Gean karla Dias Pimentel[1]

Jucelma Lima Pereira Fernandes[2]

Raquel Rocha Drews Valadares[3]

Sebastiana Félix da Cruz Freitas[4]

Valquíria Mendes Marques[5]

Valquíria Rodrigues Dias[6]

Por meio das brincadeiras as crianças representam ações, desencadeando um cenário imaginário para representar papeis vivenciados, seja no contexto familiar ou no convívio social. Neste cenário, Vigostky, (1994), cita que: a brincadeira da criança não é instintiva, mas precisamente humana atividade objetiva, que por constituir a base da percepção, que a criança tem do mundo dos objetos humanos, determina o conteúdo de suas brincadeiras.

Nestes aspectos, Leontiev (1994) e Vygotsky (1991) mostram que a brincadeira convida a criança a criar um mundo de pernas para o ar, de modo a experimentar o que ela não pode concretamente realizar na vida cotidiana, sem que isso signifique a perda dos laços com a vida cultural, de onde são extraídos os elementos simbólicos que alimentam a experiência lúdica.

Partindo destas reflexões, podemos afirmar, que por meio da brincadeira/lúdico, que se percebe o quanto as crianças são capazes de se articular entre o mundo real e o imaginário, mostrar as suas capacidades, potencialidade e habilidades cognitivas, que por meio da imaginação transformam um simples objeto em algo que tenha significado e a brincadeira na maneira mais natural de representar as suas experiências, conflitos, anseios, desejos e necessidades cotidianas, adquiridas/vivenciadas tanto no seu convívio familiar como social.

Desse modo, ao brincar as crianças recriam e repensam tudo aquilo que lhes aconteceram. Através da brincadeira, elas transformam os acontecimentos que já possuem em conceitos e regras que norteiam as suas brincadeiras.  Nesta ótica, a brincadeira é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia da criança. Por meio do brincar ela desenvolve toda a sua imaginação, colocando em prática tudo aquilo que vive ou viveram em sua realidade.

De acordo com Vygotsky (1991, p.117), “é notável que a criança comece com uma situação imaginária que, inicialmente, é tão próxima da situação real. O que ocorre é uma reprodução da situação real. [...]”. Desse modo, surge na criança à necessidade de agir tal qual maneira o adulto age com ela. Ou seja, as crianças reproduzem através das brincadeiras tudo aquilo que os adultos praticam com elas na sua vida cotidiana tanto familiar como social. E isso pode ser visto por meio dos papéis sociais (de pai, mãe, irmão...) que os pequenos interpretam enquanto brincam.

É neste sentido que Vygotsky (1991) e Leontiev (1994) citam que: sempre que houver uma situação imaginária relacionada ao brincar, existem também as regras que subsidiam as brincadeiras, porém, não são regras preestabelecidas que se modificam durante a brincadeira, mas são regras que se originam da própria situação imaginária, conforme o papel pelo qual elas são justificadas.

Para Vygotsky (p113) a criação de uma situação imaginaria não é algo fortuito na vida da criança; pelo contrario, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais.

Para Leontiev (1994), a tensão entre a necessidade que a criança tem de agir sobre a realidade e a impossibilidade de realizar as operações suscitadas por ações – o como fazer – é o que provoca a imaginação no brincar invertendo o velho adágio de que a brincadeira é a imaginação em ação.

Segundo Leontiev (1994), “[...] quando uma criança assume um papel em uma brincadeira, [...], ela se conduz de acordo com as regras de ação latentes a essa função social; [...]. Ainda de acordo com o autor é ela quem organiza o comportamento das demais crianças que fazem parte da brincadeira. Ressaltando que, no brincar aparecem as regras de comportamento social, ou seja, toda e qualquer brincadeira exige regra, quando a criança brinca de faz- de -conta as regras são explicitas.

É neste sentido que, Vygotsky (1991, p.117), cita que

[...], o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.

Conforme descreve Leontiev (1994, p. 130), “nos brinquedos do período pré-escolar, as operações e ações da criança são, sempre reais e sociais, e nelas a criança assimila a realidade humana. [...]”. Ainda utilizando as palavras de Leontiev (1994), compreendemos que, o brinquedo é caracterizado pelo fato de seu alvo residir no seu próprio processo e não no resultado da ação. No brinquedo a criança age a partir de suas necessidades, ou seja, em relação não apenas dos objetos em si, mas em relação ao mundo dos adultos. Desta forma através do brincar/ do lúdico cria-se uma situação imaginaria que permitem agir sobre o mundo a partir de significados e idéias liberando assim suas impressões. Leontiev 1994 afirma que a brincadeira surge a partir das necessidades que a criança tem de agir da maneira que ela vê os outros agirem.

O brinquedo favorece a criação de zona de desenvolvimento da criança, “porque nele a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário (...) é como se ela fosse maior do que é na realidade (Vygotsky 1991, p.117).

Em síntese, através das concepções/teorias de Vygotsky (1991) e Leontiev (1994), percebemos que: a criança em idade pré-escolar, ou seja, entre 3 e 6 anos, constrói o seu brincar praticamente por meio do faz-de-conta, acreditamos que elas escolhe esse tipo de modalidade de brincar, justamente porque permite a elas experimentar diversas outras brincadeiras/atividades que lhes permitem conhecer o mundo fantástico dos objetos da natureza e da cultura que as cercam, bem como favorece afloramento do seu pensamento infantil por intermédio de suposições e julgamentos que se afirmados, levam-nas a criar conceitos pré-estabelecidos que as direcionam a criação de outras novas hipóteses. Fato este que contribui para com as principais mudanças psicológicas na personalidade da criança, isso porque, quando a criança se coloca no papel de outro, principalmente, dos adultos, ela assume um comportamento idêntico ao da pessoa representada, o que a leva a um melhor desenvolvimento cognitivo e uma aprendizagem mais significativa.

A partir do comportamento dessas crianças que podemos observar em meio à suas brincadeiras, concordamos com Leontiev (1994, p. 127), quando ele descreve que: “é preciso acentuar que a ação, no brinquedo, não provém da situação imaginária, mas, pelo contrário, é esta que nasce da discrepância entre a operação e a ação; assim, não é a imaginação que determina a ação, mas são as condições da ação que tornam necessária a imaginação e dão origem a ela”.

Em suma, por meio da brincadeira, a criança expressa o que vai entendendo sobre as atividades/ações dos adultos, as formas como se relacionam, ou seja, imitando modelos adultos, a criança expressa os valores e os traços que ela esta aprendendo através das relações sociais e revela as explicações que dá aos fatos e fenômenos da cultura e da natureza. Dessa forma, a criança vai formando a função simbólica da consciência, ou seja, vai formando a capacidade de colocar um objeto em lugar de outro, de usar um objeto para representar outro.

Referências Bibliográficas

LEONTIEV, Alexis N. Os Princípios Psicológicos da Brincadeira Pré-escolar. In: VIGOTSKY, L. S, LURIA, A. R, LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 5. ed. São Paulo: Icone, 1994, p.119-142.

VYGOTSTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In:____A Formação Social da Mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991, Cap. 7, p.105-118.

[1] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[2] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[3] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[4] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[5] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.

[6] Graduada em: Pedagogia; Especialista em Psicopedagogia e professora na Rede Municipal de Ensino Público na cidade de Rondonópolis.