As pessoas transmitem ideias? O primeiro impulso é afirmar que sim. “Transmitir ideias” é uma abstração. Não comuni- camos abstrações. Abstrações e significados formais são como rótulos de arquivos de experiências. Ou um menu de um restaurante. Não são realmente o que elas se referem. Elas precisam passar pela nossa ex- periência, sustentar-se em percepções para fazerem sentido. Os mapas, modelos ou representações que fazemos da realidade são construções sensoriais complexas, cuja forma de utilizar nós chamamos de “ideias”. O mapa não é o território. O nome do arquivo não é o arquivo.

A palavra não é a ideia e a ideia não é a experiência à qual ela se refere. Ideias implicam intenções e se sustentam por represen- tações de experiências. Elas deixam pistas.Cada vez que pensamos, temos ou mudamos de ideia, esse processo é acompanhado de pistas mínimas, discretas na voz, postura, gesto, olhar, mímica, etc. indicam os diferentes acessos às diferentes qualidades de experiências. Essas pistas são motivo de análise (obser- vação, experimentação e interpretação) da comunicação: da minha, da sua e da nossa.

A comunicação dialógica, é aquela na qual há pelo menos duas lógicas diferentes entre pessoas ou dentro de uma mesma pessoa.

Por exemplo, quando alguém fala: “Por um lado eu penso X, por outro penso Y”, temos duas lógicas interagindo entre si, com duas visões de realidade, duas intenções ou propósitos em busca de um denominador comum. Essa é a comunicação dialógica. É diferente da comunicação instrumental, voltada para a realização bem feita de tarefas. A in- tenção da comunicação instrumental é realizar a tarefa conforme o que foi planejado. A da comunicação dialógica é gerar possibilidades que tenham efeitos e façam sentido pessoal e coletivo.

Na comunicação dialógica a expectativa de uma das partes se realiza quando vai ao encontro da outra e constitui a expectativa de ambas. E redes dialógicas acontecem quando mais que duas dimensões ou partes interagem.

Quando acompanho reuniões, percebo como as pessoas expõem planilhas, gráficos e projeções estatísticas, como se elas falas- sem por si mesmas. Fica a impressão que as palavras e dados numéricos significam perfeitamente as ideias. A comunicação baseada no signifi- cado das palavras seria simplesmente a capacidade de usá-las de forma correta de acordo com as regras da língua. Entretanto, isso não se basta. Há uma diferença entre compreender o significado das palavras e compreender as intenções que movem as pessoas a se expressarem através delas e também através dos seus sentidos físicos.

“O que é que tu queres que eu faça?” Essa forma de linguagem tem uma implicação: “você manda e eu faço”. Transformar o diálogo, enquanto busca da compreensão mútua, em uma ou mais tarefas a serem feitas é uma estratégia comum para escapar da condição dialógica em nossa cultura tradicional voltada para tarefas. É comum, por exemplo, convidar alguém para “tomar um cafezinho” quando no fundo o que se deseja é conversar e, se possível, que essa conversa constitua um diálogo, e que ele agregue as partes em interação algo novo, melhor, mais inspirador e realizador, em comum,

Mergulhados nos afazeres do dia a dia, correndo para lugar nenhum, esquecemos nossa condição de seres dialógicos: de como somos e estamos em redes uns com os outros. E de como é em redes humanas que encontramos nosso sentido. É nela que nos reconhecemos e fazemos nossas escolhas. O resto é mesmo pura correria.

Sistemas Humanos são “Com-Cientes”

O adulto exclama: -“Por que você fez isso?”. A criança simplesmente não sabe. Descobrirá interagindo. Se assumir a “culpa”, estará sendo induzida a punir-se ou a consentir ser punida por algo impossível: de saber algo sem ter experiência disso. A expressão: “des- culpe” foi consagrada como equivalente a dizer: “Foi sem querer”. Ora, se foi mesmo sem ter uma intenção negativa, qual é a culpa? E vai lá o futuro adulto para o divã. A criança não precisaria sentir-se culpa- da se a comunicação com o adulto e consigo mesma fosse dialógica. Ou seja, se o adulto pergunta: “ por quê?”, ela responderia confiante: “porque achei curioso”, “interessante”, ou algo assim. E o adulto ouviria com toda a atenção e respeito. Entretanto, uma criança não se autoriza ainda a responder por si mesma, e não é por falta de vocabulário. A consequencia mais grave será na fase adulta , se a pessoa continuar a desautorizar-se perante figuras de autoridade.

Se um aprendiz, adulto ou criança, tiver obrigação de fundamentar cada nova atividade exploratória e justificar cada nova descoberta antes de fazê-la, inibir-se-á. A proibição de experimentar para saber é um contrassenso.

A cultura tradicional não tem tempo e não dá espaços para aprendizagem interativa, seja ela instrumental ou dialógica. Queremos tudo pronto para ontem. E de uma forma que seja a nossa. Apesar de sabermos que nossa experiência não é a experiência do outro, ainda as

A subordinação escraviza e lentifica nossa capacidade de pensar e agir interativamente. A coordenação estimula.

Assim, agimos como se fosse. Isso ainda fica no imaginário coletivo como perda de tempo.

Os melhores líderes se destacam por facilitarem a percepção de novas possibilidades pelo próprio exemplo, em direção a propósitos comuns inovando espontaneamente e sem esforço em ambientes de alta interatividade.

Na cultura tradicional as pessoas fazem isso pelo prazer de descobrir e inventar e não esperam um reconhecimento formal dos outros. Acham estimulante e divertido agir com essa atitude e postura e não aceitem subordinação passiva, “sem graça”. Ficam assistindo e aplaudem sem serem os protagonistas. No teatro ou no cinema aplaudem ou vaiam. No Facebook, “curtem”. É o equivalente a bater palmas em uma enorme plateia. Entretanto quando convocados a construir um plano ativamente e responsabilizar-se pela execução em redes colaborativas, caem fora.