Há algumas décadas, quem atuava na Educação presenciou o surgimento de um transtorno (que na verdade sempre existiu) chamado TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade). As crianças que, outrora eram chamadas de agitadas, “bagunceiras”, indisciplinadas agora tinham um diagnóstico com nome e sobrenome para classificá-las.

A partir daí uma quantidade enorme delas foi “diagnosticada” com esse transtorno como se, o simples fato de serem chamadas de hiperativas, justificasse todos os problemas relacionados ao seu modo de ser, bem como retirasse dos pais qualquer responsabilidade pelas atitudes dos filhos.

A verdade é que muitas crianças diagnosticadas (muitas vezes não por profissionais especialistas, mas sim, por outra pessoa qualquer) por ser mais ativa, espontânea e curiosa, na verdade era apenas uma criança vivendo sua infância, com todas as particularidades desse período tão singular da vida. Talvez algumas excedessem um pouco essa descrição, por realmente ultrapassarem alguns limites, porém, ainda assim, não deveriam ser enquadradas nesse diagnóstico.

Com o passar dos anos a ciência descobriu uma fórmula mágica. A tal da Ritalina que prometia resolver, de uma vez por todas, esse problema. E, novamente, muitas crianças que não necessitavam desse tipo de tratamento foram, a ele, submetidas.

Hoje, podemos observar algo semelhante acontecendo. Basta que uma criança seja um pouco mais tímida do que as demais, ou apresente alguns comportamentos motores ou verbais estereotipados, para receberem o diagnóstico precoce de autista.

Vale ressaltar que a ciência tem feito grandes avanços em relação aos Transtornos do Espectro Autista (TEA), sobretudo a respeito das capacidades e potencialidades desses indivíduos. Porém, o diagnóstico não é algo assim tão simples. Não se pode rotular uma criança baseando-se apenas em alguns comportamentos e sinais, principalmente quando ela ainda é um bebê.

Existem profissionais capacitados para realizar os exames e testes, na idade certa e da maneira correta, evitando assim deixar o “achismo” rotular uma criança.

Esse texto não tem a pretensão de achar culpados. O objetivo é que façamos uma reflexão a respeito de nossa postura, enquanto educadores, lembrando que devemos tomar muito cuidado com os “modismos” no exercício de nossa profissão.

Buscar conhecimento a respeito de tudo que pode auxiliar na educação de nossas crianças é importante. Estudar o desenvolvimento infantil, buscar compreender como ele ocorre e, solicitar ajuda de outros profissionais quando realmente for necessário, faz parte de um trabalho responsável e ético. Os diagnósticos devem ser dados por quem tem competência e formação para tal.

Nerli de Lourdes Cesarino Vieira ([email protected]).