CRÔNICA DE MINHA CIDADE PRINCESA – “A FONTE LUMINOSA DA PRAÇA MONSENHOR LINHARES”

 Por: Wilamy Carneiro

 A água jorrava rumo ao céu como se quisesse unir numa gigantesca ponte entre a terra e o infinito. Eventos luminosos transluziam entre o sol e ás gotas d’águas num abrasador dia numa tarde de domingo.

 Raios também caminhavam devagar num fecho de luz deslizando no calçadão da Praça Monsenhor Linhares, e o meio fio como sabão na mão de uma lavandeira. Era como um peixe fisgado pelo pescador que apruma na mão e ele escapa para seu lugar de origem - O rio.

 A Fachada do Cine Alvorada anunciava o filme do momento – “Star Wars - Guerra nas Estrelas” com Harrison Ford. Batia recorde de bilheteria em dia de domingo na Cidade Princesa. Adolescentes e jovens apareciam nos estilos hippie dos anos 70, vestiam com calça boca de sino, camisetas desbotadas, pulseiras e um lenço colorido na cabeça marcava a tradição e moda do momento. Usavam a palavra paz e amor. Com os dedos levantados acenavam com a mão em forma de “V” anunciando um sinal da amizade. Talvez surgisse um Che Guevara - Guerreiro heróico com sua boina e  um de aparência de  Daniel Boone (1966). Então como Lee Majors (O homem de Seis Milhões de Dólares).  

 Os casarões ecléticos de Art Nouveau com características emblemáticas em suas fachadas mostravam para os transeuntes a época de sua construção – numa delas podia ver que estava escrito 1923. Os estilos europeus tomava conta da Cidade Januária. Os vitrais e janelas gigantes bem detalhadas e os ajulejos portugueses.

 Garotos brincavam de pega-pega ao redor da fonte. Uns mais afoitos, corriam nas bordas, como um malabarista em sua corda trêmula. O suor e as águas liberadas pelo vento dos jatos d’águas impregnavam nas camisas dos traquinos meninos. 

O cheiro de pipoca feito na hora anunciava que o produto estava prontinho para ser consumido por jovens que esperava a segunda seção do filme. A Praça do Alvorada, como era conhecida estava repleta de gente. Os pais sentados nos bancos após a missa das 17:00 Hs, na Igreja do Rosário dos Pretinhos. Um busto abandonado pelo tempo apresentava-se ao lado direito da fonte luminosa caída ao esquecimento dos filhos que ignoravam sua presença. Era o busto de Monsenhor Linhares, um filho sobralense que foi padre e professor. Um dos maiores benfeitores e idealizadores na construção de açudes no estado do Ceará, Piauí, Paraíba e Pernambuco. 

De repente via-se uma multidão descendo as escadarias do Cine Alvorada numa algazarra estridente chamando atenção dos curiosos que aguardavam para o próximo filme. As meninas de saias longas, blusas em bordados e cabelo preso feito o bob desfilavam com sua singeleza como uma pluma ao vento As moças mais tímidas fincadas como um pilar observavam do outro lado da Praça na Rua Ernesto Deocleciano. 

De longe ouvia o grito de um picolezeiro anunciado sua chegada. Outras guloseimas apareciam junto o calçadão da fonte luminosa. Algodão doce, maçã do amor, pirulitos. Banca de bombons e outras de cigarro para os fumantes da hora. 

Nas bordas internas da fonte era comum ver holofotes de forma cicloide com raios luminosos seguindo as rajadas de águas rumo ao céu. As cores disputavam cada queda d’água na fonte. O amarelo significando alegria e jovialidade. A cor vermelha simbolizando a paixão dos casais, o amor e a coragem. O Alaranjado apresentando a cordialidade, a prosperidade e a comunicação de nosso povo. O verde representado nossa mata e a esperança do povo. 

Um arco-íris de verdade aparecia na refração da luz com a água da fonte. Um fenômeno que a mãe natureza nos presenteia com a chuva e a reflexão da luz solar. Ali como a natureza, uma ilusão de ótica dava sua mensagem aos seus espectadores da praça. Enquanto criança, minha mãe dizia quando aparecia um arco-íris – “No fim do arco-íris há um pote de ouro”. Todos seguiam o fim do arco-íris. Já os potes de ouro estão a sua procura. Talvez o pote seja real e ao mesmo tempo imaginário para as pessoas que acredita na força divina. 

Hoje, a fonte está somente na lembrança. Veio a modernidade e a fonte foi embora junto com os sonhos daqueles que viveram os melhores momentos dos anos dourados. O arco-íris sumiu e a relação entre o céu e a terra desapareceu.

 

TEXTO E CRIAÇÃO DE WILAMY CARNEIRO

CRÔNICAS DE MINHA CIDADE – A CIDADE PRINCESA “A FONTE LUMINOSA DA PRAÇA MONSENHOR LINHARES.”

Nota 

Esta é uma obra intelectual. Todos os direitos reservados ao autor da obra.

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Wilamy Carneiro é professor, memorialista, poeta e escritor. Membro da ALMECE – Academia de Letras dos Municípios do Ceará. Patrono da Cadeira Nº 97 representando o Município de Forquilha no Ceará. Entre as suas paixões e interação escreve Literatura e Cordel. Um deles é " A chegada do Cantor Belchior no Céu" e o Cordel "Um Nordestino chamado Ariano Suassuna."