De Deus para o mundo: uma Eclesiologia (1) – Igreja presente de Deus

De Deus para o mundo: uma Eclesiologia (1) – Igreja presente de Deus

A Igreja é um dos presentes que, mediante a ação de Jesus e os dons do Espírito de Amor, Deus concedeu à humanidade. E para completar o presente, Jesus também nos deu sua mãe, os ensinamentos da Palavra e os apóstolos para direcionarem a caminhada por meio daquilo que hoje chamamos de tradição da Igreja.

E tudo isso vem do Pai e nos é dado pelo Filho na forma de dom do Espírito de Amor. A comunidade trinitária manifesta-se como modelo para a comunidade eclesial. E assim, o presente de Jesus na realidade é um convite para que a comunidade humana se irmane, interaja, e cresça na “amorização”. Partindo do modelo trinitário, uma perfeita relação “pericorética”, a comunidade eclesial almeja e se direciona, cresce e sonha em alcançar a plena comunhão, perfazendo cotidianamente sua história de povo de Deus a caminho.

Dada como presente, a Igreja não é como os nossos presentes. Ao nos dar esse presente, Jesus não o entrega como quem presenteia numa tentativa de compensar uma ausência. Quem presenteia fica simbolicamente presente, não porque está junto, mas na forma de recordação, uma vez que está ausente. E a presença do ausente é, simbolicamente, representado pelo presente: uma ausência que tem, no símbolo, a prova da ausência. Dessa forma o símbolo presente, representa a ausência e não a presença. O presente, portanto, manifesta-se como uma compensação pela ausência.

Não foi isso que fez o Senhor! Jesus fez diferente, uma vez que ele deu o presente – Igreja – primeiro como sinal de presença. E essa já é uma diferença essencial: a igreja é sinal – e não símbolo – da presença; mas também como presença em comunhão, pois o Senhor, mesmo ausente fisicamente, está presente numa relação de comunhão: na eucaristia é o próprio Senhor que se atualiza, se faz presente, não como simbolo, mas como atualidade.

A humanidade se encontra com o Senhor quando se faz Igreja. É a Igreja (comunidade dos que aderem/aceitam o presente) que celebra a Eucaristia: e a Eucaristia não é um simbolo, mas uma presença real, concreta e atual. Com a Eucaristia a Igreja nos alimenta com o verdadeiro Corpo de Cristo. A Igreja atualiza a presença de Jesus, uma vez que a eucaristia não é uma promessa nem um presente compensatório, mas uma manifestação concreta de uma presença concreta.

A celebração da Eucaristia, portanto, é por excelência a concretização da presença de Jesus Cristo entre nós. Ao celebrar a Eucaristia somos convocados ao diálogo com o Deus-Trino, manifestado e revelado em Jesus, para que a comunidade que forma a Igreja seja um só povo: muitos formando um só, perfazendo o modelo trinitário.

Por esse motivo podemos dizer que Jesus não é a Igreja, mas está na Igreja, abrindo uma proposta de comunicação. E permanece entre os seus e junto com os seus porque é o centro da comunidade orante. Sabemos de sua continuidade entre nós porque confiamos em sua promessa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20b). Vale a pena refrisar que Jesus se atualiza (faz-se presente) na Igreja, a comunidade dos orantes; está presente na celebração da eucaristia na forma de alimento vital e se comunica conosco pela sua Palavra que orienta a vida comunitária daqueles que celebram essa presença redentora.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO