Da crise ao apagão: a luz da educação precisa ser acesa
Por Antonio Clerton Cordeiro | 30/11/2009 | EducaçãoHá alguns meses o mundo vivia assombrado devido a crise
econômica mundial, uma crise que não foi gerada
por nós brasileiros, mas que também fomos atingidos
pelas suas consequências. Essa crise nos mostrou claramente
que, ao contrário do que parece, o capitalismo não
é tão perfeito quanto se imagina. Ainda bem
que "o Brasil foi o último a entrar e o primeiro
a sair da crise".
Há
algumas semanas dezoito estados brasileiros foram surpreendidos
por um "apagão", fato sobre o qual até
hoje não foi apresentada uma satisfação
coerente e convincente. O evento apagão nos fez recordar
àqueles tempos de Fernando Henrique Cardoso.
Os
acontecimentos lembrados acima servem para nos inspirar em
nossa reflexão sobre um tema urgente: uma crise maior
que a crise econômica e que pode gerar um apagão
maior que os vividos nos últimos tempos. Essa é
a crise da educação.
Se
atentarmos bem, o acesso às escolas nunca foi tão
aberto quanto é nos dias de hoje, e isso se dá
em todos os níveis: fundamental, médio e superior.
Porém, a qualidade do ensino nas escolas públicas
tem sido cada vez mais precária.
A
Pré-escola e o Ensino Fundamental são as etapas
mais importantes na formação cognitiva dos nossos
jovens. É lá que se alicerça a dimensão
intelectual do indivíduo. Porém, a situação
é tão grave que muitos chegam ao Ensino Médio
sem se quer saber ler. É aí que entendemos o
porquê de tanta dificuldade da população
pobre ter acesso ao Ensino Superior público.
A
precariedade da Educação Básica na rede
pública de ensino acaba promovendo um grande paradoxo:
de um lado aqueles que estudaram em colégios particulares
, na sua maioria, conseguem ser aprovados para as universidades
públicas; do outro estão aqueles que foram obrigados
a se submeterem a deficiência do ensino público,
tendo que pagar faculdade para fazer curso superior.
Ter
acesso a uma Educação Básica de qualidade
é um direito de todos, apesar de apenas aqueles com
maior poder aquisitivo terem isso garantido.
O
governo criou uma reserva de cotas nas universidades públicas
para negros e estudantes da rede pública. Por um lado,
isso significa que o governo está ciente de que não
está cumprindo bem o seu papel de garantir uma educação
de qualidade; por outro lado, isso pode acabar reproduzindo
desigualdades, já que nem todos ingressam na universidade
com o mesmo nível intelectual, e quando o nivelamento
acontece é que a desigualdade pode ser reproduzida,
e o nivelamento sempre acontece por baixo.
Nos
últimos anos tem explodido no país uma onde
de instituições de ensino superior particulares.
Muitos cursos e preços de todos os tamanhos. Em boa
parte dessas instituições a educação
tem uma conotação meramente comercial, onde
o aluno assume o mero papel de cliente.
Toda
essa situação calamitosa, pela qual passa nosso
sistema educacional público, evidenciam que a crise
que precisa ser superada urgentemente é justamente
a crise educacional. Se o governo não fizer o seu dever
de casa, essa crise desaguará num "apagão",
o apagão do saber, o apagão da cidadania, o
apagão da educação. Para evitar esse
apagão, a luz da educação precisa ser
acesa e abastecida sempre.