CRÔNICAS DE MINHA CIDADE “Sobral A Cidade Princesa” – OS PREPARATIVOS DO DESFILE E PARA DESCER TODO SANTO AJUDA – PARTE XVI

Por: Wilamy Carneiro 

Uma frase bem conhecida ainda adolescente repetida por meus avós quando um de nós estava em apuros era a máxima de um provérbio português de que “Para baixo, todo santo ajuda”. Confesso que eles tinham razão. Ei-la a narrativa.

Era mês de setembro. Os alunos se preparavam par o Dia da Independência – DIA 7 DE SETEMBRO.  Após trinta dias de intenso cronograma para o festejo ao Dia da Pátria, no Grupo Escolar Professor Arruda com desfile, arranjos na bateria, escolha dos membros responsáveis para enfeitar a Escola com bandeiras em verde amarelo. Os professores e núcleo gestor engajadas nos arremates finais do desfile. 

A coordenação da Escola e responsável do Grêmio Estudantil à procura na escolha das mais belas meninas com posturas mais elegantes nas respectivas salas de aula do 5º e 6º Ano. Ao chegar o responsável para a escolha era uma confusão em levar vantagens. Em algumas salas de aula, o próprio professor tinha que fazer uma enquete para não causar tamanho alvoroço e nem preconceito. A disputa era acirradíssima. Isso tudo porque após a escolha, as meninas ficavam mais visadas e apresentadas para arranjar um paquera ou namorico.

O pelotão estava pronto. A escolha apesar de muito trabalho tinha conseguido chegar um desfecho final.  As escolhidas tinha que estar impecável no dia do desfile para suas apresentações. Uma exigência tinha de ser cumprida. As mulheres de blusa branca bem alva e lavada, vestindo saia azul até joelho, cabelo amarrados, usava meia calça branca, e calçando conga azul. Para os homens, era uso obrigatório, uma camisa branca de tergal, com o bolso do Grupo Escolar, calça azul, meia branca e conga azul. Uma observação à parte. O bolso tinha que estar em bom estado, caso contrário tinha que adquirir um novo na Escola. Tinha que comprar.

Tadeu, um apaixonado por desfile era convocado todo ano para esse empório. Era o responsável pela bateria. Toda manhã levava os alunos para frente da pracinha do Siebra. Na frente do Grupo Escolar, Tadeu fazia os últimos arranjos na bateria. O bumba em sentido cadenciado ficava no pelotão. Em seguida, a fileira dos taróis bem afinados e logo atrás acompanhando na lateral, os caixas. Entre eles as meninas mais elegantes com os pratos fazia a cadência das batidas.

Tadeu dava o sinal com um apito agudo e seguia-se a bateria. Dava-se para arrepiar com aquela orquestra de alunos mirins na bateria. O som surgia ao longe e os curiosos faziam fila para ver o espetáculo. Depois do recreio, os alunos e alunas  bem alimentados eram liberados para o ensaio do desfile.

O som aparecia. Tadeu no comando dava o início com um apito amarrado num cordão amarelo dependurado no pescoço. E a cadência ia ao longe. Ouvia-se até do outro lado da linha, na Avenida Dr. Guarany e rumo a John  Sanford, no Bairro do Junco.  

 

- BUM BUM. Tá tá rá rá.

- BUM BUM . Tá tá rá tá tá. Bum bum. Tarará tarará. Bum bum , tarará tatá.

 

E de repente todos estavam marchando. Os pés acompanhavam a batida da bateria. Todos em fila em linha vertical e horizontal separados por o estiramento do braço. Confesso que era bonito de se ver. Oh! Tempo bom. Contavam-se os dias para chegar o dia Sete de Setembro. Minha mãe organizava cada um de nós, dando banho, passando a farda no grude, guardava a farda com carinho de um dia para o outro. No dia seguinte levantava de madrugadinha e começava as arrumações. Tomávamos o café reforçado, e em seguida ia nos deixar na Escola. A Avenida Dom José ficava repletos de transeuntes e curiosos. Um cinturão de cora separava as duas calçadas com cordas para ver os alunos desfilarem no Dia da Pátria.

Mas, como nem tudo são flores, existia os alunos mais arredios que não queria cooperar e nem participar dos ensaios. Os alunos após liberados para os arranjos fugiam e se escondiam, subiam nas árvores, entravam nos quintais e jardins dos casarões ao redor da rua para não serem vistos da direção e professores. Um desses casarões era a residência da família dos Mont’ Alverne e  se escondiam no jardim da Maestro José da Mata.

Um dia desses, escondidos nos tamarineiros da Praça do São João, fazia chantagens com quem passava pela praça. Um grupo de quatro alunos tirava tamarindo verde do pé, subia lá no olho da árvore e jogava rumo aos transeuntes que passavam. Repetida vezes por semana aprontavam com essa proeza e malvadeza.

Desde, que certo dia um dos meninos jogou tamarindo numa jovem que vinha do Colégio Sant’ Ana rumo rumo a sua residência na Padre Fialho. O tamarindo verde acetou de cheio na menina. Era a filha do Presidente do Guarany – Sr. Luiz Torquato. A menina chegou em casa chorando com um galo na cabeça. De repente seu pai veio furioso com um “trinta e oito” na mão bravejando querendo saber quem foi o safado que fez isso com sua filha.

De repente, o grupo de meninos ao avistarem o homem enfurecido gritando na calçada da Igreja Menino Deus desceu como um vento deslizando nas folhagens do tamarineiro. Não ficou pra ninguém seguindo rumo ignorado. O susto valeu pela ocasião.  E como dizia minha santa avó:

 

- Para descer todo santo ajuda! Foi um pé no gato.

 

Com esse causo contado, passaram por algum tempo sem fazer arruaça no tamarineiro e nunca mais fugiram das obrigações do desfile com receio de ser descoberto pelo pai da menina.  

 

TEXTO E CRIAÇÃO DE WILAMY CARNEIRO