CULTURA AFRO-BRASILEIRA: A FORMAÇÃO DE NOSSO POVO E A CONTRIBUIÇÃO DOS POVOS DO “GRANDE ÉDEN AFRICANO”

Texto-artigo produzido e divulgado no mês de novembro de 2022 em Santa Maria do Uruará – Prainha Pará.

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

Quando se fala ou falamos na construção do povo brasileiro e assim, a sua constituição étnica, vem apenas dois personagens: os portugueses que aqui chegaram em 1500, que em um erro de Cabral, ou como dizem os mais pessimistas “chegou até aqui provocando um erro bem planejado”; pois a finalidade não era aportar aqui nestas terras Tupiniquins. E outro personagem é o silvícola local, os índios, o qual por longos anos chegou se adaptou e construiu cultura e depois compartilhou, dividiu e somou-se às outras.

Porém, deixamos em segundo plano, de pensar naqueles que deixaram suas terras forçadamente, indivíduos de reinos grandiosos, fortes e de uma cultura formidável, pois eram povos diferentes, mas que conviviam pacificamente com outros. Claro, da mesma forma como acontecia outrora com outros povos, que em caso de guerras, haveriam sempre aqueles que sobrepujariam seus oponentes, tornando-os os vencidos como prisioneiros de guerra, mas que muitos estudiosos, insistem em dizer que eram povos escravizados por outros reinos.

Logo, vislumbramos a riqueza daquele lugar, que hoje se discute muito onde era o verdadeiro Éden, se não na África, e não na Europa, pois o que vemos são as retratações e discrições que levam a um lugar de animais, que até então nos dão uma ideia clara que eles só existem no continente africano, muitos deles. Lugar cheio de árvores, rios, peixes, e outras itens e aspectos que correspondem um lugar de grande paz e integração entre homem natureza.

Porém, quando o homem, ganhou o espírito guerreiro e aventureiro por sua arrogância, ganância , além de orgulho e bazafiador, descobrindo que, “além daquelas montanhas, haviam povos que tinham apenas lanças e tacapes, e que os mesmos viviam numa paz eterna”, o que serviu como pretexto destes povos mais “avançados” tecnologicamente fossem capaz abraçar uma causa de conquista, terror e domínio sobre os demais, subjugando rituais, modos de vida, costumes, cultura, hábitos e  tecnologia locais como inferiores e que deveriam ser extirpadas em face de uma modelagem de um mundo melhor e mais atraente, do ponto de vista de imperializar a cultura branca sobre aquelas conhecidas como menos inferiores e menos capazes de moldar um mundo ideal.

Foi quando tudo aconteceu, conhecedores de “povos além montanhas e rios” e tendo conhecimento de sua inferioridade quanto a sua estrutura bélica, a finalidade agora era incentivar que houvesse entre eles mesmos uma disputa capaz de leva-los a desfazer esta paz construída desde o Edén Africano, para que assim fracos e desnorteados, pudessem ser mais facilmente conduzidos como mão-de-obra para outros lugares além oceanos, não importando quais consequências pudessem surgir nesta empreitada de domínio e subjugação.

Assim, povos jogados uns contra os outros, antes grandes irmãos, é possível que o “Grande Éden Africano” se tenha tornado um grande palco de guerras, de irmãos contra irmãos, o que resultou em um enfraquecimento gradativo e necessário para o Projeto de domínio para os chamados colonizadores. Pronto, o caminho estava feito, agora, era só descobrir quais lugares precisam de mão-de-obra e que pudessem trazer lucros exacerbados para fortalecer e cultura do povo ‘colonizador’ e assim a sua cultura de imperialização ser inquestionável diante daqueles que viessem depois.

E assim foi, paulatinamente, povo por povo, antes amigos, agora inimigos, e tornando-se amigos de novo em porões de navios que aportavam à centenas nas costa do Grande Éden Africano, agora destruído, e levavam os cativos para os mais remotos lugares do planeta. Todos misturados, muitas vezes, sem ao menos entender o linguajar do outro. O que permiti um domínio maior, visto que não podia articular entre si quaisquer espécies de fuga, motim ou revolta neste espaço de tempo, entre a captura, embarque, deslocamento e despejo.

Assim, reis, príncipes, rainhas, servos e outros nobres destas nações que formavam o Grande Éden Africano, estavam em navios mercadores de indivíduos humanos, sem destino próprios e, com uma única finalidade, de tornar as grandes nações ditas “civilizadoras e imperialistas” de se tornarem mais ricas ainda. Onde cada cultura destes povos tinha uma única opção neste momento, a de não se calar, mas ficar inerte nos pensamentos daqueles jogados nos oceanos e posteriormente em terras nunca imaginadas. Para que depois pudessem paulatinamente e com muito cuidado ressurgir das cinzas como uma Fênix surgida das cinzas da incerteza e da desesperança.

Logo, assim nascia nosso Brasil de verdade, promovido pela produção através da mão-de-obra escravizada, em especial de Bantos, Sudaneses e outros, que foram desalojados de seus inúmeros reinos de paz e felicidade, para um inferno de agonia e transtornos de toda espécie. Sem a menor perspectiva de que um dia voltariam para suas casas, seus filhos, seus parentes e suas terras.

É sabido que a sua influência de reis e rainhas, de príncipes e afora, foram extremamente importantes fundamental para se dar a continuidade daqueles conhecimentos em outros lugares, que não somente no Brasil. Logo, ficou a interculturalidade como algo expressamente construtivo e inclusivo na formação da nova sociedade, esta sociedade da Terra dos Papagaios, que foi tomando formas e dinamismo, em vários campos: dança, música, comida, bebidas, cantos, defesa na guerra, entre outros.

Como isto foi possível, já que eles não conseguiam se comunicar oralmente, onde poderiam passar informações de um ao outro. Talvez sinais, alguma linguagem em comum trazida por todos os envolvidos que compunham os diversos povos. Ou ainda observada as habilidades por alguém escravizador, que colocou em prática, mas manteve em segredo estas competências e capacidades. Quantos engenheiros, quantos professores, quantos astrônomos, quantos artistas, quantos médicos, ou mesmos generais não se perderam no tempo desta empreitada forçada sobre os povos do “Grande Éden Africano”? Talvez milhares, os quais não tiveram a oportunidade de se manifestar e contribuir de início com a sociedade prematura do Brasil.

E hoje, em detrimento a isto, o que temos de significante, expressivo e significativo. Temos os mais variados pratos advindos a culinária; também muitas formas na Arte, na música, na dança, no vocabulário, na arte da guerra e da defesa, na arquitetura, ou seja, em um conjunto de coisas que permanecem vivas como um patrimônio cultural, o qual para aqui está vivo e pulsante, teve muito suor, lágrimas e sangue derramado num percurso da história, que jamais deve ser esquecido, mas lembrado da melhor forma possível.

Seja esta lembrança, em especial, divulgado nos bancos escolares, nas academias, e nos grupos de estudos ou ainda nas discussões políticas, como se fez quanto a questão do Asmistad, que além de ser algo jurídico, tornou-se uma questão geopolítica para àquela época; onde alguns homens, através da sensatez, prudência e humanismo, perceberam a grande importância destes reis e nobres do Grande Reino do Éden Africano, e que hoje, estes indivíduos estão espalhados por todos os cantos do globo terrestre, em uma vida mais que merecida e não e jamais ser repetido este momento tão obscuro e horrendo na humanidade.

Portanto, para promover melhor, e combater aquilo que se tem de pior nas sociedades, como o racismo, a injúria, a discriminação, por exemplo, temos como instituição fomentadora dos saberes, a escola, a educação e assim, responsável por dar uma resposta plausível e rápida a estas questões. “Ou seja, há também a necessidade de uma mudança de lógica, de postura pedagógica, da organização da escola e do currículo escolar para que a educação inclusiva cumpra seu objetivo educativo”, Brasil/SEb (2008, p. 35).

Pois:

A educação dos negros é um outro campo político e pedagógico que nos ajuda a avançar na relação entre ética e diversidade e traz mais indagações ao currículo, “Elencando outras questões, como”: Como a escola lida com a cultura negra e as demandas do Movimento Negro? Afinal, alunos brancos e índios precisam saber mais sobre a cultura negra, o racismo, a desigualdade racial? Colocamos a discussão sobre a questão racial no currículo no campo da ética ou a entendemos como uma reivindicação dos ditos ‘diferentes’? (BRASIL, 2008, p.27)

Vale ressaltar que quando falamos ou abordamos a questão da construção de uma sociedade, estamos nos voltando para o significado e introjeção do termo cultura, pois “a cultura implica, portanto, o conjunto de práticas por meio das quais significados são produzidos e compartilhados em um grupo”, Brasil (2008, 27), e assim agregando valores culturais, sentimentais e humanísticos para uma vivência e convivência baseada no respeito, no compartilhamento dos bens, sejam eles materiais e/ou imateriais, e, claro no desenvolvimento do humanismo.

Bem! Tudo isto e muito mais deve ser levado em consideração, acreditando que os espaços são de todos e que nada deve ser de um grupo ou de outro, inclusive quando se deve levar em conta à construção e manutenção de uma sociedade nos moldes “democráticos”.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Indagações Sobre o Currículo: Diversidade e Currículo. – Brasília, MEC/SEF, 2008.

_______. Indagações Sobre o Currículo: Currículo, Conhecimento e Cultura. – Brasília, MEC/SEF, 2008

 

 

[1] Professor efetivo da rede pública de ensino de Prainha Pará, desde o ano de 1998. Pedagogo efetivo da mesma rede de ensino desde 2013. Mestrando em Educação com especialização em Ensino Superior pela UNINI/FUNIBER.