DE “CHAPA” A “MEU PATRÃO”, UMA CARONA AMIGA À BEIRA DA ESTRADA: ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DA EMPRESA WELMS NO PROCESSO LOGÍSTICO DE CARGA E DESCARGA EM MUNICÍPIOS DE SERGIPE

Este artigo retrata a falta de condições de trabalhos, onde homens realizam carga e descarga de caminhões nas grandes cidades do território brasileiro, tendo como base, cidades sergipanas onde estão instaladas indústrias de diversos seguimentos. Também destaca um caso de sucesso onde EX CHAPAS, criaram uma empresa de AJUDANTE DE CAMINHÃO, e atuam com todos diretos do trabalhador perante a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas. A metodologia adotada tem uma abordagem qualitativa, baseada em entrevistas e dados coletados junto aos agora AJUDANTES DE CAMINHÃO e antes CHAPAS, destacando funcionários da WELMS que prestam serviços dentro de unidades da Vulcabrás / azaleia, localizada no município de Frei Paulo, a 74 km da capital. Conclui que, mesmo sendo de grande importância o trabalho dos Chapas, se faz necessário a criação de novas empresas para desempenhar as atividades de carga e descarga com os benefícios inerentes a todo trabalhador.

Desde o início da década de 90, várias empresas começaram a se instalar no estado de Sergipe, oriundas de estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e outros, para estabelecerem aqui suas plantas industriais, gerando empregos e desenvolvimento para a região visando, em contrapartida, benefícios como: redução de impostos e mão-de-obra menos onerosa, esta em virtude da grande demanda por postos de trabalhos.

A chegada dessas empresas gerou vários empregos diretos e formais, dados os postos criados pelas próprias companhias, bem como indiretos e informais, criados pelas necessidades que existem no processo de carga e descarga e que as empresas não se responsabilizam por estes serviços.

Neste cenário de informalidade, encontramos os “CHAPAS’, aqueles que nas entradas das cidades ou até mesmo já em frente das empresas, esperam pelos caminhoneiros para prestarem os serviços de carregar e descarregar caminhões com produtos acabados, equipamentos, matérias primas e etc, uma vez que os caminhoneiros na maioria das vezes não viajam com seus ajudantes de caminhão.

Como a maioria das empresas, mais precisamente as indústrias também não possuem esses serviços, os caminhoneiros requisitam os serviços dos chamados CHAPAS, conhecidos assim praticamente em todo território nacional, mas que em estados como o Ceará são conhecidos como CAPATAZIA[1], os quais têm significativo papel no desenvolvimento do nosso país, atuando diretamente nos processos logísticos que se somam para o desenvolvimento da nação.

A exemplo de várias outras ocupações, os chapas trabalham sem registro em carteira, sem recolher para o INSS, à margem de vários benefícios e garantias. Literalmente à margem, mas neste caso das rodovias, percebemos  um significativo número de homens, em dias de sol ou de chuva, sinalizando quando os caminhões passam, oferecendo seus serviços de ajudante de carga e descarga, como também informando para os caminhoneiros os destinos em que eles procuram (as empresas para onde a carga vai chegar ou sair). A grande maioria desses trabalhadores não tem endereço comercial fixo e nem outro ponto de referência, o que dificulta muito esse trabalho, já que marginais se passam por chapas para poder roubar cargas dos caminhoneiros.

Tentando evitar todas essas condições adversas para a categoria desfavorecida, é que cinco amigos, na cidade de Itaporanga, localizada no interior de Sergipe, a 30 km da capital é que decidiram não continuar trabalhando e vivendo nessas condições sem benefícios, como: Férias vale-transporte, aposentadoria, entre outros, resolvendo, então, criar a WELMS, empresa de ajudantes de caminhão, que iniciou atendendo a uma indústria de calçados, prestando serviços de carga e descarga de matérias-primas, produtos acabados e equipamentos, hoje a empresa, WELMS já atua em vários municípios de Sergipe, inclusive na capital (Aracaju) atendendo a empresas, nos ramos de Calçados, alimentos, transportadora, envasamento de água mineral e também uma empresa de celulose.

Dentro do contexto acima referendado, emerge um questionamento de partida, qual seja: qual a importância da empresa WELMS no processo logístico de carga e descarga no estado de Sergipe? Surgindo como possíveis respostas que: a) iniciativas como esta retiram da informalidade, trabalhadores deste setor; b) gera recolhimento de impostos ao estado; c) gera qualificação e profissionalização dos trabalhadores envolvidos; d) há uma padronização dos serviços de carga e descarga; e) estabelece sentimento de tranquilidade junto aos caminhoneiros, haja vista saberem que suas cargas serão tratadas por “profissionais”.

      Pegando carona com chapas bem sucedidos

Ainda trabalhando como operador de máquinas na linha de produção em uma indústria de calçados em sua cidade natal, Itaporanga D’Ajuda – Sergipe cortada pela BR 101, onde diariamente trafegam centenas de caminhões, um dos criadores da empresa de ajudante de caminhão já enxergava que poderia ganhar mais dinheiro e trabalhar por conta própria. A partir dessa sua observação, decidiu sair da empresa onde trabalha a cinco (05) anos, e arriscar a vida profissional como CHAPA, descarregando e carregando os caminhões que chegavam a sua cidade para atender as indústrias que lá estavam instaladas.

Durante esse período que iniciou o trabalho como Chapa, os seus amigos chegaram a chamá-lo de “maluco”, por ter deixado de trabalhar com registro em carteira, em uma grande empresa do país, perdendo os benefícios de um trabalhador normal, para ficar esperando a chegada de um ou outro caminhão trazendo materiais para descarregar, ou para carregar de produtos já industrializados nas empresas localizadas na cidade. Os amigos não imaginavam que Waldemir junto aos outros quatro amigos (chapas) passaria de simples trabalhadores, que estavam sempre em disputa com outros chapas para que os caminhoneiros escolhessem quem descarregaria ou carregaria seus caminhões a verdadeiros PATRÕES.

O Ministério do Trabalho e Emprego, não define exatamente a ocupação do Chapa, no entanto, classifica-o como ajudante de caminhão, que é o profissional responsável por carregar e descarregar caminhão. Além desta função o Chapa principalmente os das grandes cidades, tem também a função de informar. Ou seja, ele leva o caminhoneiro até o seu destino final, fazendo o trabalho de guia. Eles não trabalham registrados, não emitem recibo de seus serviços prestados e muitas vezes são marginalizadas as beiras de rodovias. Existem ainda algumas definições populares que nos remetem a forma carinhosa como os chapas tratam os caminhoneiros. Frase como: "meu chapa", que no linguajar popular, significa meu amigo. Aliás, o dicionário completo da língua portuguesa lançado pelo jornal Agora, tem uma definição neste sentido, cujo significado é amigo intimo e parceiro.

A visão empreendedora de Waldemir (hoje o Vaval da WELMS) e seus amigos, partiu da necessidade dos mesmos em saírem de uma situação não favorável de um trabalhador sem os benefícios trabalhistas, para empresários de uma empresa de ajudantes de caminhão.

Hoje a empresa já com mais de 15 anos de existência, e todos os funcionários possuindo registro de trabalho em carteira, e prestando serviços de terceiros para grandes e pequenas empresas instaladas em nosso estado, os funcionários da WELMS, ainda são discriminados em alguns lugares onde prestam seus serviços, explica o Waldemir: - Hoje prestamos serviços para varias empresas, mas nosso pessoal ainda é visto por alguns gerentes e supervisores com indiferenças. Acho que essas pessoas não entendem que os produtos deles estão passando por nossas mãos, e fazemos esse trabalho porque gostamos, é um trabalho honesto, e nós precisamos também ser reconhecidos como pessoas dignas (explica Waldemir).

A mentalidade que conduz a uma sempre crescente marginalização dos chapas – dos indivíduos e dos pontos de maneira geral -, integra a pirosfera das normas logísticas. Os pontos de chapas são considerados locais que abrigam desde homens honestos que buscam ocupação, alcoólatras, viciados, ex-presidiários ou bandidos foragidos, que tentam a reinserção social. Esta incerteza sobre a idoneidade dos indivíduos e expandida ao contexto de todos os pontos de chapas. E quando não se tem os menores indicativos, ou menores indicativos, ou mesmo conhecimento da existência de pontos, que provem o contrario, é cada vez mais difundido considerar todos os pontos de chapas potencialmente perigosos.

A estrutura da empresa é composta por três sócios, sendo dois deles desde o inicio da criação da empresa, o Waldemir e o Seu Zé (Luís), apenas uma participante do quadro de sócios, a Marcia, viúva do Eduardo um dos criadores da empresa, falecido em um acidente automobilístico, esse junto a Waldemir, Marcio, Seu Zé e o Zé Broco (Sobral) criaram a WELMS. Marcia assumiu a vaga de seu esposo (Eduardo) após o falecimento do mesmo.

O nome WELMS, leva as iniciais dos nomes dos cinco membros que iniciaram essa jornada (Waldemir, Eduardo, Luís, Marcio, Sobral).

          Não é fácil ser chapa

Mesmo não sendo reconhecidos como profissão, os chapas precisam aprender os procedimentos existentes para carga e descarga, tarefas que eles aprendem no dia a dia, sem que sentem ao banco de uma sala de aula, já que existem no mercado cursos para formar o ajudante de carga e descarga, oferecido pelo SEST – Serviço Social do Transporte / SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. A função do ajudante de carga e descarga de mercadorias é descrita na CBO - Classificação Brasileira de Ocupações sob o código 7832-35. Nesse sentido, o ajudante prepara cargas e descargas de mercadorias, movimenta mercadorias em caminhões, entrega e coleta encomendas, manuseia cargas especiais, repara embala­gens danificadas e controla a qualidade dos serviços prestados. Além disso, opera equipamentos de carga e descarga, estabelece a comunicação, emitindo, recebendo e verificando mensagens, notificando e solicitando informações, autorizações e orienta­ções de transporte, embarque e desembarque de mercadorias com os clientes da transportadora. Esses profissionais exercem suas funções em empresas de transporte ter­restre e naquelas onde as atividades são consideradas do ramo de transporte. Trabalham, dependendo da ocupação e do tamanho do veículo de transporte, em duplas ou em grupos, sob uma supervisão ocasional e também permanente, em ambientes fechados, a céu aberto e no interior dos veículos.

 A preparação das cargas e descargas de mercadorias é de suma impor­tância nos processos logísticos. Entende-se por logística o processo de pla­nejamento, implantação e controle do fluxo eficiente e satisfatório de maté­rias-primas, estoques de produtos em processo de transformação, produtos acabados e informações relacionadas aos movimentos de mercadorias, desde um ponto de origem até os pontos de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do consumidor (Novaes, 2001).

     Sabe-se que para movimentar cargas existem vários equipamentos para carregar e descarregar vários modais, tudo isso por conta das inovações tecnológicas que na maioria das vezes esses adventos acabam retirando de varias pessoas (Chapas) única oportunidade de trabalho já que por não terem a chance de frequentar a uma sala de aula, acabaram submetendo-se a trabalhar na informalidade, e mesmo assim perdendo seus postos de trabalhos para modernos equipamentos manipulados pela tecnologia. Mas por outro lado, o chapa é um trabalhador que está muito longe de desaparecer. É uma alternativa a todo e qualquer processo de transporte.

“É interessante observar que os chapas são um elemento contraditório integrante das necessidades de supply chain. O emprego de trabalhadores contratados em todos os termos da Legislação Trabalhista Brasileira gera um custo elevado. Especialmente quando observamos a relação custo/beneficio nas atividades de carga e descarga de mercadorias e matérias primas”.

“O raciocínio é consideravelmente simples: por que gastar grandes quantias de dinheiro com encargos sociais os mais diversos com a contratação de mais funcionários, sendo que é possível gastar poucos reais pagando um trabalhador desempregado como um chapa qualquer? E melhor, não é se quer necessário que a empresa ela mesma faça o contrato. Estabelecem-se os termos dos serviços a serem realizados e paguem os chapas. Não é preciso sequer ter qualquer tipo de contato físico ou de comunicação com eles! Basta dar uma quantia para o caminhoneiro para que ele mesmo contrate um ou mais chapas para a carga/descarga. E mesmo que o caminhoneiro peça um valor um pouco excessivo, sempre será mais barato que pagar salario e encargos sociais”.

       É o serviço utilizado geralmente em portos e estações/terminais ferroviários, onde profissionais autônomos, ligados a sindicatos ou de empresas particulares, executam o trabalho de carregamento/ descarregamento, movimentação e armazenagem de cargas.