O caso do policial Neto:

Dia 30.06.11, horário: vinte horas e quarenta minutos, recebi uma mensagem no celular que tinha como origem Marilisa.  Estava com Silvane no mercado Giassi de Campinas (São José) e pedi inicialmente que ela verificasse a origem. Logo que li a mensagem soube que Marilisa estava no “juri” do policial “Neto” que estava ocorrendo no fórum de Joinville, cujo processo disciplinar ficou sob minha responsabilidade. Marilisa completou que depois me ligaria para fazer um relato do que estava ocorrendo. Fiquei feliz já que nos últimos dias tinha lembrado dela com muito carinho. Deixei Silvane no “Lar Dona Zulma” (Centro Espírita) e fui para casa aguardar um possível retorno.

Breves notas sobre o policial civil “Neto”:

O Agente Neto trabalhou com Marilisa na DPCAMI de Joinville. Era um velho conhecido no meio policial em razão de ter uma vida pessoal meio conturbada haja vista  problemas financeiros... Um fato relevante era que seu filho cursava Medicina na Universidade Federal de Santa Catarina. As investigações sobre um caso de homicídio em Joinville estiveram a cargo do então Delegado Regional Dirceu Silveira e pelo Coordenador da “Dic” de Joinville (Delegado Bini). Os dois Delegados concluíram suas investigações apontando o policial civil Neto como autor do crime. Neto estava preso há mais de um ano no Presídio de Joinville em razão da decretação de sua prisão preventiva. Logo que assumi o caso por meio da Corregedoria da Polícia Civil consegui levantar provas de que as investigações policiais apresentavam muitas falhas e que testemunhas apresentaram depoimentos controversos... Tudo parecia “arranjado” para que fosse apresentado à sociedade um “bode expiatório” e assim se desse o caso por encerrado a partir de uma “solução” caseira, imediata e "eficaz".

Eis a minuta preliminar da portaria inaugural do procedimento:

“PORTARIA P-No.         /SSP/CPC/COPOC de             /2010. O Delegado-Geral da Polícia Civil, no uso de suas atribuições legais, em conformidade com os artigos 226 e seguintes da Lei n. 6.843/86 – Estatuto da Polícia Civil RESOLVE: 1.  Determinar a instauração de Processo Disciplinar tendo como acusado M. R. S. N., Agente de Polícia, matrícula n.    , lotado na Delegacia de Polícia de ...., imputando-lhe  as infrações prevista  no artigo 211, III, c/c 204, ambos da Lei n. 6.843/86 (Estatuto da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina), considerando o conteúdo do Inquérito Policial n. 098/2009 da Central de Polícia da Comarca de Joinville; 2. Constituir comissão de processo disciplinar a ser integrada por Felipe Genovez, Delegado de Polícia de Entrância Especial, matrícula nº 142.561-7, atualmente designado para prestar exercício na Corregedoria da Polícia Civil, Éster Coelho,  Delegada de Polícia de Entrância Especial,   matricula nº  (   ),  lotado na      , e,  Sandra Andreata, Delegado de Polícia de Entrância Final, matricula n.  (   ), lotada na                 , para, sob a presidência do primeiro apurar irregularidades administrativas atribuídas ao acusado em razão da existência de indícios de ter sido mentor do homicídio que vitimou Waldemar Pellens, cujo fato ocorreu no dia 12.08.2009, numa residência situada na rua Manoel Calixto Rodrigues, n. 74, Jardim Sofia, Joinville, tendo como razão do delito o fato da vítima ter um crédito de aproximadamente vinte mil reais com o acusado, tendo contratado R. A. G., que foi transportado pelo mesmo e mais outros comparsas até a residência da vítima  para executar o crime, de cujo local ainda subtraíram dois automóveis, além de outros bens.  Florianópolis,                        de 2010 – Ademir Serafim – Delegado-Geral da Polícia Civil”.

Por volta das vinte e duas horas e quarenta e cinco minutos Marilisa me ligou emocionada para dizer:

- Boa noite Doutor Felipe.

Da mesma maneira respondi:

- Boa Noite Doutora Marilisa.

Na verdade aquela formalidade tinha motivação por causa do horário avançado e, também, pela sua discrição já que sabia que eu deveria estar na companhia de Silvane. Na sequência Marilisa foi comentando:

- O júri acabou e o ‘Neto’ foi absolvido. Tudo graças ao que tu fizeste. O Promotor pediu a absolvição no final. Tu vales ouro, tu não imaginas... Estamos todos aqui chorando, emocionados. O ‘Neto’ é velhaco, isso todo mundo sabe, mas nunca mandante de crime, isso não”.

Interrompi:

- Sim, chegaram a mencionar o trabalho da Corregedoria?

 Marilisa respondeu:

- Sim, o Doutor Lavarda várias vezes enalteceu a Corregedoria, a tua pessoa. O Promotor também elogiou o trabalho da Corregedoria. Não, você é uma pessoa que vale ouro...”. 

Como percebi muita emoção nas palavras de Marilisa aproveitei para lembrar que ela valia “diamante” e assim nos despedimos, ambos emocionados.

Corregedor Nilton Andrade deu o ar da sua graça: 

Dia 01.07.11, horário: onze horas e vinte minutos, estava no meu gabinete, na Corregedoria da Polícia Civil, quando o Delegado Nilton passou em frente da minha porta para dizer:

- Felipe, aquele policial lá de Joinville foi absolvido pelo Juri ontem à noite, tu sabias?

Respondi:

- Sim, sim, inclusive o Ministério Público pediu a absolvição dele. O júri decidiu tudo com base no trabalho da Corregedoria.

Nilton externou certo ar de satisfação, muito embora contido, coisa típica de policiais já calejados e vividos, como nós. E assim, continuamos nossos afazeres, como sempre, fazendo a vida seguir.

Dia 07.09.12, dia da Independência, horário: quinze horas e vinte minutos, eu e Silvane tínhamos acabado de almoçar num restaurante de Joinville (Bairro Pirabeiraba) e resolvi dar uma passada na casa de Marilisa. Logo que chegamos estacionei a caminhonete em frente a sua residência e Silvane foi me indagando:

- Mas isso aqui é casa? Parece mais um galpão”.

Respondi que Marilisa morava no andar de cima, num apartamento. Silvane comentou que iria aguardar no interior do carro enquanto fui até o interforne para tentar um contato. Depois de tocar alguns vezes ouvi uma voz do interior perguntando; 

- Quem é?

Mais aliviado, reconheci a voz de Maralisa. Reparei que na porta de entrada havia três interfones, um da residência de Marilisa, outro do advogado Lima (ex-marido dela) que possui escritório no local e um terceiro de uma empresa de filmagens de evento. Respondi para Marilisa:

- Oi, aqui é um amigo.

Do outro lado ela respondeu que iria colocar uma roupa e que já retornaria. Logo imaginei que ela havia espiado pela janela e reconheceu meu carro. Depois de alguns instantes de espera duas pessoas saíram do interior do prédio e aproveitei para entrar, aguardando no hall próximo da escada para fazer uma surpresa. Quando Marilisa passou a descer os degraus peguei no pé dela pelo lado, quase junto ao tornozelo, dizendo:

- Advinha quem chegou?

 Marilisa estampou um sorriso de satisfação e veio logo me dar um abraço de boas-vindas que me pegou de surpresa, e perguntou:

- Tais sozinho? Vamos subir.

Respondi: 

- Não, não estou sozinho, a Silvane ficou no carro.

Marilisa argumentou:

- Convida ela para entrar.

Respondi:

- Eu já convidei, acho que só se tu fores lá convidar ela, vai la”.

Marilisa imediatamente foi até o carro e interrompeu Silvane que já estava no “Iphad”... Ela a irradiava aquela sua velha simpatia, no entanto, dava para perceber seu inchaço provocado pelo estresse dos últimos lances. Fomos os três para o segundo piso para tomar um café e colocar os assuntos em dia. No correr da conversa Marilisa fez algumas considerações, tudo entre risos, raiva, ódio e deu uma boa nova:

Darci e Dirceu:

- Segundo a pesquisa estou em quinto lugar...o meu amigo Darci de Matos é um f. , um c., um m. Sabes que o Dirceu me chamou e quis que eu assumisse a ‘Corregedoria’ e o setor de cartas precatórias, mas eu não aceitei. Aí eu estava conversando com o Darci e ele me perguntou por que eu não aceitei a proposta do Dirceu de assumir... Eu olhei para o Darci e perguntei: ‘Como é que é, Darci? Como é que é... Quer dizer que o Dirceu já te contou? Então é isso... Imagina, o Dirceu já tinha conversado com o Darci e contado para ele o que havia me proposto, pode? Então, são uns falsos, uns mentirosos. Bom, o Dirceu foi uma grande decepção, aqui ninguém gosta dele, ninguém suporta ele. Ele só se mantém naquele cargo lá de Delegado Regional por causa do sogro dele, o Bizoni que já vai para o sétimo mandato e ele é assim com o ‘Luiz Henrique’ que é outro..”. Silvane interrompeu o desabafo de Marlisa para dizer: “Mas o Felipe disse que você e o Darci de Matos eram tão amigos...”. Marilisa fez uma cara e logo contestou: “Que amigo, aquilo é um f. , um s. v. , um f. , ele quer agradar a todo mundo e dá nisso. Mas agora que eu estou em quinto na pesquisa teve um dia que ele me ligou três vezes... Essas pesquisas aí são todas compradas, o ‘Udo’ está em primeiro porque o ‘Luiz Henrique’ manda em tudo, ele é que comprou essa pesquisa, mas o Kennedy é quem vai ser eleito, tu vai ver, ele é inteligente, ele e bonito, sabe falar, não é como esses aí... Mas se der no segundo turno Kennedy e Tebaldi aí eu acho que vou ter que desaparecer, sou muito amiga dos dois. O Darci está fazendo campanha para o ‘Udo’, todo mundo sabe, ele está apoiando o candidato do ‘Luiz Henrique’, do PMDB....”.

Depois de muita conversa jogada fora dei um conselho para Marlilisa:

- Não te esquece que o importante é ter mandato, não adiante ter muitos votos e não chegar lá, tu precisas se eleger, depois se o Kennedy for eleito prefeito não te esqueces de pegar a relação de todos os cargos na Prefeitura e de indicar teus nomes, o teu pessoal. O teu mandato e a eleição do Kennedy é a garantia de moeda de troca e é isso que tu precisas para ter algum projeto futuro. Marilisa me interrompeu:

- O Gelson Merísio esteve aqui me procurando em Joinville e queria que eu fosse vice do Kennedy, mas eu não aceitei. Os policiais não estão nem aí, não me procuraram. O Dirceu fica falando aí que eu estou velha, não presto mais para nada, então agora é uma questão de honra...”.

Interrompi:

- Olha, Marilisa, o fato de tu já seres candidata é uma grande vitória...”.

Marilisa comentou:

- O bom disso tudo foi eu ter me desligado da Polícia Civil, ter entrado nesse öba-öba que é tão bom. Eu estava na Delegacia da Mulher e o Dirceu me tirou da direção, colocou a Delegada Alessandra, casada com o Promotor, tu precisas ver o que eu passei com ela, que pessoa difícil, tive que aceitar uma Delegada que entrou ontem na Polícia Civil, que assumiu a titularidade... Mas depois que a Alessandra perdeu um dos filhos (eram gêmeos) na gravidez ela se aproximou de mim e aí acabamos amigas. Agora ela agora está em Florianópolis. O marido dela foi transferido para lá..”.

Marilisa ainda comentou que o Delegado Zulmar está bem nas pesquisas e que o ex-Delegado Marcucci está apoiando o Pastor Gomes que tem tudo para se eleger.  Também falamos do falecido policial “Neto” e Marllisa fez um breve relato sobre o “Juri” e que dias antes procurou o Promotor Tramontim relatando que a Corregedoria iria pedir a absolvição daquele policial que estava preso. Relatou que no início Tramontin hesitou sobre o caso, porém, depois que soube que a ‘Corregedoria” iria pedir a sua absolvição preferiu ouvi-la, que queria uma cópia do procedimento disciplinar e do relatório final. Marilisa ainda relatou que durante o júri tanto o Promotor como o Juiz foram implacáveis com a Polícia Civil de Joinville, especialmente para com os Delegados Dirceu e Bini e que os jurados pediram a absolvição de Neto por unanimidade. Depois dos cafés, pegamos uns “santinhos” e nos despedimos pois a tarde já estava no seus últimos momentos.