O encontro com o Delegado Alberto Rosa:

Data: 20.11.08. Horário: 09:00h.  Como de costume nos últimos dias, estava na  Corregedoria  e o Delegado Albert veio me visitar para mais uma conversa rápida. A primeira coisa que Alber me perguntou é se eu tinha conhecimento da decisão do STF sobre aposentadoria de policiais civis no Distrito Federal. Argumentei negativamente e  veio a explicação o que me fez lembrar  dos fatos já que o assunto estava na ordem do dia. A seguir Alber relatou que na semana passada esteve na cidade de Lages e conversou com Delegados daquela cidade o que me fez relembrar  a nossa conversa sobre o controle velado que os Delegados Regionais fazer sobre seus subordinados e como isso acabava concorrendo para que não houvesse  reações contra tantas indignidades e testemunhássemos tantos  retrocessos institucionais. Durante o curso da conversa Alber relatou  que  várias vezes testemunhou a Delegada Sonêa “batalhando” pelas causas dos Delegados no Estado, mas que lamentavelmente ela não conseguiu resultados, ou seja, que morreu na praia. Interrompi para comentar  que ela não tinha  perfil para liderar  as nossas lutas classistas, presidir a Associação dos Delegados. Alber insistiu que várias vezes viu Sonêa fazendo contatos, conversando com políticos, colegas... Interrompi para afirmar  que na verdade o esposo de Sonêa  (Delegado Neves) era quem mandava no gabinete do Secretário de Segurança para assuntos de interesse dos Delegados, mas que havia também o peso da presença do Delegado-Geral Maurício Eskudlark. Reafirmei que o Delegado Neves era o segundo homem na hierarquia da Pasta da Segurança. Questionei Alber que resultados  Sonêa havia conseguido  para  os Delegados, para a Polícia Civil e meu visitante  ponderou  que no mês de janeiro viria alguma melhoria salarial para os Delegados. Diante dessa informação mirei o olhar no meu interlocutor  e me perguntei em silêncio: “E os nossos policiais civis? Os Oficiais da PM vão aceitar isso pacificamente? Será que Albert  acredita mesmo em Papai Noel?” Depois desse instante de silêncio afirmei:

- “Bom, o que é possível é a elevação do teto salarial e o cumprimento da lei dois cinco quatro em parcelas, mas isso por causa da pressão da ‘PM’”.

Albert deu a entender que  concordava com meus argumentos, muito embora não quisesse se manifestar enquanto aproveitei para aduzir  que não existiam projetos na Polícia Civil e se houvesse desconhecia se  trariam melhorias nos salários ou que talvez fossem para maquiar as perdas salariais de quase uma década. Alber acabou concordando e eu aproveitei para dizer que tinha apresentado para o Delegado-Corregedor Nilton Andrade um anteprojeto para reestruturação da Corregedoria da Polícia Civil. Indaguei, ainda,  se ele tinha conhecimento dessa minha proposta e Albert pareceu se equivocar com sua resposta:

- “Ah, sim, o Feijó (Corregedor-Geral da Segurança Pública)  apresentou, estou sabendo...”.

Interrompi:

- “Não, não é esse, isso é outra coisa. Eu estou falando de um projeto nosso, da Polícia Civil, dos Delegados...”.

Albert se deu por conta da gafe e comentou  que não tinha conhecimento de anda, então completei:

- “Bom, vamos ver, o Nilton deve ter repassado a proposta para o Delegado-Geral. Eu estou indo embora, não vou ficar muito tempo na ativa, mas o importante é deixar alguma coisa para melhorar isto aqui, temos esse compromisso de deixar isso melhor...”.

Em seguida acabamos conversando sobre as próximas eleições para a direção da Associação dos Delegados e Alber comentou que qualquer um que liderasse uma chapa contra a Delegada Sonêa ganharia as eleições facilmente. Albert me perguntou o que eu achava do Delegado Mário Martins? Argumentei:

- “Bom, o Mário é um candidato fabricado... Eles agem assim, o Thomé foi candidato pelo PMDB e está lá na ‘Ouvidoria da SSP’. Levou o Mário com ele, estão lá... e têm tempo para articular. Como eles estão prevendo que o governo vai mudar então a jogada é o Mário sair candidato para pegar a ‘Adpesc’ novamente e já que ele tem penetração com o pessoal do governo ‘Amin’..., ele já foi candidato, é filiado...,  então tudo fica mais fácil, se mudar o governo eles ficam bem novamente, é aquilo que a gente já conhece, um segura o outro..., isso é como um jogo...”.

Albert acabou concordando estampando um sorriso irônico, e eu acenei com os braços abertos para o alto... Albert me perguntou qual seria o nome de um Delegado para formar uma chapa de oposição para concorrer à direção da “Adpesc” que pudesse inspirar confiança, alguém comprometido  com  lutas, ideais... Argumentei:

- “Bom, nós tentamos formar uma chapa de oposição à Sonêa com o ‘Flares’ (Delegado Regional de Videira), mas ele correu da parada. Ele tinha perfil, era o ‘cara’ para o momento, foi candidato a deputado pelo PMDB, tem penetração política, foi presidente do ‘Deter’... Bom, tá certo que depois ele teve câncer, ficou fragilizado, mas na época seria o cara, eu tenho certeza que  bem melhor do que a Sonêa numa possível reeleição, sem compromissos com o Secretário de Segurança, mas com canal  aberto no governo...”.

“MP”: O jogo do poder? A procura ‘Del.’”:

Albert me interrompeu:

- “É, eu pensei naquilo que tu me dissesses outro dia, fiquei pensando, martelando dias sobre aquilo que tu me dissesses sobre a conversa lá que tu tivesses com o Delegado Regional de Itajaí, aquele história de controle velado, depois sobre como o Ministério Público faz, lá eles sempre têm dois grupos de ‘Promotores’, os da situação e o da oposição,  sempre estão fazendo o ‘jogo do poder’, elegem o pessoal melhor para o momento...”.

Interrompi:

- “Olha, sinceramente, Albert, eu vejo poucos Delegados hoje com perfil para formar uma chapa para concorrer à presidência da “Adpesc”. No sul eu não vejo ninguém, no norte do Estado teria o ‘Dirceu Silveira’, mas olha só a história dele, olha  a trajetória  profissional, uma pessoa que já foi ‘Delegado-Geral’, ‘Diretor’, agora é Delegado Regional, tem ligações políticas com o PMDB, com o Governador Luiz Henrique e o que ele fez pela Polícia Civil? Nada, absolutamente nada, só se manteve no poder...”.

Albert me interrompeu:

- “E ele é uma pessoa que tem muita resistência entre os próprios Delegados...”.

Continuei:

- “Bom, no ‘Planalto Norte’ é uma tristeza, meu Deus, como nós estamos mal de Delegados lá...

(...)

- Quem? O Leonísio? Meu Deus, não tem a mínima condição de liderar, não vai querer sair de lá, não tem história de luta classista... E, aí tem aquela mulher lá em São Bento, a ‘Roesler’, acho que é isso... Bom, em Mafra, Canoinhas, Porto União é uma tristeza, acho que é um dos piores lugares, falta gente... No vale do Itajaí é outro deserto, e só se salva mesmo o ‘Paulo Koerich’ que é uma interrogação...”.

Quando citei o nome desse Delegado, Alber fez um sinal de afirmação corroborando minha análise, enquanto continuei meus comentários:

- “Sim, porque o ‘Paulo’ é uma pessoa centrada, focada e o que é mais importante, ele passa alguma convicção, circula bem, tem desenvoltura, só falta alguém ir lá para ajudar ele e dá um ponta-pé inicial...”.

Alber interrompeu e comentou  que se dava muito bem com Paulo Koerich, que iria procurá-lo... Continuei minha análise:

- “Bom, o Paulo foi ligado ao ‘Carvalhinho’ (Promotor de Justiça Luiz Carlos Schmidt Carvalho ex-Secretário da Segurança Pública no último governo Esperidião Amin – 1998 – 2002), é precoce  e acabou tendo visibilidade. Ele seria um bom nome, claro, se tivesse uma boa equipe. Bom, resta o oeste e o extremo oeste, é lá que temos um celeiro de bons Delegados. Eu não vou citar Curitibanos, pelo amor de Deus porque lá a gente conhece o pessoal. Mas, dali para dentro tem muita gente boa, só que é um pessoal que está distante, não tem como reagir, se organizar... Não tem aquela máxima: melhor, bem distante, então...”.

Albert me interrompeu:

- “Tem o ‘Stang’, é um bom Delegado, puxa, ele está lá no oeste, onde é mesmo...?”

Completei:

- “Sim, ele está em São Miguel do Oeste, ele é excelente. Então, é o que eu estou te dizendo, a esperança estaria no oeste e extremo oeste...”.

Albert novamente investiu:

- “Mas os Delegados lá têm se manifestado, eles têm se reunido...”.

Lamentei em silêncio aquela consideração e Alber fez um comentário interessante:

- “Bom, temos que ver se o ‘Pavan’ vai assumir o governo...”.

Interrompi:

- “Sim, claro que vai, esse é outro fator, mas vai ser por um ano. Ah, tomará que a cúpula da Polícia Civil tenha algum projeto importante para repassar para o ‘Pavan’, meu Deus, eu espero que esse pessoal saiba o que está fazendo, que não perca a noção da importância do momento. Eu espero que o Maurício (Eskudlark), Ademir (Serafim), a Magali, o Colatto, que esse pessoal que tem ligações com o ‘’Pavan’ e são lá da região dele..., eu espero sinceramente que eles saibam o que estão fazendo porque até agora só tem viajado, feito contatos, mas nada de concreto. Você abre o ‘site’ da Polícia Civil é uma tristeza, só notícias de prisão de ‘ladrão de galinha’, só coisa pequena, não há uma notícia institucional de impacto... Aliás, o ‘site’ da ‘Adpesc’ é a mesma coisa, só enrolação, não há nada de concreto, eles pegam notícias transplantadas de outros ‘sites’, de outros Estados e ‘colam’ ali para o  pessoal ler, subestimam a  inteligência dos nossos pares... (lembrei da conversa com o Delegado Abreu...). Bom, mas nessa do ‘Pavan’ assumir o governo resta a opção ‘Delegada Magali’, acho que ela talvez seja a esperança se estiver ligada, ela tem relações como o ‘Pavan’, está lá em Balneário Camboriú pelas mãos do Maurício e do Ademir, então ela é que seria uma candidato em potencial para a direção da ‘Adepsc’...”.

Depois entramos numa conversa sobre história da Polícia Civil e passei a relatar acontecimentos da época do Superintendente Delegado Antonio Abelardo Bado (anos de 1986 até 1989), como ascendeu ao  poder... e fiz algumas considerações sobre os  projetos nessa época, a luta para organizar os policiais civis, a mobilização para  uma nova consciência político-institucional a partir da criação da “Federação Catarinense dos Policiais Civis” (Fecapoc) e das associações regionais (APOCs), nossos desafios... Durante o curso da conversa mencionei que a Delegada Sonêa teve um azar muito grande de ter sucedido o Delegado Maurício Noronha na direção da “Adpesc”, justamente porque ele não se deu bem como presidente. Citei que foi com Maurício Noronha que perdemos a ‘Polícia Científica’, além da  ‘Corregedoria-Geral de Polícia Civil’..., além dos Oficiais da PM terem seus salários equiparados aos Delegados, o que acabou determinando arrocho salarial para todos... Albert me interrompeu:

- “Bom, acho que ele só perde para o Alberto Freitas...”.

Imediatamente rebati as palavras de Alber com energia:

- “O quê? Estais falando do Alberto Freitas? O Alberto foi um dos melhores presidentes na nossa história, se não foi o melhor. Quem fala isso não conhece a história do Alberto, mas eu conheço um pouco. Me diz quando é que nós tivemos os melhores salários na nossa história?”

Alber balançou a cabeça e logo percebi que ele ingressou na carreira de Delegado no final da década de noventa, bem depois... Continuei minhas considerações:

- “Foi no ano de 1989, quando nós conseguimos equiparar nossos salários aos dos Promotores de Justiça. Foi um período áureo e lá estava o Alberto como um guerreiro lutando pela isonomia com o Ministério Público. Eu não vou dizer que essa luta foi exclusiva dele. Não foi. Mas ele foi fundamental, ele foi peça chave, assim como nós da cúpula da Polícia Civil liderada pelo  ‘Bado’, enfim, todos nós que estávamos no comando. Também, teve papel importante o irmão do governador Pedro Ivo Campos, o Emannuel Campos, e  que figura... Está certo que depois, no ano de 1991, o Governador Kleinubing revogou a isonomia salarial, mas isso foi outra história, foi articulação do ‘MP’, também, o Secretário de Segurança na época,  o Coronel Pacheco, ele  precisava acertar os salários dos Oficiais da PM, imagina, qual era o sonho dos Oficiais naquela época? O Pacheco acabou sendo enganado, mas não deixou o cargo de ‘SSP’. Então, o Pacheco assumiu no meio daquele cenário, foi pressionado politicamente, tinha que acertar a situação dos militares, só que errou, porque nós é que acabamos pagando o preço. E, o Alberto Freitas não teve como segurar aquela situação,  e ninguém pode culpá-lo desse acontecimento, foi algo muito superior já que foi quase uma imposição do ‘MP’ junto ao governador...”.

Albert deu a impressão nítida que desconhecia a história, muito provavelmente, foi o seu ex-sogro, Delegado Lourival Mattos que desejou essa história, só que era preciso que a verdade fosse restabelecida e voltei a centrar minha crítica a administração Maurício Noronha:

- “Bom,  esse foi um dos nossos piores momentos, talvez o de maiores retrocessos, o mais negro,  pergunte para o Noronha o que realmente de concreto nós conseguimos na sua época?”

Albert me interrompeu:

- “Ele comentou que naquele momento o que só podia ser negociado eram as horas extras para os Delegados...”.

Interrompi:

- “Alber, Alber, pelo amor de Deus, que então tivesse ficado como era, que não tivéssemos aceito aquele veneno, vê se Juiz de Direito quer horas extras, vê se Promotores de Justiça lutam por hora extra, vê? Isso foi uma escravização branca, hoje o que se vê é um processo de acovardamento, de apequenamento... Os Delegados têm medo de se indispor porque podem perder horas extras, uma vergonha, onde chegamos..., e o que dizer dos aposentados?”

Albert comentou:

- “Eu às vezes converso com minha mulher (Delegada Ivete) sobre a nossa realidade e  realmente nós chegamos a conclusão de que...”.