Corrupção. O câncer do Brasil.

O Brasil é um país plural, há pluralidade na forma de pensar a religião, a política e a sociedade. O Brasil é um país de gostos diversificados, multifacetado, autônomo e soberano na condução de suas ideologias social, econômica, política racial e cultural. Tanto, que nas ultimas décadas temos visto o crescimento de entidades que defendem os chamados grupos minoritários. Grupos que chamam para si o direito de pensar, viver e agir de maneira diferente ao pensamento preestabelecido na sociedade.

Por outro lado, numa sociedade plural existe sempre a possibilidade de ocorrer excessos e deturpações naquilo que é considerado o ideal para ela mesma. Excessos podem satisfazer um grupo social e não satisfazer propriamente a outro. Vemos diariamente, através dos meios de comunicação, determinados exageros gerados principalmente nos “corredores do poder” e que ao longo do tempo têm se mostrado mais prejudiciais que benéficos a uma grande parcela da população.

Alguns excessos são percebidos facilmente nas três esferas do Poder publico que tem a obrigação de zelar pelo cumprimento e manutenção da pluralidade social brasileira, mas possui o dever de cuidar também para que este cumprimento e manutenção sejam justos dentro daquilo que é considerado ideal e equilibrado para a boa convivência dos cidadãos entre si, entre estes e os poderes legalmente constituídos.

Liberdade abusiva na condução do cargo que se ocupa, exagero de oposição às idéias políticas que norteiam o exercício do poder e excesso de corrupção no exercício da função pública são fatos rotineiros no palco do Poder brasileiro. Vez ou outra estes fatos estão sendo estampados nos noticiários da mídia escrita falada e televisionada.

Alguns governam como se não precisassem prestar contas de seu (des) governo a ninguém. É uma liberdade abusiva no sentido em que existe liberdade para exercer a função pública, mas o legislador não tem liberdade para fazer tudo àquilo que vier à cabeça, pois o cargo é público e a liberdade para exercê-lo é outorgada, já que somos um país democrático. Se não, o exercício da função pública seria ditatorial e não democrático.

Outros fazem oposição ferrenha ao governo da situação chegando ao exagero de não aprovar propostas ou medidas que beneficiam o povo que os escolheu. Sem pensar talvez, que podem estar do lado contrário simplesmente por não terem sido eleitos para os cargos que queriam e não, por possuir respostas diferentes daquelas as quais se opõe, se estivessem do outro lado da mesa. Já outros tantos se corrompem no cargo do poder por pensarem que o povo é incapaz de discernir entre certo e errado e por estarem, de certa forma, convictos que não serão punidos.

Excesso de liberdade é libertinagem e há mesmo uma liberdade excessiva por parte de políticos organizações públicas e privadas de interesses diversificados que transforma este país em uma terra sem lei, todo mundo tem o direito de reclamar e de opinar. Contudo, opiniões são caçadas, desconsideradas ou deturpadas quando estão em conflito com os interesses daqueles que detém “os poderes” neste país.

Algumas pessoas acabam sendo cerceadas em seu direito de opinar quando a opinião está na contramão dos interesses de uma minoria que transita em cada uma das instancias do poder. Minoria que pensa ser o Brasil o quintal da casa dela e que o povo e seus anseios, legitimados por sua força produtiva são simples plebeus e agregados de seus “latifúndios”. Esta minoria autoritária procura enxergar o proletariado apenas como força bruta responsável pela produção de riquezas. Riquezas, que esta minoria privilegiada continua a depositar em suas contas pessoais nos bancos estrangeiros de paraísos fiscais.

O excesso de oposição é quase uma traição política dada a proximidade do pensamento ideológico dos partidos. A maioria deles podem se fundir sem prejuízo às suas ideologias. E de certa forma o fazem através das inúmeras, estranhas e bizarras coligações presenciadas em toda época de campanha eleitoral. A oposição feita, na verdade, é mais partidária que ideológica já que a “briga”, supõe-se, é mais pela vontade de apoderar-se de uma fatia maior do “bolo do poder” que propriamente defender o interesse popular.

 O povo quer, entre tantas outras coisas, Justiça Segurança Educação e Saúde. Não somente quer, mas tem direito a todas estas coisas garantidas na constituição brasileira. Constituição, geralmente “submissa ao controle” de alguns políticos poderosos ao invés de ser “levada a efeito de causa e conseqüência” em cumprimento de justiça aos menos favorecidos.

Neste sentido, assistimos uma Justiça inexpressiva escondida atrás de montanhas de processos não finalizados devido a uma enxurrada de recursos infindáveis, uma Justiça lenta e injusta que muitas vezes, quando dá ganho de caso a determinado processo o requerente já faleceu. Outros inúmeros processos estão sem julgamento simplesmente por falta de funcionários, os que existem são insuficientes para tanto serviço.

Por vezes, muitos processos são arquivados sem julgamento porque o crime, objeto daquele processo, teve a data de julgamento prescrita. Não é raro notar que a Justiça brasileira, por vezes, é tendenciosa e “pesa” para um dos lados (nem sempre o do necessitado) demonstrando por um lado conveniência e por outro, conivência. Enquanto isso, temas relevantes e de impacto social que podem melhorar e dar mais segurança à população de bem, estão sendo discutidos no congresso nacional por políticos e técnicos do judiciário sem data de conclusão.

Convivemos com uma Segurança pública amedrontada que não se sente motivada a prender o infrator, pois não possui pleno apoio das leis, não consegue investimentos suficientes em melhores equipamentos, armamentos e pessoal. Mas pelo contrário, a segurança pública representada pelas policias federal, estadual e municipal é desmotivada pela inércia na atuação do judiciário. É desmotivada pelo melhor aparelhamento do bandido e ainda desmotivada por uma maior valorização no direito do infrator em detrimento da valorização na ação do policial e no direito do cidadão de bem.

Percebemos uma Economia pública de crescimento lento cujo legado reside em tirar mais do pobre e assalariado e menos dos ricos e poderosos, uma política econômica baseada em maior cobrança de impostos e menor corte de gastos públicos. Uma administração econômica que prefere a concentração de renda e que privilegia monopólios estatais e privados, aumentando a riqueza dos mais ricos e aumentando a pobreza dos mais pobres.

Na Saúde publica o que vemos é uma Saúde dando sinais de morte e não de vida, pois durante décadas, o dinheiro arrecadado para financiar a construção e manutenção de hospitais. Compra e manutenção de equipamentos, aumento na oferta de leitos para internação, aumento na oferta de exames de baixa e alta complexidade e aumento de salários de funcionários, tem financiado na verdade uma vida de luxo para empresários e políticos do setor.

Desta feita, o que acontece é que hospitais são sucatados, outros são fechados, salários atrasados ou não compatíveis afastam os profissionais da área medica, e o não pagamento de fornecedores, aliado à corrupção nas licitações, zeram os já minguados estoques de insumos, deixando a população sem atendimento e abandonada a própria sorte.

A Educação progrediu muito e aplaudimos isto, mas ainda esbarra em problemas regionais como atualizar a educação ao perfil regional do educando, estruturar salas de aula adequando-as ao público que a freqüenta ou ainda, investir em políticas de ensino que valoriza não só o aluno, mas principalmente o professor. Hoje há uma valorização maior em torno do aluno e menor em torno do professor.

Estamos nos acostumando com um país de analfabetos funcionais no qual grande parte dos indivíduos sabem teclar/digitar se comunicando pelas redes sociais através de seus aparelhos, mas tem dificuldade de escrever (à mão) uma redação de quinze linhas gramaticalmente aceitável, letra legível, coerência e coesão textual. Notamos a cada dia uma legislatura irresponsável exercida por uns políticos que não tem interesse em um Brasil melhor que o atual, políticos cujo interesse real na reforma educacional e em sua infra-estrutura é, digamos, mínimo.

O excesso de corrupção é o pior dos males públicos brasileiros, é uma gangrena a corroer todos os pilares das Instituições públicas. Desde o menor até ao maior político ou empresário ou homem de negócio ou lobista ou industriário. Todos estão sendo “enlameados, estão sendo alcançados e deixando-se alcançar pelas mãos, braços e abraços” da corrupção.

Ela é conseqüência da escassez de moralidade política e econômica que, permeia todos os lugares do poder em nossa pátria. A corrupção excessiva supõe-se como resultado de uma limitação na qual a justiça brasileira “estacionou-se e continua estacionada”, tornando-se incapaz de dar seguimento, para um cumprimento aceitável, de algumas penalidades determinadas em lei.

O cumprimento de penalidades como a prisão de maiores e menores infratores flagrados cometendo, ou flagrados por haver cometido crimes diversos, precisa ser um cumprimento efetivo e à altura do crime praticado para que a sociedade de bem se sinta segura, protegida e digna da confiança que deposita na Justiça e no Poder público.

Contudo, quando não prendemos e mantemos presos os infratores flagrados através de câmeras e ou de testemunhas, cometendo ou tendo cometido crimes diversos, abrimos precedentes para que o homem de bem não queira continuar vivendo moralmente no bem e ainda possibilitamos que a sociedade se torne descrente no Poder público e no cumprimento das leis. Mesmo que as leis estejam escritas e descritas nas páginas dos códigos civil e criminal guardados nas estantes das bibliotecas dos fóruns e sobre as mesas dos tribunais espalhados país afora.

O aumento da corrupção é também resultado de certa “brandura” da força policial em seus três níveis de atuação que, motivada pela lentidão e omissão do judiciário, termina por “deter bandidos com luvas de pelúcia e encarcerá-los, quando ‘ilustres’, em mansões e palácios”, distantes da realidade de moradia na qual vivem os trabalhadores e homens de bem que sustentam moral e economicamente esta nação.

A corrupção demasiada que assola o Brasil aumenta à medida que aumenta a carência de homens e mulheres justos e moralmente estruturados em seus pensamentos e atitudes, em seus modos de ser e de viver. Pois o estado de corrupção faz parecer que todas as pessoas, ricas ou pobres só pensam em se dar bem, em levar vantagem em tudo.

O fluxo crescente de corrupção é por assim dizer, resultado da carência de Deus no coração de homens e mulheres. É resultado de uma falta crônica de moralidade, parece que o sujeito já “nasce imoral e preparado para dar rasteira” em todo mundo.

Há um excesso de mulheres e homens públicos autoritários e uma deficiência de mulheres e homens públicos altruístas. Que ao invés de defenderem os próprios interesses passe a defender o interesse de terceiros, principalmente o interesse do pobre e do desfavorecido. Faltam homens e mulheres que defendam os pobres, mas que os defendam baseados em sentimentos altruístas e não egoístas. Mas parece que políticos e poderosos que exercem influência sobre nossa nação, defendem somente interesses próprios e se lembram do povo apenas na época de pedir votos e aplausos.

Portanto, a corrupção se torna mais nociva porque destrói no âmago, no íntimo, aquilo que é mais sagrado e valioso ao ser humano. A corrupção possibilita a destruição da inocência moral e política e de outros ideais nobres no ser humano como a justiça, a dignidade e o respeito pelo próximo.

A corrupção corrompe a esperança e a fé em Deus, nas instituições e nos outros homens. Homens outros, que são escolhidos para os governos deste país, com a obrigação e o dever sagrado de zelar por Justiça, Dignidade e Respeito na defesa dos fracos e oprimidos, que é a maior parcela de cidadãos constituinte desta Pátria varonil.

Portanto, parafraseando o Ex-Presidente João Goulart, resta-me dizer que a sociedade brasileira está sendo solapada em sua base Moral, Política, Social e Econômica por três grandes ondas: O excesso de liberdade, o excesso de oposição e o excesso de corrupção. Todas são prejudiciais ao desenvolvimento sadio da política, da economia e da sociedade. Mas das três, a ultima é mais nociva aos interesses do país e dos brasileiros.


  Geraldo Gerraro Goulart.