Samuel Silvestre Zaqueu[1]     

António Alberto Filipe[2]  

Sélio Cussumo Jacinto Joaquim[3]

Faustino Filimão Mangue[4]                                                        

Resumo

A elevada assimetria entre os programas de formação contínua e as necessidades do professor e da Escola levou-nos a pesquisar essa actividade, com o objectivo de analisar os desafios da formação contínua na construção de uma escola reflexiva, um estudo de caso das escolas secundárias do distrito de Inhambane. Ora, para efeito, precisamos a priori, identificar actividades de formação contínua que estão sendo desenvolvidas nessas escolas, por um lado, interpretar o discernimento das políticas de formação contínua existente no sistema educativo moçambicano em relação à realidade das escolas, por outro; assim, ao longo do trabalho procuramos desenvolver modelos de formação contínua e suas implicações no desenvolvimento profissional do professor. Do estudo constatou-se que as dinâmicas e a baixa qualidade fizeram com que o Sistema de Educação experimentasse vários modelos, na sua maioria estruturantes e ou clássicos padronizados e homogéneas, as quais são conhecidas amplamente como “pacotes de formação”, organizados previamente a partir da lógica da racionalidade técnico-científica, em detrimento dos modelos construtivistas e ou reflexivos (que partem de uma reflexão contextualizada, visando suscitar verdadeiras mudanças na prática) que partindo das necessidades dos professores e da escola torna-se, neste caso, numa aprendizagem significativa, visando adequar a realidade contextual. Este facto gera desajustes tanto para as necessidades dos professores (por não partir das suas práticas, experiências e saberes) e às necessidades contextuais da Escola (por não responder os reais problemas contextuais da Escola), não contribuindo deste modo para o Desenvolvimento profissional do Professor e da Escola.

Conceitos - Chave: Formação Contínua; Professores Reflexivos; Escola Reflexiva;

  1. Introdução

Não se pode pretender que a formação inicial ofereça ‘produtos acabados’, mas sim compreender que é a primeira fase de um longo e diferenciado processo de desenvolvimento profissional. (GARCIA, 1999)                                                                                                

 As políticas educativas de formação contínua dos professores têm-se caracterizado por crenças na formação individual do professor por um lado, e por outro constata-se que, a expectativas do professor em relação à formação são de receber como receitas imperativas as orientações, cujo seu cumprimento é de carácter radical e obrigatório excluindo as reais necessidades do professor e da organização. A maior parte da formação contínua existe sob a forma de cursos, tem lugar fora das escolas e é realizada para benefícios individuais. Na experiência pessoal como professor no Ensino Secundário envolveram-me em poucas reuniões formativas protagonizadas pela ZIP e pelas escolas pelas quais passei, nomeadamente: Escola Secundária Emília Daússe e Escola Secundária de Muelé, ambas na Província de Inhambane; além da fraca interacção que caracterizava esses encontros, notava-se uma forte assimetria entre as mesmas e as necessidades dos professores e da escola. No entanto, era comum no fim ouvir dos colegas comentários do tipo «eu não sei o que vim fazer aqui, vim porque me obrigaram mesmo»; «eles não sabem nada do que acontece no terreno e vêm nos dizer o que devemos fazer; porque eles não vêm à escola; porque eles não perguntam o que a gente sabe, do que ficar nesse falatório sem interesse (ao referir-se o que eram apresentado deslocado da prática e dos seus interesses).» Uma das questões que nos saltava a vista, era justamente a maneira como as actividades de formação contínua eram organizadas e a questão do envolvimento dos próprios professores (desde a eleição, planificação, implementação e avaliação das mesmas) e por último o enquadramento/contextualização da formação com as necessidades dos professores e da escola. A propósito destes depoimentos, PERRENOUD (2002) afirma que “surpreendentemente durante anos, as formações contínuas desconsideraram a prática dos professores em exercício: o formador dizia-lhes o que era preciso fazer sem contudo, perguntar o que eles faziam”; facto sublinhado por NIVAGARA (2013), ao analisar a formação de professores em Moçambique, para qual afirma que constrangimentos estruturais, próprios de estágio de desenvolvimento tem condicionado a que o País experimente, em vários momentos históricos, diferentes modelos curriculares de formação de professores, cada um com suas limitações e possibilidades de formação de identidade docente. Diante deste quadro pouco animador nasceu a vontade de pesquisar e perceber essas questões, com objectivo de analisar os desafios da formação contínua na construção de uma escola reflexiva. Uma escola que pensa em si, através de professores reflexivos e críticos das suas práticas e desenvolvem-se pela superação das suas dificuldades.

O último seminário regional da SADC que teve lugar em Maputo, no mês de Setembro organizado pela UNESCO que contou com a participação dos parceiros da educação (debatendo a questão de formação dos Professores como um dos principais desafios dos países da África e, em particular a África Austral), mostra que o sistema de ensino em Moçambique possui mais de 150 mil professores dos quais 35 mil não têm formação psico - pedagógica perfazendo quase 30%. E como forma de se fazer face a esta situação, aventa-se a possibilidade de criação de uma política de formação contínua como mecanismos para aumentar as competências desses professores de forma a alcançar os objectivos da organização. [...]