Cristo tem poder

(Reflexão a partir de Atos dos Apóstolos 4,8-12; 1 João 3, 1-2; João 10, 11-18 – 4º dom. Páscoa)

O que fazem os poderosos da terra com o seu poder? Infelizmente sabemos que quase todos o utilizam, não para o bem da população, mas para auferir benefícios pessoais.

Não é exagero dizer que teríamos dificuldade em encontrar alguém investido de poder e que o está usando para o bem da população que lhes é subordinada.

O fato é que aquele que possui poder, também tem responsabilidades em relação àqueles sobre quem ele é exercido. Por isso a necessidade de saber qual a sua origem: De onde vem o poder daquele que tem poder? É sua origem que lhe concede validade.

Na política sua validade está no povo: o poder político é válido e legítimo quando nasce do povo. Esse é o principio da democracia. E aqui está o problema, pois muitos se apropriam do poder a partir de um princípio democrático, mas o utilizam de forma corrompida e corruptora, contra o povo.

Mas, e se falarmos do poder de Jesus? Neste caso estaríamos falando de um poder que vem do Pai e é concedido aos discípulos, como podemos ler em Jo 10,11-18, ocasião em que Jesus se apresenta como o bom pastor!

Nessa situação, qual é o poder de Jesus? Trata-se do poder de conhecer as ovelhas e ser reconhecido por elas; reunir todas num só rebanho; conhecer ao Pai e principalmente o poder de dar a vida.

E o que significa dar a vida? Pode-se entender de duas formas: dar a vida é, ao mesmo tempo, concedê-la para que o outro passe a existir (os pais dão a vida ao filho, ao concebê-lo) e oferecê-la como dom de salvação. Jesus dá a vida pelas ovelhas e para as ovelhas. Ele é fonte de vida, além de ser caminho e verdade (Jo 14,6).

E por que ele dá a vida pelas ovelhas? Porque as conhece! E por que conhece? Porque é o Pastor. É o pastor que conhece o rebanho porque elas existem numa vida que é dom de Deus, embora, por vezes, enfrentem dificuldades. Dificuldades provocadas ou produzidas pelos mercenários que, ao invés de cuidar do rebanho, explora-o. Jesus Pastor dá a vida; os poderosos do mundo, são mercenários, pois exploram e sugam o povo...

O mercenário não dá vida nem defende a vida. Ele foge diante do perigo. Jesus mantém uma relação de proximidade carinhosa com “as ovelhas”. Elas “ouvem minha voz”; o mercenário usufrui das vantagens e não se compromete com o povo. Pelo contrário, ao surgirem as dificuldades, abandona as ovelhas nas mãos do lobo. Aliás, eles, além de mercenários, são os lobos...

E quem são os mercenários? Aqueles que foram investidos de algum poder e em vez de cuidar daqueles sobre quem exercem o poder, os enganam, exploram. Por exemplo um político corrupto. Um médico que antes da saúde pensa no dinheiro do enfermo. O sistema judiciário quando usa a lei para beneficiar os ricos e deixando o pobre sofrer as severas penas da lei que não são aplicadas aos ricos.

Mas com Jesus é diferente. Como pastor, cuida! E cuida porque possui também esse poder. E como pastor poderoso, confere poder aos seus para que façam o bem que aprenderam do pastor. Por esse motivo e com esse poder é que Pedro explica o que realizou: curou o enfermo porque estava investido do poder conferido por Jesus, o ressuscitado. “Curamos em nome de Jesus Cristo, o Nazareno”. (At 4,10).

Pedro põe seus opositores em cheque. “Vós o crucificastes”! Ao dizer isso os acusa e demonstra que seu crime foi em vão pois “Deus o ressuscitou dos mortos” (At 4,10). Ou seja, a execução de Jesus, resultado de um poder humano, falhou diante do poder vivificante de Deus.

E de onde pode vir o poder do cristão? Do testemunho em nome de Jesus. Com esse poder é que Pedro cura os enfermos e justifica seu gesto: a cura e salvação está no nome de Jesus: “em nenhum outro há salvação” (At, 4,12). Exercer esse poder, fazer o bem a quem necessita, traz como recompensa não um bem pessoal, mas uma plenitude de vida, pois “haveremos de ser” aquilo para o que nascemos: “seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é.”(1Jo 3,2).

Esse é o poder de Jesus. O poder de quem conhece suas ovelhas para lhes dar vida. Uma vida a ser partilhada na construção de um rebanho capaz não só de permanecer junto ao pastor, mas principalmente, de ser capaz de expulsar os mercenários. E se ainda não os expulsamos é porque ainda não nos apropriamos de poder de Jesus.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Mora – RO