DAVID HUME “ SEÇÃO X  - DOS MILAGRES”

Ivone Cortina

Licenciatura em Filosofia

Faculdade de Ciências Humanas – FACH

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1- Resumo

Davi Hume fez a obra sobre Investigação Humana em 03 volumes e nota-se em seus escritos um homem mais compenetrado em seus estudos, em oposição a sua obra “O tratado” onde se percebe um Hume mais precoce. Hume não concorda que a razão e emoção sejam compartilhadas, mas sim buscava a relação entre a causa e o efeito. Empregava a expressão causuação e não causalidade.  Na verdade Hume queria redigir sua obra onde o “Tratado” sistematizasse o conhecimento humano. O ponto norteador era o conhecimento causal, que para ele estava na natureza humana.

Hume não queria apenas escrever sobre o conhecimento humano, mas sim a garantir essa continuidade do conhecimento. Não buscava escrever para grandes eruditos, mas para aqueles que soubessem ler e entendessem os seus escritos. Em sua obra “Tratado da Natureza Humana”, fez a tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais. O ponto é o raciocínio causal. É próprio da natureza humana, pois sempre pensa que para se ter efeito é necessário uma correlação com a causa. 

Na seção X – Dos Milagres (1ª parte), Hume referenciando o teólogo e arcebispo John Tillostson, apresenta o argumento da transubstanciação. Ele cita que não se pode dar evidência a um argumento que se encontra fraco, perante a evidência forte dos sentidos. (1º parágrafo p. 110.)Hume enfatiza que encontrou um argumento de natureza análoga (caso legítimo), o qual será de grande relevância e utilidade a humanidade (2º parágrafo), pois seu argumento ao contrário da história sagrada não se encontra em prodígios e milagres. (p. 110).

Hume reconhece que seu argumento não é totalmente infalível, pois pode conter dados errôneos em razão de que os raciocínios em relação aos fatos são variáveis na questão de certeza moral (parágrafo 3º. P 111).

Segundo Hume, unicamente os homens sábios e doutos tem plena consciência das sequencias invariáveis as quais são tidas como causais e resultam em fundamentos de crença (nota de rodapé p. 111) ou seja, crença “proporcional à evidência”. O mesmo enfatiza que a experiência comprovada em uma existência futura tem maior probabilidade de segurança. (p.112).

Quanto à questão da dúvida posta em prova, Hume menciona que as testemunhas se contradizem entre si, pois algumas vezes denotam interesse particular naquilo que afirmam. (1º parágrafo p. 113) e nesse caso o milagre em si é uma violação das leis da natureza e não pode ocorrer no curso normal da mesma e sim a única prova aceitável seria uma que lhe seja superior assegura Hume (2º parágrafo p. 114).

Para Hume os milagres no decorrer há história foram tomados de tal proporção que extrapolam e chegam ao extraordinário pelo gênero humano, não levando em conta a evidência forte dos relatos. (2º parágrafo p. 117). E cita que são as nações ignorantes que mais tem tendência natural de levar os eventos para o maravilhoso.

Para Lopes (2013), Hume vê as religiões, Deus e os milagres como algo irracional, pois não podem ser compreendidos por justificativas racionais e que o homem usa de subterfúgios quiméricos que vão além do entendimento humano.

Conforme Lopes (2013):

 “Hume estabelece a base de toda sua teoria, um critério que irá nortear toda sua análise: o que for afirmado que existe ou que é cognoscível e que não for experienciado ou é uma quimera ou uma ilusão ou ainda uma operação da imaginação. Esta fundamentação pode ser descrita como uma fundamentação naturalista, pois toda a construção do conhecimento pode ser remontada a partir de critérios naturais da experiência comum, mesmo as faculdades da mente, tais como imaginação, memória e outras operações mentais. Nesse sentido, Hume pretende, apontar os limites do conhecimento humano, para evitar que a investigação humana extrapole a empiria”

 

Um problema crucial para Hume é a questão dos milagres, os quais servem para as igrejas sustentarem suas doutrinas sem uma justificação plausível. Conforme Lopes (2013), Hume caracteriza o milagre como uma violação das leis da natureza, extraordinário no ponto de vista etimológico, que se fundamenta na credulidade dos demais formando uma conexão necessária com algum relato do passado.

Para Hume é mais fácil crer em algo que já se costuma crer do que em algo novo, e nesse caso a crença é uma forte aliada, para a transição de uma ideia para impressão forte, a qual inspira “autoridade”. Segundo Lopes (2013), Hume apresenta um certo cálculo para definir o milagre, e esse seria dois fatos com forças diferentes,a qual crença final seria o resultado da soma dessas forças. No caso resultando contrárias, então o resultado será uma subtração, prevalecendo a crença que tiver a maior força. No caso da crença em um milagre se baseia em algo provável, enquanto crer na uniformidade da natureza.

Conforme Hume um fato milagroso incorre em quatro problemas:

- As evidências empíricas não são satisfatórias por si mesmas para atestar o fato do milagre.

- O ser humano tende ao extraordinário,esquivando-se ao fato fundamentado em conhecimento científico.

- Os milagres só ocorrem entre os bárbaros e não entre os sábios, o que impossibilita a credulidade e confiança dos mesmos.

- Contradições entre as várias crenças sobre os milagres.

Para Hume a humanidade deveria constatar o milagre da mesma maneira em sua ocorrência, não sendo explicado pela ciência e comprovadamente sendo algo inusitado. Hume assume uma postura cético-limitadora em relação ao conhecimento e a justificação humana. Para ele é necessário que o ser homem faça investigação rigorosa antes de se inclinar a explicações irracionais, ligadas a superstições e não ao conhecimento de fato.

2. Conclusão

De acordo com o filósofo não há fundamento racional para o milagre e muito menos para a propagação de crenças religiosas, pois essas se baseiam em suposições e atitudes supersticiosas. Hume busca romper essas atitudes que as chama de vulgar e procura promover a discussão acerca dos milagres e desenvolve sua teoria na evidência empírica. Segundo ele os milagres são violações no curso da natureza e que de acordo com a epistemologia humana, são apenas regularidades observadas, mas não logicamente impossíveis.

            Hume não buscar negar que os sentidos são infalíveis, porém salienta que a experiência dos sentidos permite observar a regularidade de certos fenômenos da natureza, criando-se leis a essa regularidade.

 

Referência    

LOPES, L.F. A filosofia da religião em David Hume: irreligiosidade e religiosidade limitadas. Disponível em:< https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/22736/22736.PDF>