“Não há saber maior ou saber menor. Há saberes diferentes”. Isto é um fato. O que deve ser ensinado aos alunos de uma comunidade indígena? Metáfora, função quadrática, idade média, afluentes do Rio Amazonas, grandezas vetoriais, tabela periódica, mitose, amor platônico, capitalismo ou o verbo to be? Nada disso. Em uma comunidade indígena o professor deve valorizar a cultura local. É importante discutir a fauna e a flora da região, a preservação ambiental, as raízes e costumes da cultura indígena, o desenvolvimento sustentável, a prevenção de doenças, a caça e a pesca predatórias, a língua portuguesa, a língua nativa... Não que os outros conteúdos não sejam importantes. Sim, são. Somente não são úteis ou adequados à realidade de uma comunidade indígena. O que deve ser ensinado aos alunos de uma cidade localizada no sertão nordestino? Como captar e armazenar corretamente a água, quais os tipos de vegetações são mais resistentes à seca, quais animais necessitam de uma menor quantidade de água para sobreviver, quais as fontes de renda possíveis na região, as possibilidades de turismo, os alimentos da região... De acordo com os dois exemplos citados é possível perceber que não há um saber maior ou um saber menor. Há, apenas, saberes diferentes, como afirmou Paulo Freire. O professor deveria ensinar o que o aluno precisa aprender e o que tem interesse em aprender. Deveria ensinar conteúdos realmente importantes para os alunos. Conteúdos adequados à realidade dos alunos. Conteúdos que eles pudessem colocar em prática, que fossem realmente úteis. Não é o que acontece atualmente. Há conteúdos maravilhosos, mas que nada têm a haver com o que o aluno precisa. É como se fosse um elefante branco dentro de uma sala. É lindo, mas não serve para nada. Ensinamos alguns conteúdos que muitas vezes o aluno jamais irá usar, em lugar algum, em tempo nenhum. Conteúdos que não despertam o menor interesse nos alunos. As consequências disso são: desinteresse, indisciplina, evasão... Poderia citar infinitos exemplos para ilustrar o que foi dito anteriormente, mas vou citar apenas um. Eu, por exemplo, já ensinei “A Matemática e o Dia Dos Namorados” para duas viúvas. Elas não se interessaram pelo tema. Por que será? O conteúdo estava de acordo com a realidade das alunas? É claro que não. O conteúdo que ensinei não foi de encontro às necessidades das alunas, por isso ocorreu o desinteresse. Há conteúdos que nem nós, professores, sabemos direito para que serve e estamos lá, ensinando e cobrando dos alunos. É ridículo. Deveríamos ensinar o que é realmente importante. Quando um assunto está de acordo com a realidade, com o tempo, com o espaço, com o interesse do aluno, este fica antenado. O aluno somente irá prestar atenção àquilo que lhe interessa. Vou citar a mim mesma como exemplo. Eu adoro o tema inclusão social. É por esse motivo que estou cursando pós-graduação em Educação Inclusiva e Especial. É um tema que me desperta muito interesse. Leio os textos e faço as tarefas não porque me obrigam, mas porque gosto, porque acho prazeroso estudar este tema. Porque acho os textos interessantes e porque sei que irão me auxiliar no meu trabalho com inclusão social. Aprecio os textos como quem saboreia uma iguaria num restaurante. O que não aconteceria se por acaso eu fosse obrigada a fazer um curso que não fosse de meu interesse. Educação está intimamente ligada a prazer, à alegria, a interesse. Um conteúdo não é mais importante do que outro, assim como uma disciplina não é mais importante do que outra. Tudo depende da realidade onde está inserido o aluno. É este que define o que é relevante e necessário para ele.