CRÔNICAS DE MINHA CIDADE – SOBRAL A CIDADE PRINCESA – PARTE XXVIII – CHAMA A ENFERMEIRA MATILDE QUE O MENINO ESTÁ EM CRISE ASMÁTICA. 

Por: Wilamy Carneiro 

Década de 60 a 80 existia na cidade uma enfermeira. A Enfermeira Matilde era cuidadosa e desempenhava um importantíssimo papel na comunidade. Digo-lhes, pois, Matilde socorria os adoentados nas casas e bairros de Sobral.

A enfermeira tinha umas características peculiares. Aparentava na época uns 45 anos. Usava cabelo crespo com tiara, vestidão longo estilo as senhorinhas evangélicas. Nada contra as evangélicas, por sinal tenho muita simpatia. Aqui apenas explico suas roupagens e vestimentas.

A enfermeira Matilde Basílio andava para cima e para baixo com sua valise-bolsa preta.  Costumeiramente atendia-nos a pé correndo, na intensão de chegar logo em uma de suas dezenas de chamadas.

Em sua valise usava utensílios de sua linda profissão: Uma caixinha de ferro com diversas agulhas e um aparelho-seringa de vidro. Sim, pode parecer estranho, mas na minha época de criança a seringa era de vidro. Também levava consigo uma tijelinha de Águeda, para desinfetar as agulhas e seringa. Algodão, álcool, gaze, tesouras, mertiolate...

Ao chegar à residência desejada, Matilde fazia assepsia nas mãos, pedia-lhe ao dono da casa para desinfetar o aparelho e agulhas com água quente no fogão.

Na Rua Voluntários da Pátria e adjacências Dona Matilde era solicitada por todos. Os moradores mais velhos da Rua do Oriente, Rua Dona Maria Tomásia e Rua do Feijão - Monsenhor José Ferreira. Comumente avistávamos Dona Matilde com passos largos. Quando alguém o parava ela retrucava:

- Chega minha comadre, vou logo, pois, estou apressada. Não posso me demorar e bater prosa contigo. O Chico Galvino está com febre altíssima e seu Gerardo Malandro apresentou piora Foram me chamar e ele está com 39 gruas de febre. Adoeceu de novo.   

Matilde saía em disparada para um novo chamado. Desta vez era na residência do Seu Minguelzão e Dona Clotilde Andrade.

Quem estava dentro de suas casas, ao longe só ouvia a enfermeira Matilde respondendo os populares da rua e sua voz sumindo de acordo com suas passadas.  

Eu confessor a vocês que era um que não queria ouvir aquela voz. Já era familiar. Pelava de medo da Enfermeira Matilde. O fato é que Dona Matilde era freguesa de minha mãe Dona Socorro.

 Era nossa enfermeira. Mamãe dizia: 

- Vai lá menino. Dê um pulinho depressa na casa da Matilde para era vir por aqui. E mamãe reforçava: 

- Se a comadre Matilde não estiver lá. Deixa o recado e não se esqueça de avisar. Um de meus irmãos mais velhos saía às pressas pra dar o recado. 

Eu sofria de crise asmática. Na época de inverno como esse de 2021, era um tormento para minha pessoa. Um terror.  Dona Socorro passava noite inteira segurando minha mão. Dormia sentado balançado à rede.  

No período de safra da oiticica na empresa CIDAO também caía doente. O cheiro me fazia puxar demais. As folhagens das oiticicas que saía do forno da fábrica entrevavam as casas e ali virava um doenção para minha pessoa.

Um a de suas idas em nossa casa, Dona Matilde não realizou o devido trabalho com sua seringa. Ao atender o chamado de minha mãe, Matilde já estava com a seringa e agulha no ponto para aplicá-la. Um de meus irmãos com dó de mim, pois já tinha sido espetado com as agulhadas de Dona Matilde por dias. Minha crise asmática não andava boa.

Vendo-me choramingando, ele teve a ideia de me esconder dentro do baú das redes do quarto de casal. Colocou-me dentro do baú, cobriu com uns lençóis e aprumou um chinelo do lado encostado na parede para correr ventilação e eu não morrer sufocado.  

Neste dia fui salvo pelas espetadas e agulhadas de Dona Matilde.  Depois de esperar por longo tempo ela se foi.  Minhas crises não sinto mais e fiquei curado. Destarte, foram as agulhadas de Dona Matilde. 

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Wilamy Carneiro é poeta, cronista bi[ografo e historiador. Autor do Livro Novo CPC - Cordel só para Cordelista, Em Dezembro de 2020 publicou  "Frases e Pensamentos para Refletir".