CRÔNICAS DA SAUDADE – “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante...”

         Tenho sentido muitas angustias, ou como prefiro dizer, hipossuficiência diante da existência. Não são propriamente crises existenciais, mas um estremecimento diante de algumas lacunas de contestação que volta e meia recrudescem em inquietações desconfortáveis. Não são respostas não ouvidas que me incomodam, mas perguntas não encontradas e consequentemente angustiantes. Pior que não saber as respostas diante da existência é não encontrar a pergunta correta a fazer.

           Mas, quando isto acontece, saio, coloco o corpo e a alma para fora de casa, sinto o sol sobre o meu rosto e todo o meu corpo ganha vida. Se estiver chovendo, sinto o frescor da água. Ela me lava e alivia os machucados dos embates da busca. Sou uma espécie nova, de estrutura mais leve e renascida, onde tudo se refaz , entra em processo de reconstrução.

                   A energia da vida é tão visceral que brota das ranhuras das paredes de pedra, onde a germinação é improvável e eu, sou uma graminha meio sem vergonha que se mostra sem considerar a própria insignificância, pois só leva em conta a essência do Sagrado que é brotar da terra. Lá é o lugar de nascer, apesar da seca, da aridez do solo, da sede, de todas as condições adversas de morte iminente, a plantinha desatina a viver.

                   Eu sou esta graminha desatinando pela vida, procurando as perguntas, teimando, não para ter importância ou razões, mas, para alimentar a vontade que brota das vísceras, porque afinal, somos, eu e ela, constituídas dos mesmos elementos da terra. A fé da graminha é minha religião.

                   É por isto que me deixo esparramar por folhas de papel, banhadas em sangue de tinta e sou eu, apenas e simplesmente eu, com todos os meus sentidos e sentimentos de alegrias e tristezas, sã e louca, filosofando com o que há de mais refinado e humano – a essência do pensamento, sem o menor pudor, “metamorfose ambulante” ignorando sempre que possível o frio da lógica e a prevalência da razão.

                                               Rosamares da Maia