Resumo

Foi realizado o estudo sobre o Curtimento de Pele de tilapiana cidade Quelimane, província da Zambézia com objectivo principal Processar a pele de tilápia como matéria-prima capaz de produzir artigos e artefactos Determinar as resistências do couro de tilápia. Avaliar a resistência físico-mecânico das mesmas após o curtimento, como forma de incentivar a prática desta actividade no País. Para tal, foram usados 30 peles com a mesma metodologia do curtimento, passando pelo remolho, caleiro, desencalagem, píquel, curtimento, neutralização, engraxe e secagem. Para avaliar a resistência dos couros, foram usados 20 couros para obtenção dos corpos de prova, os mesmos foram tirados nos sentidos longitudinal e transversal em relação ao comprimento do corpo do peixe, para os testes de tracção e elasticidade. Os couros de tilapia em todos os parâmetros analisado de acordo com o sentido da retirada do corpo de prova com: a espessura de 1.05 ± 0.21 mm e0.98 ± 0.02 mm, força de 51.84 ± 6.05N e 54.88 ± 6.82 N, tracção de 10.58 ± 1.23 N/mm2 e1 1.2 ± 1.39 N/mm2.Neste contexto, feita a experiência os couros obtidos revelaram que podem ser usados para fabrico de artigos.

Palavras-chave: Curtimento, peles de peixe, tilapiafísico-mecânicos.

CAPÍTULOI

  1. Introdução

Para além da pesca e caca, o curtimento de pele de animais é uma das actividades primitivas conhecidas pelo homem desde os tempos remotos, sendo os primeiros dados sobre o curtimento remontam por volta de 5 a 6 mil anos antes de Cristo, época em que os egípcios retratavam o seu quotidiano através de desenhos e pinturas rupestres e esculpiaminscrições em pedras sobre os seus costumes e crenças. MILLER (1981).

Com a pele já transformada em couro, poderiam usar para apetrecho das suas cabanas e por outro lado usavam como vestuário cobrindo o seu corpo para abrigarem se do frioe de outras adversidades climáticas LEAL, (2007).

Esta actividade foi acompanhando desde sempre o processo evolutivo do Homem, onde para além do couro ser utilizado em sua forma mais simples, passou a sofrer a acção de modificações causadas por efeitos ocasionais ou acidentais, o que levou a uma melhoria das características do couro SENAI (1994).

Devido a capacidade e a facilidade que o couro apresenta em absorver cerca de 75% de humidade e mesmo assim continuar com um aspecto seco, ela ainda é indicada para estar em contacto com o corpo humano LEAL (2007).

Em Moçambique para além do peixe servir como fonte de proteínas de alto valor biológico, o aproveitamento das peles para o processo de curtimento ainda não é uma actividade muito apreciada,sendo que ela não expressa de certa forma uma relevância económica e nem social para a comunidade FAO (2006).

Por outro lado, o reaproveitamento dos subprodutos de peixe como por exemplo a pele pode ser transformado em couro, tornando-lhe um produto nobre de alta qualidade com características próprias, aspecto típico e que por sua vez devido ao valor acrescentado pode render muito mais que usar o peixe na sua forma natural ADEODATO (1998).

É neste contexto que com base nos pressupostos acima arrolados que o presente trabalho propôs-se a transformar a pele de tilápia, como forma de incentivar a prática desta actividade de curtimento de pele no país.

1. 1. Delimitação do Tema

Para o tema, a pesquisa foi feita no distrito de Quelimane, concretamente no bairro Chuabo Dembe, que por sinal é um dos fornecedores de peixetilapia neste distrito. O estudofoi  feito no período entre Dezembro de 2017 a Janeiro 2019).

1. 2.Problematização

A pesca artesanal é uma das actividades mais praticadas em Moçambique principalmente pelas populações que vivem nas regiões costeiras BALOIET (2002).Esta actividade envolve aproximadamente 80.000 pescadores e produz cerca de 10.000 de pescado por ano, contribuindo desta forma não só para abastecimento da população localcom proteína animal de boa qualidade, mas também como fonte de rendimento e de empregopara as comunidades que são completamente carenciadas FAO (2006).

Este subsector tem confrontado vários problemas, como por exemplo, (i) o abastecimento da população em produtos da pesca que esta a ser realizado em níveis muito baixo e de forma desigual por todo o País; (ii) Por outro lado, o facto de que as pescarias de pequena escala não estar a contribuir em grande medida para o desenvolvimento económico e social desta classe, mantendo elas ainda numa situação de extrema pobreza.

Estes aspectos tornam-se cada vez mais preocupantes quando associados ao fraco aproveitamento integral do pescado que se têm observado quase por toda costa, visto que iria contribuir em grande medida a minimizar os baixos rendimentos socioeconómicos registados principalmente na pesca artesanal.Nesta vertente de ideias, a questão principal que o presente trabalho visa responder é:

  • Como reaproveitar a pele do peixe tilapiapara produção de artefactos, calçados, e artigos como forma de aumentar a renda das comunidades pescadoras a nível das comunidades?

1.3. Justificativa

A escolha deste tema baseou-se pelo facto de ser uma tecnologia não muito comum no país, tendo uma grande importância na medida em que a transformação da pele em couro enquadra-se numa das formas de reaproveitamentodo pescado que de certa forma pode contribuir na maximização do rendimento socioeconómico das comunidades que principalmente depende desses recursos como seu sustento quotidiano.A pele de tilápia não é só um recurso alimentar valioso, como também pode fornecer matéria-prima para produtos mais duráveis como o couro para produção de artigos, tais como; cintos, bolsas, calçados entre outros.

Por outro lado, para além do estudo feito por TEMBE (2004), não publicado no qual abordou alguns aspectos sobre processamento da pele de tilápianão foi possível encontrar outras literaturas fazendo com que sejam bastante escassos trabalhos desse género no país.A nível internacional foram feitos estudos desse género como é o caso de SOUSA, etal(2003), fala simplesmente das técnicas usadas no processo de curtimento de pele de peixe, enquanto VIERA etall (2008), aborda também aspectos de curtimento de pele usando tanino vegetais e sintéticos como técnica principal. FRANCO (2007) fez apenas comparação da composição química e dê-a resistência para três espécies (tilápia do Nilo, pacu e Tambaqui).

Nesta ordem de ideias, apesar dos trabalhos mencionados foi usado a técnica de curtimento de pele de tilápia por ser uma espécie de baixo custo e de produção caseira que pode ser usada para a sua disseminação ao nível das comunidades pescadoras no país.

Os resultados do presente estudo assim como as técnicas usadas serão apresentados em algumas comunidades com um potencial pesqueiro e aos demais interessados. Entre tanto, espera-se que os resultados da transformaçãoda pele do peixe em couro possam contribuir na maximização da renda das famílias pescadoras, visto que pode comercializar o couro para vários fins entre os quais para o fabrico de chapéu, carteira, bolsa, calcado e na decoração de obras plásticas, estátuas dentre outros.