As sociedades atuais vivem um processo de necessidades e vontades que acabam por corromper também as relações emotivas, que passaram a ser transitórios e superficiais, baseados mais uma vez na tradição do imaginário das relações de posse e desapego.

As mídias sociais teimam em nos impor que é o “desejo” que rege nossas escolhas, e de certa forma essa máxima vem se transformando em senso comum, como exemplo básico temos nossas necessidades mais comuns: se sentimos sede, desejamos por água, a partir do momento que temos a sede saciada outros desejos aflorarão, é comum e nesse quesito fisiológico, é normal. Porém, essa analogia passa a se encaixar no processo que passou também a ser transitório e superficial que são os relacionamentos atuais, onde, motivados pelo sentimento de paixão, ou desejo, somos instigados a buscar um alguém, que de certa forma idealizamos ser a pessoa perfeita, e em nosso subconsciente, essa pessoa idealizada só será feliz ao nosso lado e nós ao lado dessa pessoa – Não deixa de ser um forte desejo, mas, seria esse desejo tão transitório assim? Só o tempo poderia responder essa questão, mas, se houve em determinado momento um processo de idealizações que fogem a normalidade, pode-se facilmente concluir que essa relação duraria somente o tempo suficiente para que a magia da paixão se estilhace e nada mas reste das idealizações dessa pessoa.

Uma máxima toma conta desse sistema de relações: “De tanto querer algo, o temos e logo perdemos o interesse”, essa é a filosofia das relações emotivas atuais, muito se espanta quando um casal está prestes a casar, ou mesmo, quando nos deparamos com casais “unidos” a vários anos! Mas, deveria ser um espanto estar com um indivíduo a tanto tempo ou tratar como passageiro as relações? Nos dias atuais podemos responder esse questionamento apenas afirmando que as “catracas” nunca giraram tão rapidamente e as “filas” nunca andaram com tanta velocidade, e os desejos nunca foram tão voláteis quando na contemporaneidade, jamais poderia dizer que as pessoas não se valorizam, pois seria um grande erro, ora cada um se valoriza a sua medida, o senso de valor é diferente para cada um, porém não vem ao caso, a transitoriedade dessas relações tem seu cerne no estilhaçamento do imaginário de idealização: Aquela princesa baixinha, linda que nenhum dicionário possuía adjetivos para qualifica-la depois que passa pela prova de fogo da conquista e encaixa-se no quesito realidade, torna-se apenas “aquela baixinha”, e aquele príncipe inteligente, carinhoso e inteligente? Depois da conquista só sobrou o indivíduo.

É nesse cenário que se encaixa aquele sentimento que tanto falamos e pouco vivemos, o “amor”, se o príncipe inteligente e a princesa baixinha fosse integrado ao convívio de outrem através da paixão que se torna amor, a convivência poderia sim ser, de certa forma, mais duradoura, porém, o que ocorre em muitos casos é que o desejo se transforma em paixão e daí é uma luta pela conquista. Mas, sem o amor, quando acaba a paixão e o desejo o que resta? Nada! Quando se compartilha do amor, por sua vez, acaba-se a adrenalina da conquista, porém, a paixão renasce a cada momento desse convívio, como uma centelha que incendeia um campo, no menor descuido o sentimento de nome tão pequeno e imensos significados consegue retomar o primeiro beijo, ou mesmo o primeiro toque, claro, o beijo apaixonado e o toque de amantes que são cumplices. Sensações essas que, na volatilidade das relações emotivas atuais podem até ser sentidas várias vezes, mas, sem o amor, cada vez com uma pessoa diferente.

De certo, sem o amor as relações viveriam a impossibilidade de viver o mesmo sentimento várias vezes, ou mesmo, citando o oráculo de Delphos não poderiam mergulhar no rio duas vezes, pois, não seriam a mesma pessoa e nem mesmo o rio seria igual. Não podemos saber se um dia o amor voltará a ser a pedra fundamental das relações ou se o desejo passará sempre a frente, a única coisa que podemos fazer é amar a nós mesmos para termos a capacidade de amar verdadeiramente outra pessoa.


Richard Batista Silveira