CRÔNICA DE MINHA CIDADE PRINCESA – OS EXCELSOS APOSTADORES DA RUA (Parte VIII)

Por: Wilamy Carneiro

Nas sacadas dos casarões do século XVIII, em pleno centro da cidade, os conjuntos de casas no estilo art noveau, irradiavam com o sol triunfando entre seus vitrais e janelões. Um arco ìris em cores decifrava o mais belo espetáculo da natureza entre a rua e o comércio local. Uma e outra edificação remanescente, tombada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ecoavam os murmúrios das apostas como o timbre do sino da Igreja Matriz, avisando seus fiéis a hora da Celebração diariamente às 17hs e 30 minutos.

Ali, trajando roupas inadequadas para o momento oportuno, pois, quem sabe em outrora, homens e mulheres eram mais apresentados em suas vestimentas.  Trajavam calças de linho branco, camisa de seda e ou algodão engomada no grude por seus serviçais. Os chapéus com abas bem apresentados, gravata, sapatos bem engraxados, lenços sempre a postos devido o calor que permeava o centro da Cidade Princesa. Poder-se-ia ser uma tarde ensolarada, mais nada de alarde com suas vestimentas. No bolso um lindo relógio acompanhava sua vestimenta e marcando a classes social de cada individuo que se aventurava passear pela rua da cidade.  

Mas, algo maior chamava a atenção dos curiosos e populares. Ao meio fio da Rua Coronel Ernesto Deocleciano,  avistavam acocorados os sumos apostadores. Um deles de estatura mediana, aproximadamente com 1m e 65 cm de altura usava um  bigodinho rasteiro de um eterno malandro do samba. Sua barba fazia-se a conotação e idade de ser um homem com mais de 50 anos. O arquirrival da aposta, o oponente era bem mais alto, medindo aproximadamente 1m e 70 cm de altura, com dentes faltando à boca apresentava um sorriso estabanado, costumeiramente e bem humorado.

Os apostadores tinham seus trunfos em cada veículo que subia a tal rua. Com dinheiro dobrado entre os dedos jogavam suas apostas no chão e esperavam a próxima vítima. Digo-lhes o próximo carro que trafegava subindo a ladeira e anotavam as placas A regra do jogo era o seguinte:

- Anotavam as placas e tiravam o último número das mesmas. Cada veículo visto por eles registravam com cuidado o último número da placa. Alternadamente um e outro tinha sua vez. Se o número do próximo carro fosse menor perdia aquele da vez.

Um tinha a alcunha de Primo. Vivia pelas ruas, centro e na calçada do Elbow Street, nosso Becco do Cotovelo em Sobral. O seu opositor de epíteto “Homem é homem” tinha uma característica de sorriso espantado e estridente. Repetitivo em falar de ser “Homem é homem” soltando aquela gargalhada de boca sem dentes. Os dois apostadores eram craques em que faziam. Outros se aventuravam em fazer apostas mais, saiam de bolsos vazios.

Populares assistiam in loco suas apostas nos sobrados coloniais da cidade. Outros sentados nos bancos da Praça Coluna da Hora perdiam seu precioso tempo bisbilhotando as apostas. Cada aposta ganha era dobrada com um valor mais alto. Ouviam-se as gargalhadas ao longe na Avenida Dom José do ganhador da vez. Os donos dos veículos se assustavam com aquela moda de aposta. Vez por outra quando demoravam aparecer um veículo, os dois apostadores ficavam como estátua ao vento no meio da rua esperando o carro passar.  

Ao chegar a noitinha, depois de repetidas vezes com suas apostas, os barulhos dos portões do comércio fechando e com o trânsito de carros mais leves, os apostadores seguiam seus caminhos.  No outro dia, era mais um dia de aposta e com um vencedor da hora.

TEXTO E CRIAÇÃO DE WILAMY CARNEIRO

Esta é uma obra intelectual do autor, protegida por Lei Nº 9.610/ 98, Direitos Autorias protegido ao autor.

Wilamy Carneiro é professor, palestrante poeta e escritor. Autor do Livro “EINSTEIN e SOBRAL” – A Cidade Luz. Membro da ALMECE – Academia de Letras dos Municípios do Ceará. Patrono da Cadeira de Nº 97 do Município de Forquilha. Em sua hora de interação escreve Literatura Popular em Cordel.