COVID – 19: UMA APROXIMAÇÃO FORÇADA E OUTRAS CONSEQUÊNCIAS (POSITIVAS OU NEGATIVAS) NO ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR?

Texto produzido em 07 de abril de 2020 e divulgado em abril de 2020 em Santa Maria do Uruará, Prainha – Pará.

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

É sabido que a convivência familiar ou parentesca sempre ocasiona ou faz eclodir os mais diferentes conflitos. Seja entre marido e mulher, seja entre pais e filhos, seja entre irmãos mais velhos, ou seja, entre netos e avós. Lembrando que as consequências geradas nem sempre serão negativas; no entanto, a maioria caminha para este lado.

Logo, muitos casais, que há muito tempo se viram distante um do outro, seja por causa do horário e tempo no local laboral, de repente veem suas rotinas mudarem de repente, e ter que se adaptar a um novo modelo e dinâmico modo de conviver. Homens que muitas vezes preferem estar mais longe do lar e da própria vivência com a esposa, deflagrada por algumas razões, assim como a esposa que prefere que o marido chegasse mais tarde para não ter que aguentar seus “caprichos”, agora buscam refúgios no mais aconchegante e inesperado lugar.

Neste interim, estão os filhos, que sempre sentiram falta da presença dos pais, quando de sua volta das aulas, e que no próprio final de semana, os primeiros preferem ficar em seus quartos trancafiados ao novo modelo de relação pessoal e comunicação. No entanto, este sentimento é notório até certa idade, antes da adolescência, pois quando atingem este nível de amadurecimento, nos perece que conseguiram “voar com suas próprias asas”. Ledo engado: estão mais suscetíveis a desvios de condutas e comportamentos e sendo presas fáceis ao mundo “desconsertado”; o que deveria ser um momento de ação dos pais nos direcionamentos fundamentais aos bons hábitos e as nobres atitudes de formação do ser humano. Porém, os pais estão longe demais neste período de transição, o que pode permitir um momento de transição não tanto agradável do ponto de vista social e muito menos do moral.

Neste período de presença do COVID-19 e determinação pelas instâncias de saúde, se faz necessária esta, ou como um modo forçado de vivência e convivência ou mesmo um sentimento de alívio pode brotar, pois neste último caso, se torna uma chance de se colocar em prática algo que há tempo se ficou para trás: a vivência entre os elementos formadores da família ou das variadas formas de família. Assim como, também, desenvolver práticas, hábitos e atitudes que ficaram esquecidos ao tempo, e que somente agora numa situação impar e peculiar poderão novamente serem reativadas de forma sólida e não vista com uma instância de afastamento.

Desta forma, a comida da mamãe, o ajuntamento no mesmo espaço (mesa), que outrora se tornou apenas uma mobília de enfeite na cozinha, o tempo para as reflexões e argumentações para definirmos quem somos nós e do que somos capazes da pequena partícula de pó que somos diante a grandeza do universo ou mesmo pequenos em demasia sobre o medo pairado no ar apresentado por um ser minúsculo, mas que poderá definir o destino e a construção de quaisquer famílias; assim, pensar nos tempos bons de vivência e aproximação que foram gastos pela completa dedicação ao trabalho ou pelos passeios incansáveis pela cidade, Ou até mesmo ter templo para contemplar a rua, aquele espaço sempre dinâmico e feroz que jamais se curvou ao tempo e as mudanças do espaço.

Assim, com tempo de sobra, não precisa mais sair engolindo o alimento pela manhã por acreditar que estará atrasado, poderá ter tempo suficiente para saborear não mais sua cama ou seu lençol, mas o tempero da cozinha que não se sabe nem por onde ficou ou o que se coloca nos diversos preparados com carinho. Já os filhos que não estão na aula, e nem podem sair para as visitas às pizzarias, que aproveitem este tempo para saborear este alimento preferido junto aos seus verdadeiros amigos: pais, avós e irmãos. Que se tenha consciência, que mesmo longe dos espaços escolares, hoje são de uma geração que seus quartos possam refletir mais quanto a importância dos estudos em sua vida e assim aproveitar os instrumentos caros comprados por seus pais e utilizá-los de forma criativa e prazerosa nos estudos à distância, pois os mesmos são privilegiados, pois não será preciso pegar a condução, nem pegar chuva, nem acordar cedo, nem vestir o uniforme (muitas vezes evitados), muito menos ter gastos extras com material para os trabalhos, o lanche e o transporte: tudo se aproximou e ficou em um só lugar, da forma que almejavam quando estavam no ambiente físico e sistemático organizado ao ensino. Se reclamar será muita falta de reflexão. Amigos? Verdadeiros? Estão todos juntos, de manhã, a tarde o dia todo, 24 horas!

Por outro lado, há desse afastamento social, no mais duro termo do isolamento domiciliar, um certo incômodo, pois parece-me que a atual família do século XXI se adaptou à novas regras, diretrizes e costumes, que as vezes não são muito saudáveis: pois se preferia almoçar fora no intervalo do trabalho, guloseimas e outros preparados que não correspondem as certas recomendações médicas: uma alimentação saudável; muito menos um tempo adequado para o desfrute da refeição, pois exige habilidade na sua execução, assim como o cansaço notório ao voltar para casa, as vezes no estresse do trânsito ou no sufoco das lotações. Tudo isto em partes resolvidos, pois não se fará gasto em refeições e suas complementações, nem gasto no transporte; pois agora no íntimo do lar pode fazer seu próprio planejamento de trabalho e assim matar o desejo que sempre quis, proporcionar e interagir o espaço do trabalho com o familiar.

Porém, as esposas que já se sentiam incomodados em dividir apenas o intervalo da noite e os raros finais de semana, podem ter: ou adorado a ideia desta conjugação ou odiado a ideia de mais um “desarrumador” do espaço o qual ela trata com muito carinho e que por vezes permanece inerte por um bom tempo intacto da forma escolhido à arrumação; pois também achará mais itens na pia, assim como outros apetrechos ao longo do espaço da casa.

Bem, é bom lembrar que esta é uma situação passageira, e que depois tudo voltará a ser como antes. E quem soube aproveitar ao máximo, pode ser considerado um privilegiado; mas quem esqueceu deste tempo, e somente o usou para dormir como um desesperado e engordar, perdeu mais ainda, um tempo curto, porém grandioso, de que se faz necessário pensarmos mais com a mente e esquecermos mais os olhos, pois a primeira quando usada, se torna um espectro proveitoso para lembrar para o resto da vida o que este momento lhe proporcionou, caso contrário, isto significou apenas mais um pesadelo que passou longe de nossa percepção e reflexão como ser humano. Pois amanhã, não sabemos, e poderemos estar mergulhados numa “guerra” muito mais pior que isto. E que, pelas não boas previsões: um dia podermos, por causa de nossa ganância e ferocidade, acordar um vírus mais letal e pernicioso à raça[2] humana: o qual pode estar em dois lugares possíveis: no âmago de qualquer floresta tropical ou em algum lugar dos oceanos, latente, apenas esperando a ação do homem a acordá-lo.

 

 

[1] Professor da rede pública municipal de ensino. Mestrando em Educação (Formação de Professores) UNINI/FUNIBER – 2020.

[2] Isto pode ser tomado como um conselho ou recado sobre o que estamos fazendo com a nossa casa terrena: o mundo. Pois devemos pensar que não somos os únicos seres capazes de exterminarmos à raça humana, mas algo que ficou pronto há muito tempo, ou mesmo sermos capazes de virarmos vítimas de nossa ambição e egocentrismo, no uso irracional da tecnologia.