DEFINIÇÃO OU DEFINIÇÕES DE LETRAMENTO E DE MULTILETRAMENTOS

                                                                      Ludmilla Paniago Nogueira

                                                                      Neide Figueiredo de Souza

 

Magnabosco (2009) cita Soares (2002, p. 144) ao conceituar letramento “como estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que desempenham, efetivamente, as práticas de leitura e de escrita, e participam de forma competente dos eventos de letramento”. Assim, para ser letrado o sujeito precisa saber fazer uso do ler e do escrever para atender às exigências da sociedade no que se refere à leitura e à escrita. Soares (2002) aprofunda esse conceito ao afirmar que o letramento no papel se difere do letramento digital no que se refere à condição na qual a prática de cada um acontece. O letramento digital exige outros conhecimentos, como os conhecimentos técnicos sobre informática, por exemplo.

Kleiman (2014, p. 81) explica que os multiletramentos surgiram do “impacto do texto digital, com suas combinatórias de diversas linguagens com modos específicos de significar.”. Daí a definir multiletramentos como as diferentes “formas de representar significados dos diferentes sistemas semióticos - linguístico, visual, sonoro ou auditivo, espacial e gestual - inter-relacionados no texto multimodal contemporâneo.” (KLEIMAN, 2014, p. 81). Essa definição decorre de um estudo realizado por um grupo de pesquisadores - “New London Group” (Grupo de Nova Londres), ao ampliarem a concepção de letramento além muito daquela que, segundo eles, embasa o trabalho escolar.

Na perspectiva do estudo realizado por Coavolella (2019), podemos afirmar que a prática de ensino voltada aos multiletramentos se constitui “em uma prática que não se restrinja à mera escolarização, mas que promova uma reflexão sobre as formas de participação e de construção de sentidos nesse contexto.” (p. 82).

Em outras palavras, contribui para a formação cidadã do estudante a partir do momento em que o coloca diante de diferentes culturas pelos diferentes meios de interação, os quais eles passam a fazer “usos sociais da língua que compõem o seu cotidiano e que atuam diretamente na constituição de sua identidade.” (p. 85). E ainda, por “contextualizar os horizontes sociais, culturais e históricos que permeiam as práticas multiletradas realizadas no contexto virtual” (p. 85). Além do que, o ambiente virtual é um espaço democrático.

“Não é mais pertinente afirmar que a inserção do computador na escola é uma inovação. O computador com acesso à internet e com mídias relacionadas é um importante instrumento de trabalho do professor para o ensino. A inovação está relacionada à implementação de metodologias e estratégias didáticas; está relacionada a fazer uso das técnicas e das tecnologias de um jeito melhor e, no caso das práticas educativas, deve voltar-se para o desenvolvimento de processos de ensino e de aprendizagem criativos, inteligentes, colaborativos, práticos, significativos.”

.

Desafios do professor na promoção de atividades pedagógicas com exploração adequada de tecnologias.

Mota (2007) argumenta que o letramento e os multiletramentos trazem uma proposta diferente de prática de ensino para a promoção da aprendizagem. Por isso trazem consigo a necessidade de capacitação dos professores para o pleno acompanhamento dessa era digital. No entanto, como explica Magnabosco (2009, p. 49), a “introdução de novos meios de comunicação, dinâmicos e em permanente transformação revelou o grande atraso do ensino escolar e a dificuldade que esse tem de se atualizar e acompanhar o ritmo da modernidade.”. Considerando que é o professor quem está na linha de frente do ensino, seus maiores desafios decorrem da falta de domínio pleno dos meios tecnológicos, que por sua vez, o faz manter suas práticas aos métodos mais tradicionais, limitando sua expansão para outros caminhos digitais. O comportamento dos professores conforme se percebe no Texto II denota outro desafio do professor: superar a fluência dos alunos no uso dos recursos tecnológicos, principalmente por que é ele (o professor) quem vai orientar as atividades, e para fazê-lo de forma adequada, deverá ter conhecimento tecnológico acerca dos recursos que ele e seus alunos utilizarão.

Dois fatores que dificultam a aprendizagem no contexto digital.

Ao realizarem uma pesquisa sobre a “Leitura em ambiente digital no espaço escolar (UCA)”, Gaydeczka e Karwoski (2015) visavam analisar os benefícios trazidos pelo uso do computador em sala de aula. A realidade encontrada evidenciou que dois fatores dificultam a aprendizagem no contexto digital: a precariedade da infraestrutura na escola e (des)preparo dos professores para inserir o computador em suas aulas. O primeiro pode incidir na questão de falhas na conexão da internet e o segundo, na falta de formação continuada para a inserção das tecnologias na prática pedagógica.

Com base no Texto I, se antes da era digital o professor era considerado o detentor do conhecimento, hoje seu papel mudou, pois, os recursos para o processo de ensino-aprendizagem também mudaram. As aulas monótonas estão desafiadas a serem inovadas, melhor elaboradas, mais motivadoras, que sejam capazes de levar o aluno aprender a aprender, com a orientação do professor. E cabe ao professor se capacitar (sempre) para esse feito. No que se refere à infraestrutura, cabe à escola essa adequação.

Com o advento da era digital, conforme mostram os textos que abordam o letramento e os multiletramentos, o professor precisou se mobilizar para atender às novas formas de ensinar e de aprender. Diversos recursos tecnológicos passaram a ser disponibilizados nas escolas e algumas capacitações (nem sempre suficientes) foram ofertadas aos professores para que passassem a trabalhar com esses recursos. Dessa forma, a necessidade de inserir atividades digitais passaram a compor a rotina da prática do professor.

 

Referências Bibliográficas

 

BRAGA, Denise Bértoli. Práticas letradas digitais: considerações sobre possibilidades de ensino e de reflexão social crítica. In: ARAÚJO, Júlio César (org.). Internet e ensino:novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

CIAVOLELLA, B. Multiletramentos e contexto de escola pública: linguagem e sentidos nas e sobre as redes sociais. 2015. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2015.

KLEIMAN, A. B.;SIGNORINI, I. et al. O ensino e a formação do professor. Alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.

KLEIMAN, A.B.; VIEIRA, J.A. O impacto identitário das novas tecnologias da informação e comunicação, In: MAGALHÃES, I., CORACINI, M. J. & GRIGOLETTO, M. (Orgs.).Práticas identitárias: língua e discurso. São Paulo: Editora Claraluz, 2006, p.119-132.

ROJO, R. Gêneros Discursivos do Círculo de Bakhtin e multiletramentos. In: ROJO, R. (org.). Escola Conectada: os multiletramentos e as TICs. São Paulo: Parábola, 2013. p. 13-36

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento.6 ed. São Paulo: Contexto, 2010