O país começa na segunda-feira (dia 22 de junho) a dar adeus aos tradicionais boletos de papel. No dia 19 de outubro, entra no ar o Débito Direto Autorizado (DDA), sistema criado pelos bancos que permite o pagamento eletrônico desses boletos, utilizando canais como a internet ou o celular. Na segunda, dia 22, começa o pré-cadastramento das pessoas interessadas em aderir ao sistema.

O DDA permitirá que os clientes visualizem e paguem seus boletos sem a necessidade de uma cópia impressa.

Estima-se que atualmente sejam emitidos 2 bilhões de boletos por ano, com um valor médio de R$ 1 mil cada. O DDA estará disponível para faturas como mensalidades escolares, planos de saúde, condomínios e financiamentos. As cobranças de concessionárias de serviços públicos não entram no sistema nesta primeira fase.

Segundo o coordenador do projeto DDA na Febraban, Leonardo Ribeiro, a adesão ao sistema será uma opção do cliente, e não do banco ou do cobrador. A partir da próxima segunda-feira, os bancos estão autorizados a divulgar o sistema entre os clientes e fazer uma espécie de "pré-cadastramento" de interessados, diz Ribeiro.

Para os bancos, as mudanças podem representar uma relevante economia, com a diminuição de custos com impressão e envio de cobranças. Para os clientes, o novo sistema será uma alternativa às atuais formas de pagamentos.

A implantação do DDAdeve reduzir pela metade a impressão de documentos em um prazo de três anos.

Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), cada instituição vai decidir a forma de implantar o DDA. "Cada banco definirá os canais que vai oferecer para o cliente ter acesso ao DDA, como internet, celular, caixa eletrônico", diz Walter Tadeu de Faria, assessor técnico da Febraban.

A ideia de começar com o boleto é porque ele é conhecido em todo o país e usado por pessoas físicas e jurídicas (de pequeno e grande porte). Na primeira fase do projeto, alguns títulos de concessionárias (como contas de água, telefone e luz) ficam de fora.

O Brasil é o primeiro país do mundo a ter um sistema como o DDA. Alguns países estão curiosos sobre o projeto e a Febraban já fez apresentações nos Estados Unidos, Itália e alguns países da América Latina. José Antonio Marciano, chefe de operações bancárias e de sistema de pagamentos do Banco Central, afirma que o projeto é uma forma de melhorar a eficiência dos pagamentos. "É muito evidente o crescimento dos pagamentos eletrônicos e queremos eles ainda mais eficientes."

Para utilizar o novo sistema de cobrança, o cliente primeiro deve fazer o cadastramento no banco com que opera. Além disso, o responsável pela cobrança do boleto – como escolas, lojas e condomínios – tem de se inscrever no sistema. Após essa etapa, o banco define a maneira como o cliente irá acessar seus boletos eletrônicos para quitar os débitos.

O sistema será facultativo. Ou seja, quem quiser pode continuar recebendo os boletos via correio.

No início de implantação do sistema, os boletos de tributos e serviços de concessionárias, como água, luz e telefone, não poderão ser acessados.

Por ano, são pagos dois bilhões de boletos, como mensalidades de escola, condomínios, seguradoras e cobranças de empresas. A projeção da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é de que entre 30% e 50% dos boletos migrem para o mundo eletrônico em três anos.

Leonardo Demola Ribeiro, do Banco Santander e um dos participantes da comissão que criou o DDA, destaca que as principais vantagens do sistema estão na redução de custos para empresas, que incluem economia de papel, despesas com correios e transporte. Fora que não vai mais ser preciso digitar os vários números do código de barras no caixa eletrônico, pois com o DDA a conta aparece na tela do caixa. Em alguns casos, diz ele, era preciso digitar até 45 números. O sistema também evita fraudes e economiza tempo. Desde que a empresa emite o boleto físico, até ele chegar na casa do cliente pode demorar até oito dias. Com o DDA, esse prazo cai para dois dias.

Quem não gostou muito do projeto foram as entidades que representam empresas de entregas de documentos e motoboys, que terão menos trabalho.

Ribeiro destaca que a adesão ao DDA será voluntária. Quem optar por pagar eletronicamente se cadastra no banco, que passa a encaminhar os boletos eletronicamente (utilizando o correio eletrônico ou mensagem no celular). O DDA não é um débito automático. O cliente tem que pagar após receber a notificação eletrônica.

Bancos como Bradesco, Itaú e Banco do Brasil afirmaram estar com tudo pronto para o início do projeto. No Bradesco, o banco já faz o rastreamento das contas a pagar e apresenta boletos eletronicamente para os clientes desde 1996, conta Ademir Cossiello, diretor executivo do banco. Segundo ele, dos 35 milhões de boletos da instituição, 9 milhões já entram nesse rastreamento e são liquidados eletronicamente. "Vamos estimular nosso cliente a usar o DDA."

O sistema não tem custos para o cliente e ainda economiza árvores, destaca a Febraban. Os dois bilhões de boletos anuais equivalem a 374,4 mil árvores cortadas. "Ainda estamos cortando muitas árvores para fazer papel (de cheque e de boletos)", brinca Marciano.
 
Bibliografia
Jornal Folha de S. Paulo de 19 de junho de 2009
Jornal Valor Econômico de 19 de junho de 2009
Jornal O Estado de S. Paulo de 19 de junho de 2009