Você sabe qual é exatamente o significado da palavra bullying? A língua portuguesa é riquíssima em palavras e sinônimos, mas ao caso em questão deu-se preferência ao inglês, talvez devido aos primeiros e trágicos acontecimentos em conseqüência desse tipo de discriminação e de que tomamos conhecimento, terem se passado nos Estados Unidos. Aqui se sabe o que é xingar, apelidar, criticar, zoar, zombar,  enfim oprimir alguém por não ser simpático ou agradável por um determinado motivo; simplesmente uma terrível e cruel forma de discriminação. De vez em quando explode rumorosamente na mídia a notícia de outro crime monstruoso praticado em algum colégio, no exterior ou aqui mesmo no Brasil, e o estopim da barbárie é sempre o mesmo: a discriminação, o bullying. O assassino é sempre um rapazola revoltado silenciosamente, deprimido, sem amigos, ridicularizado por ser feio, excessivamente gordo ou magro demais, por ter o rosto espinhento além da conta, por cheirar mal ou por qualquer outra razão que o faça ser diferente dos outros meninos da escola. Por isso ele é apelidado, achincalhado e passa a ser motivo de zombaria numa comunidade na qual, por força das circunstâncias é obrigado a frequentar. Com certeza o amanhecer para esse ser humano em formação, é de uma amargura inexprimível, porque ele sabe o que o espera logo mais ao entrar na escola, na sala de aula, verdadeiro suplício em um ambiente que o oprime e o fere até as profundezas alma. Diariamente ele tem que  sentir os olhares zombeteiros e ouvir as chacotas daqueles colegas que ele tanto gostaria que fossem seus amigos, mas que se tornaram seus impiedosos algozes. Colegas que se transformaram nos fantasmas que o atormentam durante horas de insônia pela noite a dentro, que o faz chorar de desgosto e de raiva contida e ao dormir, esses fantasmas povoam os seus sonhos transformados em pesadelos terríveis, sem que ninguém da família tenha conhecimento. Ele sente vergonha de falar com os pais sobre o seu tormento e interioriza as suas mágoas acumuladas, transformando-as em uma torrente de ódio mortal, incontrolável e inconfessável. As mágoas viram feridas, que diariamente vão infeccionando sentimentos que antes eram puros e infantis, até apodrecerem totalmente com o acúmulo dessas chagas invisíveis que aumentam continuamente, que causam dores tremendas no coração sensível de um infeliz adolescente.

O jovem está doente, seu poço de mágoas vai transbordar a qualquer momento, na primeira oportunidade. Sua mente foi irreversivelmente traumatizada e contaminada, transformou-se num tumor maligno invisível. Seu raciocínio se tornou opaco, carregado de desejo de vingança, sentimento que o consome a todo momento. Seus olhos não enxergam  mais a beleza da vida pura que estava desabrochando dentro de si. Tudo ao seu redor escureceu e de repente o seu objetivo não é outro senão destruir quem vem destruindo a sua alma, e chega um dia em que ele insensatamente destrói tudo em sua volta, e em algumas vezes até mesmo a sua própria vida, que para ele há muito não tinha mais sentido. E o que foi que causou tanta desgraça, o que foi que causou tantas feridas em uma criança, feridas que ela poderá carregar consigo até à fase adulta e para sempre? Será que esses fatos passavam despercebidos por todos, a discriminação de um ser humano em um ambiente que deveria ser motivo de alegria para ele?

Tudo acontecia entre crianças, mas crianças que maldosamente machucavam e feriam outras crianças sem que ninguém responsável percebesse! Onde estavam os educadores dessas crianças? Será que esses educadores não entendem nada sobre o tamanho da extensão que essas atitudes podem causar? Onde estão os professores, que não enxergam os olhares maldosos e risos escarnecedores com que seus alunos ferem um infeliz colega menos favorecido pela natureza impiedosa e deixam que tudo transcorra em brancas nuvens, sem se importar com o sofrimento da vítima? Sem se dar conta de que um terrível desfecho pode acontecer a qualquer momento, em conseqüência desse tipo de maldade já conhecida pelo mundo todo?

Se até aqui, leitor, você entendeu que eu estou defendendo e tentando justificar atos cometidos, um assassinato coletivo,  simplesmente por o criminoso ser adolescente mentalmente doente, você se enganou. Muito pelo contrário, as leis não só do Brasil mas de outros países também, são por demais benevolentes em relação a delitos cometidos por infanto-juvenis e jovens de menor idade, que apesar de portadores de graves patologias de ordem psicossomática, deveriam ser encarados como realmente são: indivíduos criminosos que embora em alguns casos se digam arrependidos, são indignos de posteriormente conviver em sociedade, quer tenham sido tratados ou não. Eles cometeram crimes de morte e na sequência destruíram vidas, vidas de pessoas úteis, transformando algumas em mortos vivos para sempre, portanto eles devem ser punidos com prisão perpétua ao invés de passarem apenas algum tempo em instituições de correção e tratamento. São doentes perigosos e nocivos à sociedade, assassinos que recuperados ou não, devem pagar pelo que fizeram. Sei também que esses criminosos são vítimas de uma sociedade que é cruel desde a infância, vítima de crianças mal orientadas, cuja crueldade infelizmente danificou a sua personalidade em formação.   No entanto, neste tema eu defendo a tese de que em relação a esse tipo de ocorrência, mesmo que a Lei seja cumprida com todos os seus rigores, nenhuma pena seria suficiente para indenizar as vidas perdidas. Melhor seria que semelhantes tragédias fossem evitadas. Este é o meu foco. Melhor seria que houvesse uma reavaliação dos conceitos tradicionais dos sistemas educacionais, capacitando psicologicamente diretores, professores e todos os que trabalham na área pedagógica, no sentido de fiscalizar o procedimento dos estudantes dentro das instituições de ensino, verificando possíveis ocorrências de bullying e quaisquer outras  atitudes discriminatórias que possam ocorrer e, cuja constatação ser levada ao conhecimento dos responsáveis e das famílias dos alunos praticantes da discriminação para serem seriamente punidos e severamente responsabilizados na presença dos pais ou responsáveis e em caso de reincidência, expulsos da instituição.

Antipedagógico? Não sou pedagoga mas acredito que sim, no entanto, muitas coisas têm que ser revistas e modificadas, alguma atitude tem que ser tomada. Numa sociedade que a cada dia se torna mais violenta, muitas normas e leis têm que ser modificadas de acordo com a transformação dessa sociedade. Diante das situações catastróficas que estarrecidos temos presenciado através dos meios de comunicação, simplesmente não se dar atenção a um fato considerado irrelevante como sempre foi o bullying nas escolas e até nas faculdades, realmente o sistema pedagógico tem que ser repensado. A planta venenosa da discriminação e da zombaria que humilha sem piedade um ser humano,  tem que ser cortada pela raiz antes que o veneno de seus frutos contamine outras mentes humanas ainda em formação que, como uma célula cancerosa enlouquecida destruirão outras vidas e até mesmo a sua própria, seja ainda no ambiente escolar como tem acontecido, ou algum tempo depois em outras circunstâncias, já que mais cedo ou mais tarde tudo pode se esperar de uma mente deteriorada e consumida pelo ódio.   

Júnia - 25/10/2017