CRÔNICA DE MINHA CIDADE PRINCESA

AMANHECER NO PRIMEIRO DE FEVEREIRO.

NOTA:

TEXTO DE WILAMY CARNEIRO COM CRÔNICAS DE SUA CIDADE SOBRAL “A PRINCESA DO NORTE”. SOB UM OLHAR NOSTÁGICO DE SUA HERÁLDICA CIDADE.  

 

Bem, começou o dia. A calçada fria e úmida revela o que acontecera na madrugada. Um temporal se desnuda entre o último dia de janeiro batendo à porta do mês seguinte.

- Fevereiro chegou!

Nas ruas do centro antigo da Cidade Princesa, os pardais sobrevoam para alimentar-se das guloseimas mariposas da noite fria. As luzes dos postes embasadas em névoas frígidas da madrugada. Nas calçadas dos casarões desenhados em Art’ Nouveau, mendigos cobertos com papelões umedecidos pelo temporal. Uns pareciam não se importar com o frio. Um cão de guarda e amigo fiel não largava um minuto seu melhor amigo. Deitado ao ladinho do seu fiel companheiro.

Viam-se os primeiros barulhos de pisadas ao longe e um estremecido ranger de portões. Eram os primeiros visitantes subindo á Rua Ernesto Deocleciano. A Igreja do Rosário reluzia com os primeiros raios de sol. Era um sábado frio e fúnebre.  Duas beatas revestidas com seus mantos acima da cabeça balbuciavam olhando entre si e para trás com receio que algo estava lhes seguindo. Uma delas usava vestido longo, de cor florada com um terço na mão.

 Na padaria o cheiro de pão quentinho acompanhado com café e tapioca, guloseima de nossa região.  Um vigia segurava uma garrava de café que preparou na noite passada e destrancava a corrente de sua bicicleta encostada no pé de algaroba. Arrumava ele na garupa seus pertences com uma liga e no lado direto pendurado na calça um cassetete amarelado pelo uso .  Dava-se o sinal de dever cumprido e ia-recolher para a noite seguinte.  

De um por um, os comerciantes chegavam ao ponto de seu trabalho. Um bom dia pra cá, outro bom dia para lá. Alguns pareciam uma múmia ambulante dando sinal da noite mal dormida. Mas, tinham que estar no batente logo cedinho nesta fria manhã.

Do outro lado da Praça Monsenhor Linhares, transeuntes passavam freneticamente rumo ao Mercado Central para abastecer suas casas com frutas e verduras. Fila nos bancos com aposentados que esperavam desde a madrugada para tirar seus vencimentos.

Um sujeito de olhar estranho esperava sua vez próximo à porta de vidro do Banco Pagador. Com um sombreiro na cabeça acendia um cigarro de palha molhando na boca, tragando desesperadamente e jogando a fumaça para cima.

Logo mais a frente avistava a Igreja de São Francisco e a Delegacia de Polícia da cidade. Carros encostados e abandonados na calçada da Delegacia.

No Hotel Vitória seus primeiros hóspedes se despediam dos aposentos descendo as escadarias do hotel puxando as malas e adentrando nos carros de táxi.

Vendedores ambulantes chegavam devagarzinho arrumando seus produtos na calçada da Praça da Meruoca, onde alguns chamam de Praça de Cuba, embora muitos não se acostumam com essa ideia.

A Cidade Princesa acorda para um novo dia. Os casarões da Rua General Tibúrcio anunciam seus moradores com portas e janelas abertas. Inicia-se a varrição nas calçadas por seus empregados. Enquanto os patrões não se acordam entre a vassoura e apá começam o dia na limpeza.

 

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Wilamy Carneiro é professor – Membro da Academia de Letras dos Municípios do Ceará – ALMECE. É palestrante. Historiador, memorialista, poeta e cronista. Seu primeiro livro de crônicas foi “Um passo a mais”. Na poesia escreveu “Tempos de Sol – Tudo se pode Sonhar.” Em 2019 apresentou na Casa da Cultura de Sobral, dia 20 de Dezembro a obra - “Os Estados Unidos de Sobral”. Também é autor do Livro EINSTEIN e SOBRAL – a Cidade Luz no dia 29 de maio – centenário da relatividade de EINSTEIN. Colaborador de artigos científicos e de opinião na web. Dentre seus projetos de leitura e resgate à memória do maior escritor naturalista Sobralense – Domingos Olímpio autor do romance regionalista Luzia-Homem. Bacharel em Direito pela flf – Faculdade Luciano Feijão em Sobral e Especialista em Meio Ambiente na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA em Sobral.