“...Se vem às tempestades,acostas,que o Porto é Santo.

Se vem às calmarias,percebas que o mar é manto...”
Proclamava no passado o visionário navegador Genovês.

A Lua Senhora é a mais bela e velha testemunha,de cada uma das tentativas da vida permanecer-se viva.



Nunca houve noite que pudesse impedir o nascer o Sol.



As águas primordiais banham,



molham e secam os finos grãos de areias nas praias,



ao mesmo tempo,



que a cada dois anos,



celebram e vivificam-se como num passe de mágica,



alguma liquida parte na obra de cada artista.



A água que flui e nos transborda.



Quando estamos fadados,os pensamentos novos,



revigoram-nos do seu jeito,nossa tremula inquietude.



De certo a juventude,não tem idade



é a parte motriz de um continuo movimento,



que nos joga para frente,e nos joga para traz.



Os rios correm para o mar,as chuvas umedecem a terra.



Repetidamente. Atemporal a qualquer tempo.



Mesmo que as vinhas tragam consigo o gosto amargo da luta,



à brisa,que sopra de tarde,vinda do grande mar azul,



refresca pouco à pouco a alma cinzenta e suada da gente.O novo é a parte sobrevivente do passado,em uma releitura.



Revigora-nos e ficamos pequenos outra vez.



Cada criança assustada,escondida no coração da gente,desperta-se sorridente,na saudade de saber que nada sabeexatamente e tão pouco,cada vez menos se entende.As verdades estão cada vez mais veladas.E vem à luz.A arte,é a parte mais bela de tudo,que na alma da gente,desperta-nos e nos completa,sem qualquer tecnificação estabelecida. E o artista,é todo aquele que,muitas vezes sem percebero que pode acarretar em nós,diz.Universalidades. A arte é o ideograma certo original,a palavra-idéia-universal, nunca dita,mas nem portanto maldita.De todos nossos intranqüilos óbvios,que na vida não permitimos contentamento algum,nem tão pouco,deixamos cair-se em lugar comum.O exato que prevalece e aparece em todos os lugares..A Insensata Rebeldia.A arte é o caminhar de corpo,e alma,e do coração puro,para cada um que segue seu escuro,seu jeito,a cada feito,e não percebe defeito em seu próprio e estreito caminho.O isolamento fértil do artista. Não como um defeito.Mas como único,certo,e egoístico desejo,de ser efemeramente eterno,enquanto dure.Não tão mais que em um instante.Mesmo assim glorificante.A arte é feita para si mesmo.Infinito até o próximo momento.O eterno movimento que nunca para,há de nos apagar.E nossas cinzas serão colocadas no mar.E um dia inadvertidamente,acordarmos e percebermos,que somos enfim,não mais que a pequena parte, frágil e tão engraçada, do desenho riscado,em cada chão de giz.

texto de Ricardo Barradas,para a
III Bienal de Porto Santo - 2009 - Portugal .