Crítica ao guardador de Rebanho.

Por Edjar Dias de Vasconcelos | 05/09/2013 | Poesias

Crítica ao guardador de rebanhos.

 

                     Fernando Pessoa   Pergunto-te com singeleza.

A intuição de um contra poeta.

Nunca guardou rebanho?

Quando sua poesia é palaciana.

Admiro-te pela existencialidade.

Até mesmo pela a coragem.

Mas nunca contestou o mundo.

Das fabulosas antas.

O que fora das melhores pastagens.

Se não teve alma de pastor.

Aceito a vossa ironia.

Tentava imaginar as estações.

Mas não o por do sol.

O significado da cor.

 Da água do mar.

O olhar triste da imaginação.

A poesia crítica sem dialética.

Sem materialidade histórica.

O absurdo do mundo.

Mas qual o verdadeiro sentido.

Das borboletas entrarem.

Pela a janela.

Do vosso quarto.

A não ser o desejo inconsciente.

De guardador de gado.

 

Condutor de antas pelo campo afora.

Pensa no sol que foge a cada dia.

Como se o dia tivesse existência real.

Os anos sendo o próprio tempo.

Que ilusão senhor Fernando Pessoa.

O desejo para a multiplicação.

O sossego é tão diferente.

 De um parque as encostas.

Que deve existir na alma.

A não ser um campo de flores.

Desérticas.

 Deveria antes ser pastor.

Ou um destruidor de palácio.

 Sei da vossa angústia.

A respeito do nada.

Do insignificado da própria razão.

Colher flores em campos de espinhos.

A ilusão da sua sensibilidade.

A alma se perde na preponderância.

Do enfeite do vosso poema.

Um ruído sem exclamação.

Para além de uma estrada sem curva.

O que significa essa metáfora.

Senhor Fernando.

A não ser chocalhos sobre os pastos.

A vossa sapiência.

As encostas do saber.

 Metafisicamente.

O significado da alienação.

Que espírito é esse.

Que ronda as nuvens.

Antes mesmo de o sol nascer.

Talvez não seja guardador de rebanho.

Por ser o próprio pasto.

Reclamo a ti a sabedoria.

 Dos belos riachos.

As borboletas perdidas vestidas.

 Com os sinais da imaginação.

A significação da felicidade.

Os pensamentos escritos em folhas turvas.

Se soubessem mergulhariam na imensidão.

 Do vosso silêncio.

Ser rebanho é diferente de guardar rebanho.

Como se cuida um pastor.

Sem tocar no cajado.

Que mundo é esse Fernando.

O qual a vossa pessoa descreve.

Incomoda a chuva quando o vento desaparece.

 Os sinais de novas tempestades.

A ambição de estar pedido.

 A distância percebe somente uma árvore.

Ela é o próprio guardador.

A ilusão de estar sozinho.

 A beira de um recanto.

 Um cordeiro ou uma anta.

Que trás felicidade ao tempo.

Qual a diferença.

Espalha pelas encostas o brilho do sabor.

O tempo passa e a coisa fica mais infeliz.

O sol esconde seu amarelado.

 As nuvens o seu olhar.

A luz desaparece.

 Como o silêncio se faz ao tempo.

As borboletas saem dos quartos.

 O mundo continua como antes.

E a vossa pessoa esquece.

Como não só cuida de rebanho.

Mas adora a vosso fazer.

 

Edjar Dias de Vasconcelos.