Culto e Cultura: Influências e relevâncias históricas e contextuais da cultura sócio-religiosa popular e sua repercussão na liturgia do culto cristão.

Resumo

O culto cristão, apesar de demonstrar ser algo completamente sacro e genuíno, apresenta também seu aspecto secularizado. Presente no dia-a-dia da comunidade sofre grande influência desta, bem como, determina seu status quo de fé e de conduta. Em uma visão mais contemplativa, o culto cristão se revela como sendo primeiramente uma iniciativa de autoria divina, depois humana, numa tentativa de comunicação cíclica de Deus para com a comunidade através dos mais diversos meios de comunicação, com o propósito de rememorar e reviver os eventos salvíficos e promover a comunhão para com o povo e este entre si.

Palavras-chave: Culto e Liturgia. Povo, Cultura e Inculturação.

Introdução

A ansiedade, o medo, o desespero, a tristeza, a doença, a pobreza, a escravidão espiritual, os vícios, o desemprego, a separação conjugal, não raro, são motivos que tem levado muitos à busca de Deus através do culto. Todavia, o culto também desemboca em outras motivações, entre as quais, está o desejo de desfrutar da comunhão sincera com Deus, de renovar a fé, de rememorar eventos salvíficos, de tributar espontaneamente louvores e adoração ao Todo-Poderoso. Pensar em culto cristão é o mesmo que refletir acerca do estado espiritual, psíquico e comportamental dos seus participantes, não só no momento do culto, mas também na rotina dos seus dias. Falar do culto cristão sem citar seu aspecto sócio-cultural deixa muito a desejar qualquer comentário que busque historiar e esclarecer suas funções e sua razão de ser. O culto cristão tem essa capacidade de intervir e até moldar o caráter das pessoas que com freqüência participa dele, O culto cristão tem essa mescla a configurar o estilo de vida de quem dele participa. A importância do estudo e da reflexão das várias particularidades em que se decompõe o culto cristão, assume tamanha importância dado seu acervo histórico e o reflexo que suas liturgias interferem no indivíduo, na família e na sociedade. Buscar fundamentação histórica e teológica para o culto, tanto consolida ritos já existentes quanto corrige procedimentos litúrgicos culturais, por vezes, puramente humanos, descaracterizados e sem nenhum valor agregável.

O culto cristão se destaca em função do seu estado de sublimidade. Dentro dele se funde perspectivas ímpares, ou seja, de salvação, vida eterna, ressurreição, entre outros. Nele o alvo da adoração não só é tributado, como também, se disponibiliza à servir seus adoradores. Por meio dele se encerra a busca incansável do homem e da mulher pela presença de um Deus que preenche a vida de razão e significado.

Participar do culto cristão, algo que já faz parte da rotina e da convivência de milhares de pessoas, é também a oportunidade de viver novas experiências. Não existe culto sem a presença da comunidade, sem o uso da fé e da devoção.

Longe de querer esgotar o assunto, este artigo nada mais é do que uma introdução ao culto cristão em meio a cultura popular, cuja herança em grande parte contribuiu na sua formação.

O culto cristão e sua relação sócio-cultural

Sem dúvidas, o acondicionamento do evangelho nas mais diversas culturas deve primar pela sua multe capacidade de adaptação. O evangelho proposto por Cristo e vivido pelos apóstolos e pela igreja primitiva, teve a capacidade de se ambientar a diversas situações. A igreja, ao mesmo tempo inculturou ao seu culto ritos e símbolos exercidos em outras culturas, reinterpretando-os à sua realidade, bem como, aculturou diversas culturas e povos com sua proposta salvadora. Ela soube abstrair as boas lições de outros contextos, buscando, ao mesmo tempo, ser fiel aos seus princípios. “(...) os escritos de São João não só não excluem a existência dos gestos, de símbolos e de ritos litúrgicos, mas lhe dão uma verdadeira dimensão de sinais da vida nova que Cristo comunica” (MARTÍN, 1996, p. 45). Entretanto, sabemos que não somente os símbolos, mas também outros adendos, até certo ponto e em determinadas épocas, terminaram sendo abusivos e não totalmente reinterpretados à cultura cristã e sua repercussão cultual, tornando os cultos meras práticas ritualistas, pobres e vazias de valores realmente significativos para a edificação cristã. “A dimensão simbólica do cristianismo sofreu deterioração semelhante àquela das paredes dos templos românicos e góticos (...). O simbolismo sofreu estucamento estéril e empobrecedor, feito de dogmatismo, autoritarismo, burocratismo e ritualismo” (ACOSTA, 1998, p. 112)...