidade e numa das avenidas principais encontrei a viatura estacionada (Lanchonete e Pizzaria “Dona Benta”). Ao passar pela frente do estabelecimento avistei ao fundo, numa mesa de centro,  “Zico” sentado de frente para Ariane e Marilisa, cuja conversa parecia bastante animada, o que me levou a pensar: “Puxa, são passados das vinte uma horas, nem vou me juntar a eles para não incomodá-los, não perturbá-los e que bom que estão felizes sem a minha presença, vou ter que fazer uma autocrítica, melhorar meu comportamento, evitar ser tanto institucional, não é justo forçar assuntos que acabam sendo ‘massantes’ para cabecinhas tão carentes de conversas leves, risos, piadas, cotidiano das mulheres...”. Segui mais a frente e encontrei uma pizzaria numa rua transversal e foi lá que resolvi jantar. Por volta das  vinte e duas horas resolvi retornar para o hotel, passando novamente em frente a “Dona Benta” e lá estavam os  três ainda conversando do mesmo jeito... Marilisa estava espichada para o lado, sentada na ponta da cadeira e conversava com Ariane sob o olhar atendo de “Zico”. Procurei passar rapidinho e vim para o Hotel, sem ser notado (invisível) e sem saber que horas chegaram. 

Dia 05.10.07, por volta das sete horas da manhã, fui tomar café no hotel, porém, não encontrei ninguém da equipe correcional. Aliás, fui o primeiro a chegar para o café.

Quando acusou oito horas desci para fechar a conta encontrei o Investigador  “Zico” na recepção. Em seguida vieram Marilisa e Ariane e pudemos iniciar  nossa viagem com destino à Porto União. No caminho, logo na saída de Caçador relatei  que na noite anterior  tinha saído à noite para dar uma caminhada e os encontrei na Lanchonete Dona Benta, no centro da cidade. Marilisa foi dizendo:

- “Ah, temos um ‘espião’, heim?”

Rebati:

- “Ah, pára, eu estou contanto, né! Cheguei a ver o ‘Zico’. Acho que ele me viu, cheguei a cumprimentar ele de longe. É que o ‘Zico’ me disse que vocês iriam fazer um lanche e eu não estava a fim de comer lanche. Também, estava com vontade de dar uma caminhada...”.

Tinha colocado um “CD” do  “Yes” e amigos (duplo) para ouvirmos durante o nosso trajeto por “Calmon”. Depois de rodarmos um pouco, perguntei para o pessoal que músicas eles queriam ouvir. Ariane se adiantou: “Pelo amor de Deus, só não quero ouvir ‘Patricia Marx’, hoje não, está bom esses seus CDs, doutor”. Eu, justamente que estava querendo ouvir o CD que Ariane trouxe, em especial aquelas faixas “espelho da alma”, “quando chove” e outras, fiquei só na vontade. Depois do “Yes”, passei para um CD do “Focus” e por último “Michael Franks” (Ocean Blue). Passamos pelas cidades de Canoinhas, Mafra e chegamos à Rio Negrinho, para almoçarmos numa churrascaria já conhecida.

Horário: onze horas e trinta minutos, antes de chegar na churrascaria de Rio Negrinho Marilisa mencionou  “caipirinha de steinheguer”, a minha preferida (tinha falado sobre isso no dia anterior, durante à viagem para Videira). Acabamos os dois com vontade de beber caipirinha. Antes, porém, primeiro Ariane e, em seguida, Marilisa foram para o banheiro fazer “xixi” pela terceira vez desde que saímos de Caçador. “Zico” tinha se dirigido para o banheiro dos homens enquanto eu resolvi esperar um pouco. Depois de alguns instantes resolvi também ir até o banheiro só que me enganei e entrei no banheiro das mulheres, onde havia dois locais reservados com bacio, que estavam com as portas fechadas. Tentei achar o local adequado e como não encontrei acabei desconfiando que estava no lugar errado. Logo que estava saindo ouvi “barulho do xixi” descendo forte como uma cachoeira. Estranhei me perguntando  como alguém fazia “chover” tanto,  estilo cascata. Pensei em Marilisa,  no seu tamanho, baixinha pequena, seu corpo mais para magra... Bom, “noves fora”, retomei o rumo certo e fui para o banheiro dos homens me aliviar e lavar as mãos, não fazendo menos barulho se comparado aqueles que tinha ouvido antes.

“Inebriados”:

Na sequência nos encontramos todos na mesa para almoçar. Marilisa foi na frente. Pedi para o garçon servir uma caipirinha na medida. Enquanto isso, fui até o “Buffet” e pedi para o atendente cortar uma fatia de costela que estava à disposição dos clientes. Levei o pedação de costela para Marilisa. Ariane do meu lado já se servia no seu prato “a lá vegetariana”. “Zico” havia pegado seu tanto.  Logo que a caipirinha chegou dei duas bicadas e repassei para Marilisa que estava radiante. Em seguida pedi um vinho tinto seco. Marilisa picou a costela em pedaços e foi “mandando ver”, intercalando com pequenas tragadas daquela bebida suavemente inebriante. Era engraçado o jeito como Marilisa sorvia aquela carne. Ela garfava os pedacinhos de costela de uma maneira nervosa, impulsiva, quase que com um quê de selvagem,  deixando escapar seus murmúrios  de “hummmm, hummm”. Enquanto isso eu tomava meu vinho de gole em gole, admirando Marilisa com seus gestos nada harmônico, nada sincronizado, nada pausado..., porém, carreado de verdades.  Ela simplesmente pescava os pedaços de costela e rapidamente trazia a boca, mascando e dançando na boca, parecendo sorvê-los instintivamente, mexendo as bochechas, pressionando as mandíbulas em contínua performace com seu  “hummm”, como se estivesse bailando seu ventre por meio dos seus lábios.  Em silêncio, fiz uma ponte, focando aquelas imagens  e aromas imperdíveis, com a sua maneira de ser, julgar, viver, ou seja, como era fulminante, detratora, injuriante quando queria ser...  e ao mesmo tempo dócil, carinhosa, compreensiva, delicada... Lembrei que no dia anterior ela tinha xingado seu pai e seu ex-marido, chamando-os de “tansos” (muito embora soubesse que ela os amava e os respeitava com ardor). Era a sua impulsividade que causava ruídos e chegava, em determina dos momentos, a beirar o absurdo. Agora vendo-a comer, ao vivo e a cores, um filme passava bem na minha mente e não tinha como não fazer aquelas pontes. Fiquei pensando em silêncio: “Puxa vida, como ensinar ‘poesia’ para uma pessoa assim tão cheia de absurdos instintivos? Afinal, parecia ser muito complicado...”. Acabei bebendo a minha taça de vinho e Marilisa a sua caipirinha. Eu e ela acabamos nos passando um pouco enquanto “Zico” e Ariane se divertiam com nossos lances. Ariane lembrou:

- “Este mês tem gente de aniversário, são dois patinhos, não é doutor?” 

Fiquei quieto, apesar de ser comigo mesmo. “Zico” do outro lado comentou:

- “O doutor aí paga para não aparecer em festa. Ele vai pagar a torta, vai mandar, mas não vai aparecer...” (risos).

Interrompi:

- “Pô, ‘Zico’, tu já me conheces bem, heim? Mas não é assim, se for para a felicidade da nação, digo, do pessoal da Corregedoria, que não tem problema...”.

Ainda sobre o encontro de Marilisa com o Delegado Regional “Carlão”:

Acabamos falando do Delegado “Carlão” (Carlos Evandro da Luz) e do nosso contato com ele no dia anterior na Delegacia Regional de Caçador. Depois de ouvir nossos comentários Marilisa acabou desabafando:

- “É, eu sei que tu és bem assim. Eras capaz de me abandonar lá dentro com o ‘Carlão’ e ir embora. Eras capaz de me deixar lá, pensa que eu não sei?”

Achei graça daquela sua reação. “Zico” riu e olhou para o chão meio que sem jeito. Ariane também sorriu discretamente, dando a impressão que se segurava... Argumentei:

- “Bom, eu vi que ele estava numa conversa super animada contigo. Eu vi que ele não queria te largar e achei que tu estavas no clima dele. Quando voltei, depois da ouvida do PM, eu disse que estava indo até a Delegacia da Comarca, querendo dar um toque para ti, mas o ‘Carlão’ se antecipou dizendo que era para eu ir na frente que depois ele te levava. Olha, Marilisa, eu olhei para ti e vi tu te encolheres na cadeira, vi o teu olhar pedindo por socorro, tipo: ‘por favor me tira daqui, socorro’. Mas aí eu não podia fazer mais nada. Não é Ariane que eu tinha dito para ti no final da audiência que eu iria até o gabinete do Delegado tentar  tirar a Marilisa de lá?”.

Marilisa interrompeu:

- “É, pensa que eu não te conheço, tu ias me abandonar, és bem desse tipo...”.

Interrompi:

- “Não faria isso, ainda mais quando te vi daquel jeito, encolhidinha na cadeira, pedindo socorro, mas como eu disse que estava lá na Delegacia da Comarca e ele falou que em seguida vocês dariam uma chegada lá...”.  Marilisa comentou que “Carlão” tinha um apartamento na praia da Enseada, em São Francisco, e queria vender. Também, comentou  que “Carlão” queria agradar, e acabava falando demais, dando um cansaço. Acabei com a taça de vinho e argumentei para o pessoal que não poderia passar daquela dosagem. Como o clima estava alegre Marilisa e Ariane disseram que me preferiam assim solto sob efeito do vinho do que sério como era quando estava sóbrio. 

Contos e relatos insuspeitos do Investigador “Zico” e o “descarte” do Delegado Garcez:

Na seqüencia e aproveitando o clima “Zico”  relatou  uma passagem do Delegado Garcez com a Escrevente M. (da Corregedoria), quando numa viagem para o oeste, pernoitaram na cidade de Xanxerê, e num restaurante à noite foram surpreendidos com a presença  do Delegado “S.”. Acabaram os quatro (Zico, M., Garcez e "S.") jantando juntos. Noite adentro, o Delegado “S.” aparentando já estar tudo combinado com a policial, percebendo que Garcez teimava permanecer ingenuamente na mesa, recebeu uma indireta:

- “Tá na hora de você ir dormir, Garcez’”.

“Zico” contou que o “doutor Garcez” ficou surpreso e bastante chateado com a situação, pois não imaginava que  “M.” (sua secretária nos trabalhos correcionais) tinha combinado aquele encontro  bem ali naquele local, sentindo-se descartado. Argumentei que “Garcez” e um “figurasso”. Marilisa comentou que não conhecia o Delegado Garcez. Brinquei, dizendo:

- “Um dia tu conhecerás”.

Marilisa rebateu imediatamente:

- “Eu não quero conhecer ninguém. Não quero conhecer o doutor Garcez”.

Olhei para ela e sentenciei:

- “Bom, se essa é a tua vontade, então não vais conhecer o Garcez”.

Terminamos o almoço e fomos saindo em fila indiana. Marilisa foi na frente, cheia de alegria e sob efeito daquela sua espontaneidade inerente. Em determinado momento ela quis parar de inopino bem na minha frente e voltando meio passo, quase que me chamando para um abraço ou querendo provocar choque quase acidental... Acabei me segurando, ou seja, evitando esse tipo de ocorrência, até porque poderíamos sermos mal interpretados, ainda mais que nós dois estávamos sob efeito do álcool em pleno início da tarde. Já “embarcados” a nossa viagem transcorreu sob o som doce de Paula Toller e seu “Kid Abelha”.

Horário: treze horas, chegamos finalmente em Joinville e fomos levar Marilisa até sua casa e pedi que  “Zico”  levasse sua bagagem. Ela se despediu mandando um beijo com um gesto por meio dos dedos da mão direita levado aos seus lábios. Procurei evitar sair do carro para abraços apertados para evitar a impressão de  intimidade ou muita proximidade além do formal.

Horário: dezessete horas, mandei um torpedo para Marilisa, dizendo: “Ma, não esq. de  agradecer o teu presente. Com carinho. Fé”. Era um “Marques Del Turia” espanhol e me pus a pensar no presente  e como poderia retribuir o presente...  No carro aquele CD de Larry Carlton com a música “Those Eyes”, lembrando não olhos de alguém, coisa do gênero, tão-só, uma viagem ao que nunca ocorreria, apenas no universo metafísico, numa “fenda do tempo”,  ou num processo de encantamento decorrentes de nossas redes neurais amigáveis que poderiam nos fazem ver, sentir... a importância de uma grande amizade.