Discordo radicalmente! Afirmo categoricamente! Mesmo assim mantenho o campo aberto à discussão. O fato é que não existe Crítica Construtiva! E, pasmem: só existem CRITICAS DESTRUTIVAS!

Quando faço esse tipo de afirmação, algumas pessoas ficam alucinadas. Tentam, a todo custo, fazer-me acreditar que existam duas formas de fazer a tal da Crítica: uma construtiva e outra negativa. Mas sou teimoso e continuo afirmando, até que me convençam do contrário: Não existe Crítica Construtiva. Só existe Crítica Destrutiva. Duvida? Então me acompanhe na reflexão, depois, se quiser, discorde e faça sua argumentação!

Em sentido popular e de modo em geral as pessoas entendem Crítica como aquela atitude de falar, contestar, discordar... pelo simples desejo de "ser do contra". Mas é bom que bem se esclareça este ponto.

E esclareço perguntando: Desde quando a postura de quem sempre é "do contra" caracteriza uma atitude crítica? Aquele que só sabe ser do contra evidencia a postura do "cri-cri" (expressão dos anos 80! Lembra da música: "pois ele é chato, cri-cri, pernilongo"...) e não caracteriza a pessoa que tem a capacidade de analisar as situações, pesar as circunstâncias e posicionar-se; ter opinião própria, sem se levar pela "onda" isto sim é ser crítico.

O cara que se "especializa" em ser "do contra", simplesmente é aquela típica pessoa chata que nunca concorda com nada. Meio azeda que deseja manter e impor a todo custo apenas seu ponto de vista. É contra pelo único motivo de não ser a favor. Mas não tem argumento consistente para ser "contra". Ao serem questionadas, sobre seus motivos, essas pessoas não sabem enumerar seus argumentos.

Discordar e ser chato, não é ser crítico. É ser chato, mesmo!

As pessoas entendem como "Crítica Construtiva" aquela atitude ou hábito de "dar conselhos", apontar as "falhas" do outro, para que ele seja melhor. Essa prática de apontar o "erro" do outro, convidando-o para fazer somente o que é "correto", é o que popularmente se chama de Crítica Construtiva.

Mas, em primeiro lugar: como alguém pode saber o que é certo ou errado, para a outra pessoa? Quem garante que o que "corrige" está certo e o que é "corrigido" está errado? Baseado em quê alguém pode considerar-se juiz de outra pessoa? Como pode alguém considerar-se dono da verdade a ponto de querer que sua verdade seja a verdade do outro? Principalmente nos dias de hoje em que as pessoas, com base em suas "liberdades individuais" levantam bandeiras em defesa de qualquer novidadezinha. As pessoas são livres e têm direitos; inclusive o direito de não se comportar como querem os outros! De não querer se comportar de acordo com os "padrões estabelecidos". E ninguém pode lhe impor outros padrões em nome de alguma pretensa verdade?

É importante, neste mundo uniformizado, ter e manter opiniões próprias! E a atitude de dizer ao outro que ele errou está muito próximo e corre o risco de descambar para a uniformização os pensamentos. E essa atitude, essa uniformização, é um dos caminhos mais curtos para produzir a morte do pensamento.

Apelando para a etimologia veremos que a palavra crítica vem do grego. Significa processo de purificação. Dizem os entendidos que a palavra origina-se na prática de purificar o ouro: trata-se de derreter (destruir) o minério bruto e natural, a fim de retirar suas impurezas, para aproveitar somente a parte purificada, para que o minério adquira valor.

Lembrando que, ainda de acordo com o que dizem alguns filólogos, o "acrisolamento" esse processo de derreter o ouro, é um processo destrutivo. O ouro bruto tem que ser derretido.

O que se tem é o minério destruído para ser purificado. Ao ser destruído – derretido – fica possível não só retirar as impurezas como permitir que do minério derretido possa-se criar algo novo, com valor mais elevado. Mas o ponto crítico é o ponto em que o minério é derretido – destruído! O minério deixa de ser o que era na natureza! Derretido-destruído permite ao ourives, ao artesão, manuseá-lo, manipula-lo, produzir...

É a parir desse contexto histórico-etimológico que chegou a nós a palavra crise, crítica, crítico, sempre com um sentido de processo de purificação. Destruição.

Mas esse processo, de tomar o metal destruído, transformado, já é outro processo, já não é mais o processo crítico.

E assim chegamos ao ponto em que volto a afirmar que só existe critica destrutiva.

Vejamos: quem é "do contra" na verdade não está tentando DESTRUIR a opinião contrária à sua? Ser de opinião contrária não é exatamente ser contestador, descontente, procurando derrubar as posições contra as quais se é contra?

Além disso, aquela pessoa que afirma estar fazendo "crítica construtiva" não está tentando "destruir" aquela atitude ou opinião que julga errada? Considera que alguém está fazendo algo errado e então critica (para destruir) seu ato e com isso está tentando, justamente, fazer com que a outra pessoa mude de posição. Essa não é uma forma de destruição?

Tudo isso fica confirmado pelo sentido etimológico da palavra: Criticar é acrisolar, é purificar, é destruir o impuro para transformá-lo em algo melhor. Mas, mais uma vez, essa possibilidade da construção de algo melhor já é posterior à crise, à crítica.

Com base em tudo isso é que volto a afirmar que somente existe Crítica Destrutiva. A finalidade da crítica é a destruição. O que vem depois da destruição pode ser uma nova construção. Mas esse já faz parte de um passo seguinte.

Dizendo de outra forma. A crítica é um processo destrutivo. Por ser processo gera possibilidades. Essas possibilidades podem ser para a Edificação ou para a completa Aniquilação-Destruição. A Crítica é o primeiro passo de um processo destrutivo. O passo seguinte já não é mais parte da crítica. É só uma conseqüência de algo iniciado pela crítica.

Por isso tudo é que as situações crítica são tremendamente importantes, pois elas permitem o processo de purificação.

Quer fazer críticas? Pois não! O que você quer destruir? Mas cuidado para não pararna crítica pela crítica pois isso não leva a nada. Além disso, não se esqueça de um ditado antigo: "quem semeia vento, colhe tempestades"

Neri de Paula Carneiro

Filósofo – Teólogo – Historiador

Leia mais: http://falaescrita.blogspot.com/

http://ideiasefatos.spaces.live.com