Crise política, Operação Lava jato e leva a nada.

O Partido dos Trabalhadores e Lula devem ser julgados pelos erros políticos cometidos e pelos projetos políticos a favor dos trabalhadores que deixaram de implementar, e não por atos e erros que não cometeram. Esse julgamento deve ser feito nas urnas. É assim que funciona nas demais democracias. Não pretendo julgar nem defender o PT e seus principais dirigentes, com destaque para a Articulação que por deter dentro do Partido uma maioria "construída", muitas vezes de maneira questionável, não teve humildade, clareza e análise correta da conjuntura política na ocasião para ouvir os outros companheiros valorosos que advertiam para os riscos de se fazer alianças com bandidos travestidos de políticos sem o mínimo de ética e compromisso com o país, atuando dentro de partidos como PMDB e outras siglas de aluguel.

O rumo equivocado que o Partido dos Trabalhadores tomou nesses últimos vinte anos tem um grande responsável que se chama “Articulação”, que se transformou em campo majoritário, e sozinha, sem ouvir os demais companheiros de luta, levou o Partido para o pântano!

Isso não significa que o PT não tenha mais quadros importantes e respeitados, mesmo tendo que conviver, imagino eu, em constante conflito. Tenho grandes amigos de caráter que estão no PT, e que acreditam que ainda podem reconstruir a vocação desse que já foi o mais importante partido da classe trabalhadora no Brasil: defesa intransigente dos interesses da classe trabalhadora e nenhuma concessão ao grande capital! O que posso dizer é que lhes desejo muito sucesso nessa jornada.

Saímos do PT há doze anos para fundar o PSOL porque achávamos que o PT estava se distanciando dos movimentos sociais (¹).

“Dissemos muitas vezes que o PT estava abandonando a sua causa: a transformação da sociedade. Este abandono começou nas bandeiras rebaixadas e propostas esquecidas. No distanciamento dos movimentos sociais, da vida real dos trabalhadores e na aproximação cada vez maior com a política tradicional e seus métodos. Na valorização do capital, em detrimento do trabalho, expressa, por exemplo, nas campanhas eleitorais cada vez mais caras e no uso do dinheiro, dos cargos e das vantagens como fator de convencimento e arregimentação.” (Trecho de nosso manifesto “Para além do PT”, de maio de 2005, para nossa desfiliação).

Mas também não pretendo culpar o PT por tudo de errado que aconteceu, até porque sabemos que se não fosse feito algumas concessões à classe política e social dominante, Lula não teria terminado nem mesmo o primeiro mandato, mesmo com todo o ambiente econômico favorável.

Mas acho que no meio do caminho uma parte dos integrantes do Governo se perdeu e acabou sucumbindo ao jogo sujo para a perpetuação no "poder". Entre aspas, porque sabemos que ao sentar na cadeira de presidente, Lula conseguiu apenas o maior cargo do poder executivo, mas o poder de fato, continuou pertencendo a classe dominante. Marx, através de estudos profundos feitos durante muitos anos sobre a sociedade capitalista, deixou bem claro que a luta de classes é exatamente a luta entre classes com interesses totalmente antagônicos, é uma luta ideológica, mas é acima de tudo uma luta política. Se não acreditarmos nisso é porque não entendemos nada do que ele escreveu em sua principal obra “O Capital”.

O PT e Lula devem ser duramente criticados por terem se juntado a essa turminha braba (como diz o Cid Benjamin), e dessa forma não terem opção política a não ser ceder cargos de importância vital no Governo, como por exemplo colocar Meirelles, um executivo comprometido com os maiores banqueiros do sistema financeiro internacional e grandes grupos econômicos do grande capital, para comandar uma pasta tão importante como o do Ministério da Fazenda. E fez isso tendo competentes e brilhantes economistas em seu quadro de filiados.

Devem ser criticados por terem quitado a dívida externa contraída no governo FHC com o FMI em mais de R$ 30 bilhões de reais sem ter feito uma auditoria séria de sua estrutura com objetivo de verificar a existência de fraudes e pagamentos de juros e encargos de caráter ilegítimo e inconstitucional.

Devem ser criticados por não terem viabilizado uma reforma agrária que permitisse que milhares de famílias pudessem produzir alimentos mais saudáveis e menos agressores ao meio ambiente, através da agricultura familiar.

Devem ser criticados por não terem viabilizado uma política habitacional compatível com a realidade da classe média que tem milhões de famílias que ainda não conseguiram adquirir seu imóvel próprio. Por outro lado, pouco fez para evitar que milhares de famílias da classe alta ainda possam ter o privilégio de terem três, quatro ou mais imóveis; muitos deles nem disponíveis para aluguel, pois foram adquiridos apenas para especulação financeira e arbitrar em cima dos que não podem competir com eles. Ao fazerem isso, reduzem a oferta e o aumento dos preços de tais imóveis.

Devem ser criticados por não conseguir e nem ao menos tentar articular politicamente uma reforma tributária progressiva de fato e que permitisse a cobrança de imposto de renda sobre os maiores salários através da criação de novas alíquotas do imposto. Não é nada justo nem pouco razoável uma pessoa que tem salário acima de R$4.665 (última faixa salarial) pagar a mesma alíquota de 27,5% sobre salários de R$ 30 mil, R$ 100 mil, R$ 200 mil ou mais! Não travaram também a luta parlamentar para regulamentar a cobrança de imposto sobre grandes fortunas (IGF), já previsto inclusive na CF de 1988 e pendente apenas de regulamentação!

Devem ser criticados por não terem fortalecido as diversas instituições da sociedade civil. Por que o Partido e o Governo não procuraram dialogar com mais frequência com os movimentos populares e com os outros partidos de esquerda? Quantas vezes o Governo fez reunião com os líderes e representantes da CMP – Central de Movimentos Populares. Essas reuniões são vitais para um governo que pretende fortalecer políticas nas áreas agrária, habitacional, agricultura familiar, desenvolvimento sustentável e cooperativas de trabalhadores tanto de produção quanto de crédito.  

É bom lembrar que essas pessoas que bateram panelas nas janelas e varandas, pedindo impeachment de Dilma e agora prisão para Lula, são as mesmas que gritavam e esbravejavam que o PT era um partido radical por não querer fazer alianças com os partidos de direita e centro direita, tipo PMDB e outros tão oportunistas e conservadores. Esses partidos são os mesmos que juntos com o PSDB já operavam dentro da Petrobras e outras empresas públicas, há mais de trinta anos, como revelado pela própria investigação.

Foi sob a mesma bandeira da corrupção, levantada outras vezes, que a classe política dominante se serviu diversas vezes na história do Brasil para desviar a atenção da população para problemas bem maiores que acontecem em nosso país, como a sangria de mais de R$ 200 bilhões de reais pagos somente em juros por ano com a dívida interna, ou com a venda de ativos da Petrobras da camada do pré-sal que podem valer vinte vezes mais que o valor que estão sendo negociados a toque de caixa por um governo provisório, e durante um mandato tampão ao meio de uma das maiores crises econômica e política que o país já passou. Nenhum Congresso sério no mundo permitiria que uma riqueza tão importante para o futuro de várias gerações do país pudesse ser negociada sem o aval da população, sem o aval das urnas!

A cadeia deve ser para todos que cometeram crimes, independente de legenda. Isso serve para todos, desde o vereador até o presidente da república. Desde que respeitado o princípio do contraditório e da ampla defesa em todo o processo judicial.

Querer colocar Lula ou qualquer outro político na cadeia para tirá-lo da disputa presidencial é retroceder aos tempos da inquisição. Para se afastar qualquer político da disputa eleitoral é preciso bem mais do que a simples convicção de um procurador e um monte de slides sem o menor sentido. Me parece que os golpistas e conspiradores terão que providenciar um enredo bem melhor do que esse do Tríplex. Como pode aquele que é apontado como o “Chefe da Quadrilha” obter vantagens no valor de R$ 2,4 milhões de reais na troca de um apartamento simples por um tríplex com reformas, e sem estar em seu nome ou de algum parente? Pelas informações disponíveis, o referido apartamento está em nome da Construtora que o teria dado como garantia em alguma operação. Por outro lado, um até então desconhecido executivo da Petrobras é beneficiado com mais de R$ 45 milhões em uma conta! Quem é realmente o chefe da quadrilha? O “Capa Preta” leva R$ 2,4 milhões, e um Zé rosca qualquer leva R$ 45 milhões? É nisso que eles querem que a população acredite? É com essa estória patética que querem botar o “Capa” na cadeia? Essa estória com esse roteiro não faz o menor sentido.

O mesmo serve para qualquer político. Aécio não deve ser preso apenas porque milhões de pessoas desejam. Não deve ser preso porque acham que ele esteja envolvido com drogas, corrupção e assassinatos. Quem tem que chegar a essa conclusão e provar é a polícia Federal, o MP ou outra autoridade competente. É simples assim. O resto não passa de golpe ou autoritarismo, somente permitido em ditaduras.

O grande júri que Lula e o PT devem ser submetidos são as Urnas eleitorais. Esse é o verdadeiro julgamento político! Se cometeram realmente crimes, de qualquer natureza, os mesmos devem seguir os trâmites previstos para todos os brasileiros. Chega de golpes! Eleição Direta Já!

O grande problema é acontecer o que ninguém deseja, que é ver toda essa operação e seu custo altíssimo imposto ao país não apresentar resultado convincente, pois a Operação Lava jato teve seu início em março de 2014, e já é a mais longa operação da PF em conjunto com o MP. Ou o poder judiciário providencia uma força-tarefa para acelerar os processos, ou corre-se o risco de ver a operação passar a ser chamada de “Operação Leva a nada”.