Acho que muito tarde em minha vida percebi o quanto as verdades das pessoas são diferentes. Aliás, acho que mais tarde ainda compreendi que verdade é alguma coisa extremamente instável, plástica e adaptável ao estágio de evolução e aprendizagem de cada pessoa. A verdade é moldada segundo a filosofia e a ideologia de cada pessoa, cada grupo e numa escala macro a cada sociedade.

                        Verdade na realidade é objeto de transação e/ ou transição. O que é verdade hoje pode ser banido como um modo inconveniente de viver e pensar amanhã e mesmo no nosso mundinho diminuto, particular, pessoal ou familiar, a “verdade” é manipulada, mesmo que esta verdade signifique o bem.

                        Estranho, mas acontece. Por exemplo: Posso amar alguém e ter isto como verdade absoluta - eu amo – mas, o meu correspondente, não me ama de forma tão absoluta e incondicional. O seu contexto de verdades tem variações, autos e baixos – é a sua forma de amar - que, pode ser satisfatória ou não como sentimento de reciprocidade que me fará feliz. Outra verdade não tão absoluta é a de que o amor dos pais pelos filhos é sempre igual ou vice e versa. Não necessariamente! Ficou chocado (a)? Pois é, mas é humano e acontece, a empatia para o amor funciona diferente, mesmo no caso dos pais e filhos, mesmo que eles não desejem isto.

                        Verdades variam de acordo com as circunstancias em que as pessoas se encontram. Frustrante não? Mas, e toda aquela história do conceito do bem e do mal? O bem é a verdade o mal a mentira? Aprendi que existem boas mentiras e verdades muito ruins, que existem circunstâncias onde não se pensa no peso das palavras com os seus significados, somente nos efeitos que elas produzem e são estas circunstâncias que decidem. Quando a verdade ou a mentira desenham previamente os resultados, será o arbítrio de cada pessoa, grupo ou sociedade como um todo, que exercerá a sua vontade, de acordo com a necessidade de sobrevivência.

                        Recentemente um artista transexual participou de uma passeata LGBT e se crucificou num protesto de repúdio a intolerância e ao preconceito por orientação sexual, gênero, credo, raça etc., etc. A verdade que se pretendeu ressaltar com o protesto, é sobre o preconceito e a intolerância, como fonte dos mais variados tipos de violência contra a pessoa. Causou na mídia o impacto que pretendeu como resultado? É claro que sim, mas também trouxe à tona a verdade dos protagonistas adversários.

                        A réplica de alas extremistas e conservadoras: “Usar a Cruz”? Verdade religiosa dos Cristãos? Oh! Pecado absoluto. Os condenados pecadores arderão no fogo do Inferno. Deboche! Desrespeitos destes doentes anormais!”

                        Senhores, primeiramente a Cruz para os evangélicos é nada. Na verdade absoluta deles, qualquer símbolo, imagem ou arquétipo é proscrito, espúria obra do “inimigo”, portanto, nenhum repúdio deles, evangélicos, é verdadeiro. Não passa de manifestação da sua filosofia ou ideologia de intolerância.

                        Por outro lado os Cristãos Católicos, que adotam a cruz como símbolo de sua fé, destoam do conhecimento que leva a verdade histórica, onde a Cruz é uma ferramenta de martírio, de torturas e obviamente castigo. O verdadeiro símbolo deveria ser Jesus, que em sua época foi vítima do medo dos políticos, do preconceito da sociedade judaica e consequentemente, da intolerância e da injustiça porque era diferente e pregava a sua verdade, uma filosofia/ideologia que intimidava, pois transformava os conceitos e o olhar sobre as pessoas e isto, não era a verdade da sociedade da época.

                        Durantes os séculos posteriores ao “Homem de Nazaré”, ventila-se a manipulação da verdade, dos conceitos do bem e do mal e muito embora Jesus Cristo faça o elo com a crença em um Ser Divino, superior – Deus, o desenrolar da história, ou seja, a forma dessa trajetória, não tem nada absolutamente haver com fé e sim com o modo que as pessoas multiplicam a compreensão dela, para cada pessoa, cada grupo ou sociedade.

            Tudo isto está mais precisamente afinado com as formas de controle e/ou descontrole que são exercidas sobre os grandes grupos sociais e religião é tão ferramenta de controle social, como são as ideologias, aliás, é a proposta de uma ideologia, que pode ser aberta, permitindo que as pessoas se desenvolvam plenamente e cresçam, exercendo  suas opções e potencialidades, como podem também ser extremista, castradora, ferramenta de repressão e dominação, onde as pessoas viverão embotadas sob o peso dos dogmas que alguém disseminou segundo as suas próprias “verdades” e interesses.

            E pelo Mundo, através dos tempos brincamos com a verdade de não ser feio, de ser mulher, de não ser gordo nem baixo, de ser moreninho ou escurinho e não ser negro, de não ter preferencias sexuais diferentes, de ser paraíba e por aí a fora .

            A verdade é apenas uma palavra sem peso que usamos diante do espelho para justificar as vilanias humanas, é o lado de dentro da mentira, que destrói tudo o que há de bom na fé, solidariedade, respeito e amor. 

                                                           Rosamares da Maia – 12/08/2015.