Corrupção Para dizer a verdade, você não deveria estar lendo o que está lendo. O texto deveria ser outro. E seria outro, não tivesse ocorrido o que aconteceu. Logo de manhã, recebi o recado: enviar a coluna para adiantar o fechamento da edição do jornal. Como tantas outras vezes ocorrera, sentei-me à frente do computador para dar a formatação final ao texto e enviar. E o texto seria bonito, cheio de indagações e pontos de questionamentos a nós todos que nos apelidamos de cidadãos. O tema seria a corrupção. Dizia que a reflexão sobre corrupção estava sendo levada adiante porque uma leitora assídua desta coluna havia me procurado para me pedir que escrevesse algo sobre isso pois, dizia essa pessoa: "A gente vai perdendo a fé nos políticos, por isso, se você falasse alguma coisa para esclarecer as pessoas sobre como anda a corrupção, em nosso país, poderia ajudar". E assim comecei o texto: sobre corrupção. Até procurei alguns comentários de alguns filósofos para ajudar a polemizar o tema. Citava Maquiavel, Hobbes, T. Morus... Era para o texto começar assim: "Quando estamos discutindo política, qualquer um de nós poderia dizer que: "Atualmente, com o objetivo de obter vantagens no exercício dos cargos, os homens querem conservar esses cargos para si"; ou então: "Nenhum homem se candidataria ao cargo, se não tivesse ambição". A que isso nos leva?" Essa seria a introdução E eu continuava dizendo ? nesse outro texto que você leria, mas não está lendo, porque aconteceu o que aconteceu ? que "a partir disso foi que me coloquei a questão: O que é isso que chamamos de corrupção? O que queremos dizer quando dizemos que os políticos são corruptos? Por que nem sempre nos incluímos na lista, uma vez que em escala microssocial, todos nós somos corruptos?" Nesse ponto eu havia inserido algumas frases de Aristóteles, retiradas do livro "Política"dizendo, por exemplo que "Nas oligarquias as massas fazem revoluções por considerar que são injustamente tratadas". Num outro ponto ele afirmou que: "Quando os magistrados são insolentes e gananciosos os cidadãos se rebelam contra eles". Noutra frase disse que: "Em toda parte a desigualdade é a causa das revoluções". Especificamente sobre a ação dos políticos ele afirma que "Alguns deles se deixam subornar, sacrificando, a favor de alguém, o interesse público; dessa forma seria mais seguro que eles tivessem de prestar contas de seus atos no exercício de suas funções". Para explicar o que move as pessoas a se elegerem, disse que "Nenhum homem se candidataria ao cargo, se não tivesse ambição". Disse lá para seus concidadãos que: "Atualmente, com o objetivo de obter vantagens no exercício dos cargos, os homens querem conservar esses cargos para si". Como que retratando um desabafo nosso ele afirmou que "Os governos que têm em vista o interesse comum está constituído em conformidade com a justiça e, portanto, estruturados corretamente, mas aqueles que têm em vista apenas o interesse dos governantes são todos falhos e formas desviadas das constituições corretas". Depois disso, elem faz alguns comentários, mostrando como devem reagir aqueles que são vítimas dos desmandos políticos, dos atos ilícitos e nefastos dos políticos; apresenta sugestões de ações dos cidadãos, para fazer cessar, entre outras coisas, a corrupção, pois, diz o pensador: "O povo não fica irritado por ficar excluído do poder, e sim de pensar que os governantes estão se apropriando do dinheiro público". Por isso, contra a corrupção e os desmando políticos, ele aconselha os cidadãos a se rebelarem. Mas não deu para enviar esse texto. Por isso você não está lendo o texto que deveria ler, mas este que só saiu porque não saiu o outro. O motivo: a Internet não funcionou. Não só não funcionou em meu computador. Em toda a cidade as pessoas reclamavam: "são meses com conexão instável"; "dia sim, dia não, ficamos sem acesso à internet"... ou seja, você está lendo algo que não estaria lendo se a internet funcionasse. Como a gente se acostumou a pagar por algo que não recebe, pagamos nossos provedores de internet, mas não usufruímos do serviço. E, como se não fossemos cidadãos, nada fazemos. Anestesiados que estamos, continuamos pagando por algo que não nos é entregue. Compramos e pagamos, mas não usamos porque quem nos vendeu não nos entregou o produto. Falar e reclamar e dialogar não resolve. Os que deveriam fornecer o serviço são grupos que se sentem invisíveis, seres abstratos, seres intocáveis, inatingíveis... e muito poderosos. Por isso as reclamações não os atingem. E também porque nós permanecemos, como diz a música, vendo "tudo isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos". Na realidade nossa postura é a da outra música, em que o "Pedro pedreiro", que fica "Esperando, esperando, esperando só..." e até sua mulher terá um filho "pra esperar também!" Talvez houvesse alguma mudança tanto no nível de corrupção como na enganação que nos impõem as grandes empresas se saíssemos da acomodação e assumíssemos a postura proposta pelo refrão daquela musica sertaneja que diz: "Vamos quebrar tudo, vamos, vamos..." Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; http://ideiasefatos.spaces.live.com>; ; ;